quarta-feira, 29 de abril de 2015

Quando a China explodir


por Fernão Lara Mesquita

Não é a primeira mas vale pela qualidade da fonte: Henry Paulson, ex-Goldman Sachs e o homem que comandou o turn around da crise financeira mundial de 2008 como Secretário do Tesouro norte-americano, está lançando um novo livro sobre a China em que afirma que não é uma questão de “se” mas sim de “quando” haverá na economia chinesa um estouro de proporções (e causas) semelhantes ao que ocorreu na economia americana, com pesadas repercussões pelo mundo afora.

Paulson foi um dos primeiros executivos ocidentais a aprofundar laços de ligação com a economia chinesa através de um esforço concentrado iniciado ha mais de 20 anos e conhece melhor que qualquer outro ocidental a situação daquele país.

O gatilho da crise seria um colapso do mercado imobiliário” onde ha uma bolha crescente inflada pela ação das células municipais do Partido Comunista Chinês que, para se financiar, vendem terras a incorporadores e se comprometem com obras de infraestrutura com que não têm condições de arcar. Esse é o principal mecanismo da corrupção na China e o governo tem dificuldade de enfrentá-lo pelos comprometimentos políticos envolvidos. É a soma desses representantes municipais que constitui a base do Politburo do PCC, a entidade que referenda as altas decisões do partido e sustenta (ou não) os seus chefes máximos.

O outro foco de perigo são os fundos privados que “reciclam” esse dinheiro “nebuloso” a título de “gestão de fortunas” investindo o que tomam nesse mercado em empreendimentos de alto risco. Esse “sistema bancário fantasma” já gira algo em torno de 2 trilhões de dólares e, quando quebrar, provocará uma reação sistêmica.

Paulson diz que ainda está em tempo de evitar um estouro mas, para isso, o governo chinês teria de começar desde já a se mover para fora da política atual de assumir prejuízos e resgatar toda empresa que ameace quebrar no país e começar a selecionar alguns perdedores para arcar com os prejuízos que criam. Mas essa “necessidade desagradável” e, como ele próprio pôde comprovar quando teve de fazer o mesmo nos EUA, “difícil de por em prática em qualquer lugar do mundo“, é duplamente espinhosa na China onde negócios e política estão inextricavelmente misturados.


(Veja artigo no NYTimes aqui).





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