por Fernão Lara Mesquita
Não é a primeira mas vale pela qualidade da fonte: Henry Paulson,
ex-Goldman Sachs e o homem que comandou o turn around da crise
financeira mundial de 2008 como Secretário do Tesouro norte-americano, está
lançando um novo livro sobre a China em que afirma que não é uma questão de “se”
mas sim de “quando” haverá na economia chinesa um estouro de proporções
(e causas) semelhantes ao que ocorreu na economia americana, com pesadas
repercussões pelo mundo afora.
Paulson foi um dos primeiros executivos ocidentais a aprofundar laços de
ligação com a economia chinesa através de um esforço concentrado iniciado ha
mais de 20 anos e conhece melhor que qualquer outro ocidental a situação
daquele país.
“O gatilho da crise seria um colapso do mercado imobiliário” onde
ha uma bolha crescente inflada pela ação das células municipais do Partido
Comunista Chinês que, para se financiar, vendem terras a incorporadores e se
comprometem com obras de infraestrutura com que não têm condições de arcar.
Esse é o principal mecanismo da corrupção na China e o governo tem dificuldade
de enfrentá-lo pelos comprometimentos políticos envolvidos. É a soma desses
representantes municipais que constitui a base do Politburo do PCC, a entidade
que referenda as altas decisões do partido e sustenta (ou não) os seus chefes máximos.
O outro foco de perigo são os fundos privados que “reciclam” esse
dinheiro “nebuloso” a título de “gestão de fortunas” investindo o
que tomam nesse mercado em empreendimentos de alto risco. Esse “sistema
bancário fantasma” já gira algo em torno de 2 trilhões de dólares e, quando
quebrar, provocará uma reação sistêmica.
Paulson diz que ainda está em tempo de evitar um estouro mas, para isso,
o governo chinês teria de começar desde já a se mover para fora da política
atual de assumir prejuízos e resgatar toda empresa que ameace quebrar no país e
começar a selecionar alguns perdedores para arcar com os prejuízos que criam.
Mas essa “necessidade desagradável” e, como ele próprio pôde
comprovar quando teve de fazer o mesmo nos EUA, “difícil de por em
prática em qualquer lugar do mundo“, é duplamente espinhosa na China onde
negócios e política estão inextricavelmente misturados.
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