domingo, 9 de novembro de 2014

Parte IV - Bibliografia de pesquisas científicas de fenômenos espíritas

por Luiz Otávio Saraiva Ferreira

Investigações de César Lombroso

Convidado por Chiaia[1] a investigar os fenômenos produzidos por Eusápia Palladino, César Lombroso (que era um cientista famoso) convenceu-se da veracidade dos mesmos, proclamando-o publicamente, levando com isso outros cientistas igualmente famosos a se interessarem pelo estudo dos fenômenos espíritas. Publicou, dentre outros, um importante trabalho sobre mediunidade a partir do estudo de Eusápia[219].

Investigações de Schrenck-Notzing

Pesquisou o ectoplasma entre 1908 e 1913, e publicou vários trabalhos sobre o assunto[203,204,205]. Longaud também publicou sobre essas pesquisas[206]. Schrenck-Notzing comparou ao microscópio os cabelos de uma forma materializada com os da médium Eva C., que produziu a materialização. Fez análise química do ectoplasma, e obteve a filmagem do ectoplasma fluindo da boca do médium. 

Investigações de Ernesto Bozzano

Realizou, dentre outros, importantes trabalhos sobre desdobramento e fenômenos de bilocação[349], fenômenos de transporte[251], comunicações mediúnicas entre vivos[252], e xenoglossia[253].

Investigações Charles Richet

Foi um dos principais pesquisadores de fenômenos espíritas. Estudou profundamente o fenômeno de materialização. O nome "ectoplasma" foi criação sua, depois de estudar os fenômenos produzidos pela médium Eva C., em Argel[200], para designar a substância exudada pelos médiuns para produção do fenômeno de materialização. Richet também constatou a correspondente desmaterialização do médium durante as materializações de espíritos[201]. Um amplo relato de suas experiências foi publicado em livro[199], tendo como obra mais importante seu Tratado de Metapsíquica[202], do qual existe uma edição esgotada em português.

Investigações de Gustave Geley

Importantes estudos do ectoplasma foram feitos também pelo Dr. Gustave Geley, que foi diretor do Intituto Metapsíquico de Paris (França), publicando importantes obras sobre o assunto[207,208]. As importantes pesquisas do Instituto Metapsíquico de Paris estão relatadas na sua publicação oficial, intitulada "La Revue Metapsychique".

Investigações de Aleksander Aksakof

Merecem destaque suas investigações sobre fenômenos de materialização, transportes, e bilocação[66], tendo também observado o fenômeno de desmaterialização do médium de efeitos físicos durante as materializações[65]. 

Investigações de John Crawford

O Dr. W. J. Crawford, Professor de Engenharia Mecânica da Queen's University de Belfast (Irlanda), dirigiu uma importante série de experiências entre 1914 e 1920, com a médium Kathleen Goligher, as quais foram relatadas em livros[209,210,211]. Utilizando balanças, provou que a translação e levitação de objetos e os "raps" são produzidos por "estruturas psíquicas" que emanam do corpo do médium. Provou também que o médium perde massa à medida que expele o ectoplasma, recuperando-a parcialmente ao término dos fenômenos, e que também os assistentes contribuem com alguns gramas de massa corpórea para a produção do ectoplasma.

As Últimas Pesquisas da Metapsíquica

No final da década de 1920 e começo dos anos 1930, paralelamente ao surgimento da Parapsicologia, que deveria mudar inteiramente o rumo das pesquisas, foram realizadas importantes investigações por Eugene e Marcel Osty[254], no Instituto Metapsíquico de Paris, sobre a detecção do ectoplasma por fotocélulas infravermelhas e sobre a influência da luz vermelha e ultravioleta no ectoplasma, com a colaboração do médium Rudi Schneider.

A METAPSÍQUICA E A PSICANÁLISE

Inardi[2] conta que Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, tinha inicialmente uma posição de declarado ceticismo em relação aos fenômenos de telepatia e premonição. Tal posição foi-se abalando com o passar do tempo, de modo que ele aceitou ser membro correspondente da SPR de Londres em 1911 e da ASPR em 1915. Em 1921 ele escreveu um trabalho sobre psicoanálise e telepatia, que seu discípulo Ernest Jones desaconselhou-o de apresentar no congresso psicoanalítico internacional em 1922 com o argumento de que a psicoanálise já era alvo de suficientes polêmicas para que os ânimos fossem ainda mais acirrados com um trabalho versando sobre assunto tão controverso.

