Carlos
Newton
De repente, o governo descobriu que
há graves problemas em um dos mais importantes setores da economia, a indústria
imobiliária, que é inteiramente dominada por empresas nacionais, garante
milhões de empregos de mão de obra pouco qualificada e só utiliza matérias-primas
e produtos manufaturados made in Brazil.
Já faz alguns anos que estamos
advertindo aqui na Tribuna da Internet sobre a formação da bolha imobiliária
brasileira, que é muito peculiar, porque difere das que explodiram no colo dos
governos do Japão e dos Estados Unidos na década passada e até hoje causam
problemas.
No caso do Brasil, como nosso sistema
de compra e venda não inclui a possibilidade de hipotecas sucessivas, a bolha
existe, mas não estoura. Vai esvaziando bem devagarinho, mas neste longo
processo acaba fazendo milhões de vítimas, com empresas parando os
investimentos e até indo à falência, o que aumenta o número de desempregados e
espalha a crise para os fornecedores de matérias-primas e equipamentos. Além
disso, muitos mutuários são obrigados a devolver imóveis ou revendê-los a preço
vil, por não conseguirem arcar com o pagamento das prestações.
Quando publicamos as primeiras
matérias na TI, houve muitos comentários negativos, enviados por pessoas que
estavam eufóricas com a meteórica avaliação de seus imóveis, o movimento ainda
era de empolgação, embora as empresas do setor já estivessem exauridas e
lutando para retardar a paralisação das vendas.
GOLPE
DA PIRÂMIDE
O fenômeno imobiliário funcionou como
o golpe da pirâmide. Quando o governo foi reduzindo a taxa de juros, muitos
rentistas abandonaram os fundos e migraram para a compra de imóveis, causando
aumento da demanda e alta dos preços, que realmente dispararam, em todo o país.
Mas tudo tem limite. E quem compra por último fica com o mico/prejuízo na mão.
A crise começou em 2011 e as
entidades representativas do setor passaram a seguir o exemplo do governo,
caprichando na maquiagem das estatísticas, com apoio irrestrito da grande
mídia, que tem no mercado imobiliário um de seus principais anunciantes.
Dizia-se, enganosamente, que a realização da Copa era garantia real da
valorização dos imóveis. Tudo conversa fiada, enquanto as empresas espertamente
passavam a investir em cidades de porte médio, mas o mercado delas também logo
se esgotou.
Aqui no Rio, depois da Copa passaram
a usar o argumento da Olimpíada, mas o mercado continuou deprimido. Começaram
então as grandes promoções, com abatimentos e ofertas espetaculares. A empresa
Rossi dava R$ 60 mil de desconto na venda de qualquer imóvel, residencial ou
comercial. Outras concorrentes chegaram a ponto de oferecer um automóvel zero
quilômetro na garage ou a decoração completa do imóvel. Mesmo assim, as vendas
não se recuperaram.
DESEMPREGO
EM ALTA
A crise é cada vez mais profunda. As
estatísticas recentes mostram que de fevereiro/2014 a fevereiro/2015 a
indústria da construção civil fechou cerca de 222 mil postos de trabalho. É
claro que já não se trata apenas do setor imobiliário, agora também as
empreiteiras estão com o pé no freio.
O governo só percebeu o problema
quando afetou seu braço eleitoral imobiliário, o programa Minha Casa, Minha
Casa, porque a Caixa Econômica não tem mais recursos disponíveis para mantê-lo,
há muita inadimplência, a confusão é geral. A equipe econômica (leia-se:
Joaquim Levy) quer buscar recursos no FGTS e liberar depósitos retidos no Banco
Central, mas em volume menor do que o pedido pelas construtoras, para não
pressionar a inflação.
Sonhar não é proibido. Garantir mais
recursos ao setor (fala-se em R$ 40 bilhões) só vai maquiar ainda mais a crise,
porque o que na verdade falta são compradores. Os preços dos imóveis ainda
estão caindo muito devagar, devido à manipulação das supostas tabelas de
cotação nas grandes cidades, ardilosamente feitas mediante o valor das ofertas
nos classificados e não com o preço real da venda nos cartórios.
A lei da oferta e da procura,
infelizmente, não é passível de ser derrubada por decreto, mas a economista
Dilma Vana Rousseff não sabe disso, certamente porque faltou a esta aula em seu
inconcluso curso de doutorado. Mas se ela não tinha feito mestrado, como podia
estar fazendo doutorado? Não dá mesmo para entender…
Carlos
Newton
Editor
da Tribuna da Internet
17.05.2015
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