terça-feira, 28 de abril de 2020

Até Tu, Moro?

Fábio Chazyn

O ideário político de reformar o sistema judiciário para coibir a corrupção levou Brutus a cometer a grande traição.

“Sic semper tyrannis” foi o que Júlio Cesar, o autointitulado “Perpétuo Ditador”, ouviu do seu amigo traidor quando lhe enfiou-a-faca, alegando que era o que ele merecia por ter traído a “causa popular”. “Esse é destino dos tiranos” - também foi o que Abraham Lincoln ouviu de John Wilkes Booth, o ator traiçoeiro que o alvejou enquanto assistia à peça “Júlio Cesar” na platéia de um teatro de Nova York, acreditando que o presidente era um traidor por afirmar, o que ele achava imoral, que os negros seriam iguais aos brancos...

A traição, o pior dos pecados segundo a Divina Comédia, é punida com o pior dos castigos. O de ser mastigado pelo Diabo eternamente na única câmara gelada do Inferno. Na descrição de Dante, Brutus era quem ele viu numa das três bocas do Diabo.

Se tivesse vivido no século XIX, Dante teria visto também o algoz de Lincoln, pois este é o destino merecido de todos os traidores, sejam eles “puros ingênuos ou mal-intencionados”. Não iriam para o inferno porque tinham opiniões polêmicas sobre a desigualdade racial ou sobre a melhor estrutura política, como Júlio Cesar ou Abraham Lincoln, mas sim pela maior das imoralidades, a da traição seguido de morte, como Brutus ou Booth.

Este último também não é o caso do juiz Sérgio Moro. Porém não foi certo alegar circunstâncias especiais para justificar o uso de meios imorais em nome da defesa da moral. Assumindo uma posição hierarquicamente subordinada, é credível que Sergio Moro achava que teria, mesmo assim, a garantia de que poderia realizar o idílio de seu ideário? Ou será que ele não estava maduro o suficiente para entrar na “política”? Será que não se lembrou das desventuras quixotescas do herói que nunca chega ”lá”? O que levou Moro a tentar cruzar o Rubicão sozinho? As aventuras de “heróis” têm alguma chance de relevância na nossa História?

Os ideais que inspiraram Brutus e Júlio Cesar vinham de longe. Pagaram caro por não terem entendido que a polêmica também vinha de longe. Eles não entenderam que a História não depende da ação de um homem ou de um grupelho deles. Uma andorinha só não faz verão; é preciso de todas elas. Os destinos de Brutus e de Júlio Cesar estavam traçados. No cada-um-p’ra-si, dividiram as suas forças e facilitaram a vitória dos inimigos do povo.

Assim como eles, outros que tentaram defender o povo, sem o povo, tiveram o mesmo destino. Os jacobinos da revolução francesa ou os bolcheviques da revolução russa tinham um bom discurso, mas pagaram por não terem compreendido que cidadania não se delega. Um cidadão pode ter representantes, mas o exercício da cidadania, não. Um cidadão tem direitos, que podem ser reclamados por outrem. Mas as suas responsabilidades, não.

Já é hora dos candidatos-a-heróis aprenderem a lição da História. Idealistas divididos acabam sempre abrindo portas para oportunistas bem versados na retórica da “causa popular”, sempre prontos para usurpar o poder e trair o povo. Este sim também pecado capital.

O momento não é para tentar reinventar-a-roda e repetir as burrices dos idealistas politicamente imaturos. O momento é de aprender com o passado. É de fazer a melhor opção no projeto de Nação que queremos construir. É de definir um plano estratégico p’ra chegar lá.

Este exercício de cidadania envolve toda a sociedade, sem delegação a terceiros, por ser responsabilidade de cada um. O ponto-de-partida mais didático é recolher opiniões sobre como seriam os termos de uma Constituição Federal que enseje futuro com prosperidade para os brasileiros.
Muitas opiniões já estão em ponto de serem apresentadas pela sociedade para a sociedade, diretamente. Sem representantes intermediários.

É a chance que as técnicas de Inteligência Artificial Coletiva* nos trouxeram. É a chance que a Internet trouxe para dar Voz a todos os brasileiros.

Precisamos que o mandatário da Nação dê o tiro-de-partida e que pare de dar-tiro-no-pé!

Link para visualizar ANOR em entrevista hipotética a Will Smith sobre o Canal do Cidadão: https://www.youtube.com/watch?v=crbGeHz0St4  ou escanei o QR Code abaixo.

Fabio Chazyn, autor dos livros “Consumo Já! Projeto Vale-Consumo” (2019) e “O Brasil Tem Futuro? Projeto A.N.O.R. – Inteligência Artificial Coletiva” (2020)   https://clubedeautores.com.br/livro/o-brasil-tem-futuro

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