Tal trabalho foi publicado somente em 1941. Freud escreveu outro trabalho, em 1922, intitulado "Sonho e Telepatia", em que admitia a realidade dos sonhos telepáticos. Sua mudança de posição frente aos fenômenos espíritas, após toda uma vida de estudos e observações, fica patente na carta que enviou a Hereward Carrington, em que declara: "Se eu soubesse que podia recomeçar a viver, dedicar-me-ia à pesquisa psíquica e não à psico-análise."

AS COMISSÕES DE INVESTIGAÇÃO

Paralelamente às investigações citadas anteriormente, algumas comissões de investigação foram criadas para dar um veredicto científico sobre a realidade dos fenômenos espíritas. Os resultados de tais investigações foram, no geral, decepcionantes, principalmente devido ao despreparo dos membros de tais comissões frente a esse tipo de fenômenos, os quais dependem, além das condições físicas do ambiente e fisiológicas dos médiuns, das condições psicológicas de todos os presentes ao recinto do experimento. Pode-se dizer que, face ao triplo caráter Psicológico, Biológico e Físico dos fenômenos espíritas, os investigadores teriam que possuir uma formação multidisciplinar para lograrem preparar-se adequadamente para estudá-los. O caráter intimidatório de tais comissões por si só já seria elemento suficiente para inibir a maioria dos médiuns investigados, conforme Sudre ([3] p. 90 e ss.). É importante que se conheçam tais investigações para não se repetirem os mesmos erros.
Investigações da Comissão Seybert

A comissão Seybert foi criada em função de uma herança de sessenta mil dólares deixada por Henry Seybert, cidadão de Filadélfia (EUA), para a criação da cadeira de filosofia da Universidade da Pensilvânia, com a condição que se criasse uma comissão para investigar o Espiritismo. Ainda segundo Conan Doyle[1], a comissão nomeada para as investigações tinha pouco interesse no assunto, encarando a pesquisa como mera exigência legal para a posse da herança legada por Mr. Seybert. Os trabalhos começaram em 1884, foi publicado um relatório preliminar em 1887, que ficou sendo o relatório final, segundo o qual a fraude e a credulidade constituem tudo no Espiritismo, nada havendo de sério que mereça referência. Fique claro que a referida comissão testemunhou fenômenos de "raps", escrita direta, e materializações fosforecentes genuínos, apesar de também ter flagrado algumas fraudes. Caracterizou-se pela leviandade com que encarou a investigação e escreveu seu relatório.  
Investigações da Comissão do Inst. Geral Psicol. de Paris

Segundo Conan Doyle[1], a comissão do Instituto Geral Psicológico de Paris realizou um total de 40 sessões com a médium Eusápia Palladino nos anos de 1904-5-6. Entre outros investigadores participantes dessa comissão tem-se registro de Charles Richet, o casal Curie, Bergson, Perrin, e d'Arsonval. Seu relatório foi muito criticado pela forma indecisa com que foi escrito, deixando o leitor na incerteza quanto à presença ou não de fraudes nos fatos relatados. 

Investigações da Comissão da Scientific American

Conan Doyle[1] também cita que entre os anos de 1923 e 1925 uma comissão, nomeada pela Scientific American, estudou a médium Mrs. Crandon, mulher de um médico de Boston (EUA). O secretário, Mr. Malcom Bird, e o Dr. Hereward Carrington declararam sua adesão à hipótese espírita. Outros declararam-se sem condições de dizer se tinham sido ou não enganados, ao passo que o Dr. Prince tinha deficiência auditiva e o Dr. McDougall (vide o item referente à parapsicologia) teria sua carreira acadêmica ameaçada se aceitasse a impopular explicação espírita dos fenômenos.

As Investigações da Comissão de Harvard

Ainda segundo Conan Doyle[1], logo após os trabalhos da comissão da Scientific American foi constituída uma pequena comissão de pessoas de Harvard, encabeçada pelo astrônomo Dr. Shapley. Também nessa comissão, apesar de satisfeitas todas as exigências experimentais dos investigadores, e de não poderem afirmar que haviam sido enganados, houve a conclusão de fraude como explicação para os resultados obtidos, numa evidente contradição que mostra a insegurança da equipe em enfrentar o desconhecido.

