quarta-feira, 10 de abril de 2019

Militares nacionalistas

Martim Berto Fuchs

Difícil mudar um país que começa errado.

A elite que dominou a república recém proclamada era a mesma que dominava o Império: preguiçosa, admiradora do ócio, da boa vida e dos produtos importados; acabou tornando-se subornável e corrupta, por pura conveniência.
Nossa elite nunca teve espírito empreendedor, pois isto implicava em trabalhar duro para conseguir algo. Era mais prático viver as custas do governo, e comprar pronto do exterior aquilo de que precisava.
As empresas privadas de que qualquer país necessita se quer se tornar uma nação próspera, eram também importadas, prontas, tendo nossas elites, quando muito, os cargos de gerente.
Pagávamos royalties para o exterior para extrair água do solo e para transportar pessoas em bondes de tração animal.

Não admira que pessoas contrárias à este estado de coisas se revoltassem. A maioria dos nossos militares é oriunda das classes menos favorecidas, que nunca olharam com bons olhos para essas anomalias.

Trinta anos depois da república aconteceu a primeira revolta dos militares, e motivos não lhes faltavam. Depois de 1922 as revoltas se sucederam e pelos mesmos motivos: a falta de iniciativa das nossas elites, que terceirizavam toda iniciativa privada para empresários do exterior.

Deste cenário começaram a surgir as empresas estatais, nacionais, dominadas inicialmente por militares. Estratégicas ? Se o foram no início, não o são mais, principalmente após o término da guerra fria.

A índole das nossas elites, preguiçosa, subornável e corrupta, que não obstante sempre viveu muito bem, independente das condições do povo, que quase sempre viveu mal, teve outra conseqüência, além dos militares nacionalistas, e esta, trágica: as idéias socialistas. Até Getúlio Vargas combateu este câncer, mas ele ficou incubado, esperando o momento, pois nossa cultura não mudou.

Foi depois da crise de 1982, causada pelo segundo choque do petróleo em 1979, e que também elevou os juros internacionais à mais de 20% a.a. sobre uma dívida contratada à juros baixos, que o capitalismo de estado do governo não pode mais honrar seus compromissos externos, arrastando consigo todas empresas privadas que acreditaram no desenvolvimento à base de empréstimos. Praticamente toda indústria privada nacional, ainda incipiente, acabou ali.

Em cima desta desgraça que foi a crise da dívida, como não poderia deixar de acontecer, renasceu o socialismo, que sempre se alimentou da miséria.

Depois de 1985 o socialismo começou por tomar conta das escolas públicas, criando uma legião de alienados mentais, incapazes de pensar fora do consenso de manada. Se formaram, se empregaram aos milhares no setor público, unindo-se à elite já há décadas encostada, e formaram este Estado paquidérmico que a sociedade não mais agüenta carregar.

Esta mentalidade nacionalista estatizante, que se em algum momento teve sua razão de ser, tem que ser abandonada. Já foi abandonada no mundo inteiro, até na China de Mao Tse Tung, que manteve um governo autoritário, mas na economia aderiu ao mercado.

Foi na educação que começou a tragédia socialista e é na educação que ela terá que ser revertida. Paralelamente, não adianta acreditar que liberalismo é solução, pois não é. Liberalismo clássico trará de volta o socialismo, pois um não sobrevive sem o outro; são faces da mesma moeda.

Livre iniciativa, capitalismo, poupança interna via Fundo de Investimento e Previdência Social para alavancar a empresa nacional, e repartição dos resultados de toda produção em partes iguais entre capital e trabalho.

Isto só será possível mediante um novo Contrato Social, começando pelo sistema eleitoral, hoje dominado por organizações criminosas também conhecidas por partidos políticos, e toda estrutura de poder que isto acarretou.


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