segunda-feira, 18 de maio de 2015

A BOLHA IMOBILIÁRIA (QUE NÃO EXISTIA) AGORA DESAFIA O GOVERNO

Carlos Newton

De repente, o governo descobriu que há graves problemas em um dos mais importantes setores da economia, a indústria imobiliária, que é inteiramente dominada por empresas nacionais, garante milhões de empregos de mão de obra pouco qualificada e só utiliza matérias-primas e produtos manufaturados made in Brazil.

Já faz alguns anos que estamos advertindo aqui na Tribuna da Internet sobre a formação da bolha imobiliária brasileira, que é muito peculiar, porque difere das que explodiram no colo dos governos do Japão e dos Estados Unidos na década passada e até hoje causam problemas.

No caso do Brasil, como nosso sistema de compra e venda não inclui a possibilidade de hipotecas sucessivas, a bolha existe, mas não estoura. Vai esvaziando bem devagarinho, mas neste longo processo acaba fazendo milhões de vítimas, com empresas parando os investimentos e até indo à falência, o que aumenta o número de desempregados e espalha a crise para os fornecedores de matérias-primas e equipamentos. Além disso, muitos mutuários são obrigados a devolver imóveis ou revendê-los a preço vil, por não conseguirem arcar com o pagamento das prestações.

Quando publicamos as primeiras matérias na TI, houve muitos comentários negativos, enviados por pessoas que estavam eufóricas com a meteórica avaliação de seus imóveis, o movimento ainda era de empolgação, embora as empresas do setor já estivessem exauridas e lutando para retardar a paralisação das vendas.

GOLPE DA PIRÂMIDE
O fenômeno imobiliário funcionou como o golpe da pirâmide. Quando o governo foi reduzindo a taxa de juros, muitos rentistas abandonaram os fundos e migraram para a compra de imóveis, causando aumento da demanda e alta dos preços, que realmente dispararam, em todo o país. Mas tudo tem limite. E quem compra por último fica com o mico/prejuízo na mão.

A crise começou em 2011 e as entidades representativas do setor passaram a seguir o exemplo do governo, caprichando na maquiagem das estatísticas, com apoio irrestrito da grande mídia, que tem no mercado imobiliário um de seus principais anunciantes. Dizia-se, enganosamente, que a realização da Copa era garantia real da valorização dos imóveis. Tudo conversa fiada, enquanto as empresas espertamente passavam a investir em cidades de porte médio, mas o mercado delas também logo se esgotou.

Aqui no Rio, depois da Copa passaram a usar o argumento da Olimpíada, mas o mercado continuou deprimido. Começaram então as grandes promoções, com abatimentos e ofertas espetaculares. A empresa Rossi dava R$ 60 mil de desconto na venda de qualquer imóvel, residencial ou comercial. Outras concorrentes chegaram a ponto de oferecer um automóvel zero quilômetro na garage ou a decoração completa do imóvel. Mesmo assim, as vendas não se recuperaram.

DESEMPREGO EM ALTA
A crise é cada vez mais profunda. As estatísticas recentes mostram que de fevereiro/2014 a fevereiro/2015 a indústria da construção civil fechou cerca de 222 mil postos de trabalho. É claro que já não se trata apenas do setor imobiliário, agora também as empreiteiras estão com o pé no freio.
O governo só percebeu o problema quando afetou seu braço eleitoral imobiliário, o programa Minha Casa, Minha Casa, porque a Caixa Econômica não tem mais recursos disponíveis para mantê-lo, há muita inadimplência, a confusão é geral. A equipe econômica (leia-se: Joaquim Levy) quer buscar recursos no FGTS e liberar depósitos retidos no Banco Central, mas em volume menor do que o pedido pelas construtoras, para não pressionar a inflação.

Sonhar não é proibido. Garantir mais recursos ao setor (fala-se em R$ 40 bilhões) só vai maquiar ainda mais a crise, porque o que na verdade falta são compradores. Os preços dos imóveis ainda estão caindo muito devagar, devido à manipulação das supostas tabelas de cotação nas grandes cidades, ardilosamente feitas mediante o valor das ofertas nos classificados e não com o preço real da venda nos cartórios.

A lei da oferta e da procura, infelizmente, não é passível de ser derrubada por decreto, mas a economista Dilma Vana Rousseff não sabe disso, certamente porque faltou a esta aula em seu inconcluso curso de doutorado. Mas se ela não tinha feito mestrado, como podia estar fazendo doutorado? Não dá mesmo para entender…

Carlos Newton

Editor da Tribuna da Internet

17.05.2015

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