“A Voz do Cidadão”
Está
aberta a disputa por nada menos que 1,1 mil vagas em conselhos de 140 estatais
e empresas de economia mista controladas pela União. Feito sem transparência, o
preenchimento desses cargos tornou-se um balcão de negócios para privilegiados
da Esplanada dos Ministérios e integrantes da base política do governo. Ocupar um desses postos funciona
como um complemento da renda para ministros, secretários e altos funcionários
públicos, mas também pode ser um prêmio de consolação para parlamentares e
candidatos a cargos majoritários que não conseguiram se eleger.
Se forem consideradas as vagas nos conselhos de
fundos de pensão ou de empresas privadas nas quais a União tem participação
acionária, esse número pode mais do que dobrar. Especialistas criticam a farra dos
conselhos uma vez que o critério para a escolha dos integrantes nem sempre é a
capacidade profissional na área de atuação da companhia e, frequentemente,
ignora-se o princípio básico de uma estatal, que é defender o interesse
público.
“No
mínimo, um conselheiro de uma companhia pública precisa ter capacidade técnica
e isolamento político”,
destaca o professor de Estratégia do Insper, Sergio Lazzarini, especialista na
área de governança corporativa. “O papel de uma estatal é perseguir o mandato claro
que a sociedade lhe impõe. Se for seguir lucro, privatiza, e, se for algo além
do lucro, isso tem que estar bem claro”, afirma.
Os
salários dos conselheiros de estatais podem variar entre R$ 3 mil e R$ 30 mil
por mês, pelas estimativas de especialistas e de integrantes do governo. “Existe
uma briga muito grande entre os partidos por essas vagas, como ocorre para o
primeiro e o segundo escalões. Quem não quer ganhar R$ 20 mil para ir apenas a
uma reunião por mês de um conselho?”, pergunta uma fonte da base aliada.
Esses jetons ajudam
a engordar principalmente a renda de ministros e de pessoas em cargos de
confiança. É o caso do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que,
com a remuneração bruta mensal de R$ 20,8 mil que recebe por integrar o
Conselho de Administração da Itaipu Binacional, acaba ganhando R$ 51,7 mil,
mais que a presidente Dilma, cujo salário é de R$ 30,9 mil. Os ministros da
Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, também já engordaram
seus contracheques. Eles foram recém-nomeados para o Conselho do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Receberão R$ 6,8 mil mensais, o
que fará seus ganhos mensais saltarem para R$ 37,7 mil.
Nesta
semana, novos conselheiros de estatais serão conhecidos, como os da Petrobras e
os do Banco do Brasil. No Conselho do BB, que é presidido pelo secretário
executivo da Fazenda, Tarcísio Godoy, entrará o subsecretário de Acompanhamento
Econômico da Fazenda, Pablo Fonseca Pereira dos Santos, no lugar de Élvio Lima
Gaspar.
O chefe
da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, Manoel Castro
Pires, substituirá o atual representante da pasta, Sérgio Eduardo Arbulu
Mendonça. O valor da remuneração nos conselhos do BB e de suas subsidiárias não
ultrapassa R$ 5,3 mil, informou a instituição.
Hobby
Os
ministérios da Fazenda e do Planejamento possuem cadeira cativa nos conselhos
das estatais. Procurada, a Fazenda informou que pode escolher 190 vagas em
conselhos das 140 empresas públicas e que a Secretaria do Tesouro
Nacional é responsável pela indicação dos representantes da pasta, seguindo
“critérios técnicos, como experiência e formação profissional”, e que eles “são
submetidos a treinamento e, anualmente, são avaliados de acordo com o
desempenho”.
Segundo
o Tesouro, o ganho médio desses conselheiros é de R$ 4,1 mil, “não
podendo exceder a 10% da remuneração mensal média dos diretores das respectivas
empresas”. Já o
Planejamento informou que o “órgão tem total autonomia para as suas indicações”, que “existem
múltiplos critérios técnicos e setoriais”, e que são consideradas “experiência
e habilidades, muitas vezes, não só formalmente técnicas, sendo importante aos
indicados compreenderem efetivamente os processos decisórios”.
Mas não
é o que tem acontecido na prática. Um exemplo ocorreu no Conselho da Itaipu
Binacional, onde o governo brasileiro tem sete assentos. Um deles era ocupado pelo
ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, envolvido no escândalo de corrupção da
Petrobras, que, para os especialistas, não tinha capacidade técnica para
integrar o colegiado.
Quando foi citado na Operação Lava-Jato, Vaccari foi exonerado e, no mesmo dia,
21 de janeiro de 2015, substituído por Giles Azevedo, ex-chefe de gabinete da
presidente Dilma Rousseff, que trabalhou com ela na Casa Civil durante o
governo Lula.
“Publicado no jornal Correio
Braziliense em 26/04/2015”
http://avozdocidadao.com.br/agentesdecidadania/gestao-publica-reportagem-do-correio-braziliense-destaca-a-farra-das-vagas-de-conselheiros-em-estatais/
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