Rodrigo Constantino
Os EUA são a potência que são graças ao livre mercado, à mentalidade que enaltece o lucro e o individualismo dentro de certos limites éticos
“Mais importante que as riquezas naturais são as riquezas
artificiais da educação e tecnologia”, disse Roberto Campos. Estava certo, como
em quase tudo mais. O Brasil é um país rico em recursos naturais, mas isso não
se reverte em riqueza efetiva para a população, em boa parte porque muitos
acham que basta delegar ao governo a gestão desses recursos que tudo será uma
maravilha. O petróleo é nosso! Ledo engano.
Estou morando na Flórida por um tempo, em Weston, uma cidade mais afastada criada do nada, bem ao lado de Everglades. Ou seja, vivo agora no pântano, sem recursos naturais, perto dos crocodilos. Não obstante, há muita riqueza aqui, as coisas funcionam extremamente bem, a ponto de eu me sentir no Truman Show às vezes. Como pode?
Os antiamericanos de plantão repetirão as falácias de sempre: que a riqueza deles veio das guerras, ou da exploração de outros povos, ou de seu governo. Tudo falso. Os Estados Unidos são a potência que são graças ao livre mercado, à mentalidade que enaltece o lucro e o individualismo dentro de certos limites éticos, sem “malandragem” ou “jeitinho”, e sim com amplo respeito ao império das leis. Os empreendedores fizeram esta nação, em um ambiente amigável a eles, e não hostil como no Brasil, que trata o sucesso individual como pecado e adora a vitimização.
Com Obama, as coisas mudaram para pior aqui, mas a cultura capitalista sobrevive. Os americanos nunca olharam para o governo, historicamente falando, como solução para tudo. Na maior parte das vezes, ele era o problema. Liberdade com responsabilidade individual e punição severa para quem descumpre as regras do jogo: eis o modelo que funciona. É por isso que posso deixar meu carro na rua e minha porta de casa destrancada, ou voltar de um jantar às 23h com o vidro do carro aberto sem preocupação.
“Segundo Marx, para acabar com os males do mundo, bastava distribuir; foi fatal; os socialistas nunca mais entenderam a escassez”. Cito Campos novamente, pois o grande mal do Brasil é crer na riqueza como um jogo de soma zero, onde João é pobre porque Paulo é rico. É essa crença estúpida que leva a tanto intervencionismo estatal, a tanto imposto “distributivo”, que acaba punindo quem cria riqueza e, com isso, todo o país, especialmente os mais pobres.
A faxineira diarista chegou aqui em casa dirigindo um carro que é considerado de luxo no Brasil. Ela não precisa do Estado-babá para protegê-la dos patrões “exploradores”. Ela tem sua própria agenda de clientes, e fatura mais no mês do que muito médico no Brasil. Mas em nosso país ainda achamos que é o Estado que vai cuidar de todos, e que os sindicatos, esses antros de oportunistas, realmente se preocupam com os trabalhadores.
“No meu dicionário, ‘socialista’ é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados, adora ser generoso com o dinheiro alheio, e prega igualdade social, mas se considera mais igual que os outros...”. Mais Roberto Campos, pois ele estava certo. Em nome desse igualitarismo, o que construímos no Brasil? Um dos países mais desiguais do mundo, e não porque alguns têm mais mérito, e sim porque a casta no poder distribui privilégios de forma totalmente arbitrária.
Trabalhamos quase até a metade do ano só para pagar impostos e sustentar uma classe em boa parte parasitária. O que temos em troca? Absolutamente nada! Ou, por outra: temos um dos maiores índices de violência do mundo, uma infraestrutura capenga, péssima “educação” pública (doutrinação marxista) e falta de saúde básica para os mais necessitados. E o que pregam as esquerdas, que nunca aprendem com os fatos? Mais Estado! Mais impostos!
Por isso digo que o Brasil cansa. Esse texto é um desabafo sim, mas não deve ser confundido com um fatalismo pessimista. Ao contrário: ao esfregar essas verdades incômodas na cara dos brasileiros, meu objetivo é mostrar que podemos mudar, que temos sido negligentes, pacatos, acomodados ao deixarmos essa esquerda destruir nosso país e inverter nossos valores. Vamos todos morar nos Estados Unidos agora? Ou vamos lutar para transformar o Brasil num país melhor, de primeiro mundo?
Se é isso que desejamos, então teremos que mudar a mentalidade vigente, combater o excesso de “malandragem”, o culto do coitadinho, esse ranço marxista que nos assola. E claro, apear essa quadrilha disfarçada de partido do poder, pois o PT pode não ser a causa de todos os problemas, mas é, sem dúvida, o maior sintoma desse câncer estatizante e populista que tomou conta do Brasil e parece em estágio de metástase.
Rodrigo Constantino
Economista e presidente do Instituto Liberal
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