quinta-feira, 28 de maio de 2015

O Plano Marshall e a Petrobras

Hélio Duque

No pós-guerra, foi a fundamental alavanca para a reconstrução da Europa Ocidental.  O general George Marshall, coordenador da indústria bélica norte americana durante a II guerra, nos tempos de paz, seria responsável pelo Plano Marshall que reergueria a economia europeia. O programa implantado, até 1951, teve o custo de 13 bilhões de dólares. Atualizando aqueles valores para os dias atuais, equivaleria a 110 bilhões de dólares.

Dois terços investidos na reconstrução da infraestrutura da Alemanha Ocidental. Levando paralelamente a atração dos investimentos privados, ancorados em reforma monetária estabilizadora, executada pelo notável economista Ludwig Erhard, ministro da Economia e criador da economia de mercado social, base fundamental para o reerguimento da República Federal da Alemanha, até os dias atuais. O general George Marshall, em 1953, receberia o prêmio Nobel da Paz.

Essa introdução é para levar o caro leitor a fazer, conscientemente, reflexão sobre o desastre que atingiu a Petrobrás. No seu balanço do primeiro trimestre de 2015, registrou dívida líquida de 332 bilhões de reais. Em dólares, equivale ao montante dos recursos aplicados pelo Plano Marshall na reconstrução europeia.

No “Relatório da Administração e Demonstrações Contábeis Auditadas”, 2014, oficializado pela empresa, os números são impressionantes. Li, com enorme atenção, o balanço da estatal e nele se expressa ativos imobilizados no valor de 580 bilhões de reais. Os financiamentos para amortização do endividamento têm escala variável de 1 a 5 anos, sendo aproximadamente 80% em dólar.

Os investimentos temerários são citados, dentre outros o das refinarias Premium I (no Maranhão) e Premium II (no Ceará), projetos desativados por serem inviáveis, representando prejuízo de 2.825 bilhões. No Japão, a refinaria de Okinawa, comprada na gestão Gabrielli, com capacidade para processar 100 mil barris/dia, vai ter suas atividades encerradas por inviabilidade econômica. A refinaria de Pasadena no Texas, não merece considerações. Outros investimentos desastrosos são mencionados, destacadamente as investigações na operação da lava jato.

O relatório destaca: “Ao longo de 61 anos, construímos uma trajetória de superação de desafios. Tornamo-nos líderes mundiais em tecnologia para exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas onde estão cerca de 90% das nossas reservas”.

A indiscutível competência técnica dos profissionais de carreira são responsáveis e construtores dessa Petrobrás que orgulha os brasileiros. Infelizmente levada a viver no presente, o inferno astral que estamos assistindo. A sua ressurreição ocorrerá nos anos próximos, se a interferência descabida e incompetente do governo Dilma Rousseff não atrapalhar.

Impedindo o aparelhamento da estrutura administrativa como empreguismo terceirizado. A título de exemplo, a nova diretoria descobriu estarrecida que o setor de comunicação, dirigido por 12 anos pelo sindicalista Wilson Santarosa (já demitido), tinha 1.146 funcionários contratados. No Banco do Brasil, o setor tem 105 servidores; na Vale, são 46. Retrata o empreguismo irresponsável.


O futuro da Petrobrás está na expansão da exploração das reservas do pós e do pré-sal. Equacionar os desafios para aumentar as reservas e sustentar o patamar de produção, ante uma dívida líquida estratosférica, precisará buscar investimentos em diversas fontes de financiamento, O seu fluxo de caixa para enfrentar novas operações é insuficiente no presente.

Felizmente a diretoria atual tem consciência dessa realidade: “Um novo rebaixamento do ranking de crédito da companhia pode resultar em um mercado menos líquido para a dívida”. Na contra mão e dirigindo um carro sem freio, a presidente da República parece desconhecer o que o seu governo fez com a empresa.

Em Pernambuco, em cerimônia de inauguração de dois navios petroleiros, desautorizou o ministro Eduardo Braga, das Minas e Energia, que defende mudanças na lei de petróleo. Também defendida pela diretora da ANPL (Agência Nacional do Petróleo), Magda Chambriard. E timidamente, mas na mesma perspectiva, pela diretoria da Petrobrás.

Hoje o regime de partilha obriga a empresa a ter 30% de cada campo do pré-sal e ser a principal operadora. Ocorre que não existe dinheiro para a sua execução, transformando o que seria um “bônus” em obstáculo na exploração da riqueza tão necessária para a economia brasileira. A mudança é imperativa. Igualmente na política de conteúdo nacional que vem prejudicando a Petrobrás e o setor petrolífero, com preços muito acima dos praticados no mercado internacional.

Para Dilma Rousseff, elas são imexíveis: “Podem contar, no meu governo, será mantido”. O jornalista Elio Gaspari (O Globo, 17-05-2015), ironiza: “A doutora sabe que o futuro a Deus pertence, mas, no presente, seu governo marqueteia essa política enquanto quatro encomendas feitas a produtores nacionais já foram substituídos por unidades importadas com cerca de 80% de conteúdo nacional japonês ou de Cingapura. São importadas pelas empresas que deveriam construí-las”.

Em síntese: no dialeto dilmês a realidade não importa, vale o poder da incompetência e arrogância que agride a sociedade brasileira e nela a Petrobrás é a grande vítima.

Helio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

Comentário do blog: somente no setor de comunicação, a Petrobras tinha, pasmem, 1.146 pessoas na folha de pagamento. Pelo menos mais de 1.000, desnecessários.
E no restante da empresa, quantos são ?
Assim, não há empresa que de lucro, nem sequer uma que explora petróleo.
Mas, o sindicalismo pelego penhoradamente agradece e se alguém quiser mudar esta situação, será considerado, no mínimo, golpista. 

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