por Carlos Newton
É
absurdamente reveladora a reportagem/denúncia de Patrícia Campos Mello e Isabel
Fleck na Folha de S. Paulo, mostrando a situação de penúria em que se encontram
importantes embaixadas brasileiras, envergonhando nossos diplomatas e
destruindo a imagem do país no exterior.
O texto
mostra que diplomatas brasileiros em Tóquio, Lisboa, na Guiana, Estados Unidos
e em Benin, na África, nos últimos dias enviaram desesperadas mensagens ao
Itamaraty, porque as representações do Brasil no exterior já tinham começado a
sofrer corte de energia por atrasos no pagamento, além de estarem sem dinheiro
para comprar papel para impressoras e materiais, pagar a conta do aquecimento,
internet e outros.
É
constrangedor saber que o embaixador brasileiro em Lisboa, Mario Vilalva, teve
de fazer um apelo pessoal ao presidente da concessionária de energia EDP para
que não cortasse o fornecimento, conseguindo liberação do pagamento da fatura
até 28 de janeiro, impreterivelmente, conforme mensagem enviada ao Itamaraty
dia 14 de janeiro. E a dívida era de apenas 1.734 euros.
A
situação é humilhante e foram os próprios diplomatas, revoltados, que decidiram
vazar para a imprensa essas vergonhosas mensagens que têm sido enviadas ao
Itamaraty.
DO PRÓPRIO BOLSO
O embaixador na Guiana, Lineu de Paula,
pediu autorização para pagar as despesas do próprio bolso, advertindo que a
empresa de internet já havia prorrogado do valor devido até 18 de janeiro, mas
iria cortar o serviço por atraso. “Tendo em vista a possibilidade de que até o
próximo fim de semana esta Embaixada fique sem comunicações com a SERE (Secretaria Executiva do
Ministério) e
eventualmente sem eletricidade e outros serviços básicos nas próximas duas
semanas, muito agradeceria receber autorização para efetuar o pagamento das
contas vencidas e a vencer com meus recursos para posterior reembolso”, pediu o
diplomata.
O
documentos vazados para a Folha são constrangedores. Uma mensagem do embaixador
André Corrêa do Lago, enviada de Tóquio na terça-feira, dia 20, informava que
acabara de receber notificação para corte de energia, porque a conta, de US$
3.924, não era paga desde dezembro. No dia seguinte, outra mensagem, enviada
por Marco Farani, cônsul-geral do Brasil em Tóquio, relatava o ponto a que
chegara a situação:
“Todas
as contas de Serviços e Manutenção deste Posto do mês de dezembro/2014
encontram-se pendentes de pagamento, o que tem gerado insistentes cobranças dos
credores e, em casos mais extremos, há o risco de suspensão de serviços
essenciais à Chancelaria como internet, telefonia celular e fixa, eletricidade,
serviço de franquia de correspondências e fotocópias, caso não seja possível
quitar os débitos até o final de janeiro.”
BANHO DE CANECA
Mas a pior situação foi registrada
na embaixada do Brasil em Benin (oeste da África). O diplomata responsável é o
encarregado de negócios, João Carlos Falzeta Zanini, que está apelando para
velas e lanternas, porque falta dinheiro para comprar combustível do gerador.
Às vezes toma banho de caneca, pois a bomba de água quebrou e não há recursos
no momento para o conserto. Ele teve de pagar do próprio bolso a conta de
telefone e de energia, que estavam atrasadas. Essas reclamações constam de
mensagem enviada terça-feira, cujo teor foi divulgado pelo Sindicato do
Servidores do Itamaraty.
“Vivemos
uma situação financeira muito difícil, é impossível para o Itamaraty manter os
postos atuais com os cortes sucessivos que o governo vem fazendo no orçamento
do ministério”, disse à Folha a presidente do Sinditamaraty, Sandra Nepomuceno
dos Santos. “Ficamos de mãos atadas, sem poder exercer a política externa e a
assistência aos brasileiros como seria ideal.”
IRRESPONSABILIDADE
Depois que a Folha divulgou a
penúria das representações brasileiras no exterior, o Itamaraty se apressou em
informar que já estava liberado o dinheiro, como se o simples pagamento das
cotas fosse suficiente para compensar as humilhações que os diplomatas vêm
sofrendo.
O fato é
que, por inspiração do assessor Marco Aurélio Garcia, desde o primeiro governo
Lula o Itamaraty abriu, irresponsavelmente, grande número de embaixadas,
elevando os custos sem haver o menor retorno ou benefício ao país. Ao mesmo
tempo que tomava essa iniciativa, o governo começou a cortar as verbas e
inviabilizar as representações no exterior. A participação do orçamento do
Itamaraty no total do Executivo, que já era pequena, caiu quase à metade em
2014 em relação a 2003 – de 0,5% para 0,27%. Não é preciso dizer mais nada. E
ainda chamam isso aí de governo.
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