por Vittorio Medioli
Em Crotona, extremo sul da Itália, no sexto século antes de Cristo,
depois de ter percorrido a Índia e o Egito, o grego Pitágoras abriu uma
escola de ensinamentos filosóficos. Em volta dele formou-se uma
comunidade de 300 alunos atraídos pelos ideais de respeito e justiça em
harmonia com a natureza.
Ensinava-se a reencarnação, o aperfeiçoamento do homem, a astronomia,
as virtudes e a obrigação com os deveres sociais. O mestre cobrava uma
disciplina austera, acreditando que o mal que atrasa a evolução do
indivíduo tem origem nos abusos, nos vícios, e por consequência, no
descontrole emocional.
A disciplina vegetariana, a libertação dos desejos grosseiros e da
ganância, o controle do egoísmo e do medo, a capacidade de perdoar as
ofensas, segundo o pensamento pitagórico, fortalecem o caráter; mudam a
visão curta da vingança para aquela mais longa do perdão que encerra a
dolorosa corrente de “olho por olho”.
VAIDADES E AMBIÇÕES
Afinal, não é do sofrimento proporcionado a semelhantes que a
humanidade progride; para Pitágoras, “cada homem é para si mesmo, em
absoluto, o caminho, a verdade, a vida” – uma antecipação do “Reino de
Deus está em vós” ou “Procurai em vós a solução sem cobrá-la dos
outros”.
Feliz é quem se satisfaz controlando vaidades e ambições mundanas.
Feliz é quem pensa na eternidade que o espera e traz para si a
felicidade e o êxtase da presença de Deus em seu íntimo. Feliz é quem
pensa na eternidade que o espera e traz para si a felicidade e o êxtase
da presença de Deus em seu íntimo
A comunidade pitagórica de Crotona, inofensiva por natureza e voltada
para a busca da paz, durou pouco. Sua fama despertou o interesse da
juventude, de pessoas mais sensíveis, mas também o temor dos déspotas
que governavam com mão de ferro os territórios vizinhos.
UM PEREGRINO
A comunidade foi cercada; incendiada; discípulos morreram. Pitágoras
conseguiu escapar e peregrinou pela Itália por mais duas décadas
transmitindo seus ensinamentos. Morreu com quase 100 anos, uma idade
fantástica para aquela época – fruto da dieta, da meditação e do
autocontrole.
Apesar de ser iniciador da filosofia ocidental, passou à história
como grande matemático, pois ensinava que o universo se sustenta no
equilíbrio dos números e apenas esse lado do seu pensamento não
incomodou ninguém. O restante de sua obra foi sistematicamente destruído
como ameaça aos detentores do poder e da riqueza material. E não podia
ser por menos: Pitágoras sustentava que “O Estado existe para o
benefício do governado”, uma verdadeira heresia para a maioria dos
governantes que agem até hoje usando o Estado em benefício próprio.
Vittorio Medioli
Tribuna da Internet - 22.04.15.
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