domingo, 21 de junho de 2015

Projeção astral - Vagando pelo céu

Saulo Calderon

14 de dezembro de 1979, sexta-feira. Terceiro sono às 11 horas e 4 minutos da noite.

Temperatura ambiente, 26 graus. Umidade, 50%. Deitei-me do lado esquerdo, sem nenhuma coberta por cima. O ar condicionado indireto funcionava no escritório.
Minhas reminiscências começam quando me vi sozinho, infinitamente livre em pleno espaço. O meu processo interpretativo de raciocínio e inteligência mostrava-se agudo com enorme potencial autocrítico. Não percebia nenhuma incongruência, incoerência ou anacronismo nas circunstâncias.

Conhecia e sabia indiscutivelmente que estava projetado. Como chegara até ali? Que acontecera? Não sei dizer.
Olhei para o alto e vi a Lua, mais nítida e maior à frente, e deu me a vontade de voar em sua direção. Comecei a cruzar o espaço rumo àquele astro com incrível velocidade.

Sentia que a Terra ficava pequenina atrás de mim. Via algumas estrelas. Olhei para trás e me senti tão só e insulado no espaço imenso que resolvi voltar imediatamente, desistindo do trajeto pré-selecionado, a idéia-alvo de atingir a Lua. Tinha a certeza de que, se quisesse, estaria lá em pouco tempo.

Retornando em grande velocidade, fui rompendo algumas nuvens, igual a um avião que descesse procurando um campo de pouso improvisado. Sai em cima do topo de vários prédios e edifícios. Um deles, mais baixo, tinha ameias. Desci mais e vi que era a torre mais alta de um castelo. Estava deserto lá em cima, a noite apresentava-se profunda e tranquila. Sobressaiam luzes esparsas de cidade. Não estava no Brasil. Dali passei em cima dos telhados de vários prédios e depois desci até uma das ruas. O lugar desusado para mim era agradável, parecendo presépio bem construído e limpo.

Havia calma na via pública em plena noite alta. Poucos carros circulavam pelo calçamento, em certos trechos empedrados. Em uma ou outra casa térrea havia luz. Perto de praça triangular se ajuntavam seis táxis estacionados. Não eram veículos brasileiros, parecendo modelos antigos, diferentes. Próximo aos carros, uma casa noturna mantinha o luminoso aceso. Não o li. Ao deslizar pela rua, o espírito de uma senhora, junto com outra entidade de aparência feminina, fez reparo à minha fisionomia extrafísica. Não saberia dizer que idioma falavam naquele lugar. Entendi os pensamentos das desencarnadas. Examinei eu mesmo e vi que estava inteiro, bem conformado, trajando a blusa do pijama azul claro com três bolsos. Não achei nada de especial. Talvez tenha sido o uso da gola cavada ou algum reflexo visível do cordão de prata. O que aconteceu depois, não me recordo. Sei que recebi sugestão de alguma origem imprecisa para voltar ao físico. O meu controle mental sofria forte abalo. Suponho que volitei rapidamente até o apartamento, porém não tenho lembranças disso.

Minha memória recomeça quando me despertei. Estava do lado esquerdo, sentia-me enregelado e com o nariz obstruído, numa condição de meia-sufocação. Mudei de posição, fui até o banheiro e voltei ao leito. Consultei o relógio, 11 minutos depois da meia-noite, e o termômetro, 26 graus, tudo isso seguindo os meus hábitos rotineiros das projeções. Deitei-me do lado direito para dormir de novo, envolvendo-me numa coberta branca. Ao encostar a cabeça no travesseiro, as reminiscências vieram-me fragmentariamente. Sem dúvida, a condição fria do físico impôs o retorno, prejudicando-me o despertar e a rememoração. Isso é raro acontecer comigo. A projeção no espaço, a longa distância, contribuiu para enregelar o corpo de carne e ossos? Acho que não. A temperatura máxima desta sexta-feira foi a maior da primavera, 39,5 graus centígrados. Este foi um caso típico de rememoração retardada, o que constitui exceção dentro dos processos mnemônicos comuns.





Nenhum comentário: