Carlos Newton
Aconteceu nesta terça-feira, 9 de
junho, um fato intrigante na mídia brasileira. Era um dia morno, sem notícias
bombásticas, em que o governo tentava criar “agenda positiva” relançando velhos
projetos anunciados há anos no setor dos transportes, mas que jamais saíram do
papel.
A principal notícia do dia era o fato
de Lula ter recebido R$ 4,5 milhões de uma empreiteira envolvida na Lava Jato,
a Camargo Corrêa, mas esta ligação do ex-presidente com empreiteiras e grandes
empresários realmente nem significa novidade. É fato público e notório.
Eis que de repente, no início da
tarde, o senador Fernando Collor (PTB-AL) sobe à tribuna e faz um discurso
demolidor contra o procurador-geral da República Rodrigo Janot, acusando-o de
acobertar os crimes cometidos pelo irmão dele, Rogério Janot Monteiro de
Barros, estelionatário internacional procurado em todo o mundo pela Interpol.
Depois, desceu a detalhes, dizendo
que o procurador-geral usou uma
casa em Angra dos Reis, no Condomínio
Praia do Engenho, Km 110, da Rodovia Rio-Santos, para esconder outro
estelionatário, sócio do irmão dele, acrescentando que Janot alugava o imóvel a
ele sem contrato, para sonegar Imposto de Renda.
FESTIVAL DE ACUSAÇÕES
Foi um festival de denúncias. Collor
disse que o irmão Rogério Janot fez fortuna por um período no Brasil vendendo
equipamentos de informática com “notas frias” para uma grande empreiteira
mineira (Mendes Júnior) que está envolvida na Operação Lava-Jato, com
dirigentes já presos.
Depois de acusar o procurador-geral até
de dar uma “carteirada” para reduzir o valor de uma conta hospitalar do irmão
Rogério, Collor disse também que Janot há anos presta serviços ilegais para o
escritório do ex-procurador-geral Aristides Junqueira.
“É verdade que, mesmo impedido de
advogar, o senhor – claro, sem nada assinar – obtém lucros auxiliando a banca
do Dr. Aristides Junqueira? Sr. Janot, isto é moralmente aceitável? É legítimo?
É ético, Sr. Janot? Não constitui crime um procurador-geral da República
advogar paralelamente?”, perguntou Collor, indagando também se Janot teria
coragem de ser acareado publicamente com algumas testemunhas desses fatos.
UM SILÊNCIO MORTAL
O que se estranha é o silêncio mortal
que cercou o episódio. Um discurso da tribuna do Senado, com tamanhas
acusações, num dia morno, deveria ser destaque em todos os noticiários, mas
aconteceu exatamente o contrário. O único blog a publicar foi a Tribunal da
Internet. Nos grandes portais de notícias (Folha, Estadão, Correio Braziliense,
Agência Brasil, O Globo, Valor, O Tempo), nenhuma menção ao discurso.
Às 22h20 de terça-feira, dei uma
geral na internet. Além da nossa matéria na Tribuna, só encontrei a notícia,
discretíssima, na agência Senado, sob o título singelo de “Fernando Collor
resgata fatos da vida do irmão de Janot”. Além disso, apenas uma reprodução do
texto do Senado no site do jornal de Luzilândia, uma cidade do Piauí, e a
transcrição do discurso no site Conversa Afiada, que deve ter recebido cópia
enviada pela assessoria do senador. Quarta-feira, dei nova busca. Foi o mesmo
resultado. apenas acrescido de uma matéria no 247, a grande mídia sepultou o
assunto.
ISSO NÃO É JORNALISMO
Mas por que este boicote a uma
matéria tão importante? A única explicação é o fato de que os jornalistas
desprezam tanto Collor que não aceitam tomar conhecimento de denúncias feitas
por ele.
Mas isso não é jornalismo. Não sei em
que faculdade conquistaram o diploma, mas, sinceramente, não aprenderam o que é
jornalismo. Collor fez muita loucura, perdeu a presidência, ficou oito anos afastado,
sua dignidade rolou ladeira abaixo etc. Tudo isso é sabido. Mas uma coisa nada
tem a ver com a outra.
Para o jornalista, não interessa se
Collor está revidando, por ter sido incluído no processo por Janor. Isso faz
parte da matéria, mas o jornalista não se pode esquecer que, ao fazer esse tipo
de denúncia, Collor está prestando um serviço à nação, mostrando que Janot não
pode ser reconduzido à Procuradoria-Geral. E isso tem muita importância, a
imprensa não pode se reservar o direito de esconder tais fatos. O resto é
folclore, não é jornalismo.
Carlos
Newton
é editor da Tribuna da Internet.
Nenhum comentário:
Postar um comentário