A PARAPSICOLOGIA

O Prof. William McDougall[2], famoso psicólogo inglês, foi eleito presidente da S.P.R. de Londres em 1920 e no mesmo ano transferiu-se da universidade de Oxford (Inglaterra) para a universidade de Harvard (Boston, EUA), onde assumiu a cátedra de psicologia e logo veio a assumir a presidência de A.S.P.R. Nesse ínterim participou, entre 1923 e 1925, da comissão de investigação da Scientific American sobre os fenômenos espíritas. Em 1927 foi chamado para dirigir o Instituto e a Faculdade de Psicologia da Universidade de Durham (Carolina do Norte, EUA), também conhecida como "Duke University".

Ao transferir-se para a "Duke", McDougall convidou o jovem doutor em botânica (então com 32 anos) e interessado em Metapsíquica Joseph Banks Rhine para acompanhá-lo, confiando-lhe um projeto de pesquisa que não tivera condições de concretizar em Harvard. Rhine gastou três anos em estudos preparatórios, e em 1930 iniciou a pesquisa propriamente dita[41], tomando rumos inteiramente novos em relação a tudo que já havia sido feito até aquela data em termos de pesquisa dos fenômenos paranormais. Ao invés de médiuns especialmente dotados, estudou indivíduos tomados ao acaso entre estudantes e voluntários, empregando um jogo de cartas padronizadas (conhecidas como baralho Zener) e o método estatístico para o estudo dos fenômenos de telepatia, clarividência e precognição, batizados coletivamente de Percepção Extrasensorial[43] (ESP - Extrasensory Perception). Posteriormente o método estatístico foi adaptado ao estudo quantitativo dos fenômenos de Psicocinesia (PK - Psychokinesis).

Diversos pesquisadores, tanto da Europa quanto dos EUA já haviam feito experiências com a telepatia, mas somente com o início das pesquisas de Rhine a qualidade das evidências obtidas a favor da existência da telepatia e da clarividência mudou definitivamente para melhor. Após 85.000 provas feitas com os mais rigorosos cuidados contra fraudes mesmo que involuntárias, os resultados foram publicados em 1934, apresentando média de acerto acima de 7 em 25 (28 acerto de apenas 5 em 25 (20 telecinesia em que se pesquisava, com a mesma técnica de análise estatística, a possibilidade dos pacientes influenciarem os resultados do arremesso de dados.

Aconselha-se a leitura das obras de Rhine[58,60] na língua original (inglês), pois as traduções para o português atualmente existentes desfiguram seriamente o texto original. O principal feito do trabalho de Rhine foi evidenciar estatisticamente a existência de uma "faculdade paranormal". Até nossos dias a Parapsicologia (que não pode ser chamada de ciência por não preencher os modernos critérios de cientificidade) não conseguiu atingir seu outro grande objetivo, que é o de estabelecer as relações entre as faculdades paranormais e as outras faculdades da mente (evita-se escrupulosamente a palavra "espírito" em Parapsicologia). Outra grande limitação da Parapsicologia é sua fragilidade na pesquisa das bases físicas da paranormalidade, além da fundamental ausência de uma teoria satisfatória e abrangente para os fenômenos, pois a teoria espírita elaborada por Kardec (que é a unica, até hoje, a explicar satisfatoriamente os referidos fenômenos e a preencher aos mais rigorosos critérios de cientificidade) é rejeitada "a priori" pelos seus adeptos.
A grande limitação do método estatístico da parapsicologia é que ele se presta apenas ao estudo de uma pequena classe de fenômenos, e mesmo nos casos de telepatia e clarividência (que constituem as faces da "percepção extrasensorial- ESP) não substitue o método qualitativo (cf. [3] p. 58). No primeiro grupo de bibliografias sobre parapsicologia estão as que a definem como um campo da ciência, apresentam suas subdivisões, relações com outras áreas do conhecimento, e definem termos e conceitos [41,58,260,...,267]. No segundo grupo estão as que apresentam os métodos objetivos de pesquisa[268,...,279]. No grupo seguinte são apresentadas as bibliografias que apresentam os fatos a respeito de PSI e de seus tipos[280,...,318], e em seguida as que abordam a relação entre PSI e o mundo físico[319,...,337].

A PSICOTRÔNICA

Na extinta União Soviética o estudo dos fenômenos espíritas ganhou o nome de Psicotrônica[2], nome esse que exprime a superação dos limites da Psicologia, entendendo-se por Psicotrônica a disciplina que se ocupa das energias do ser humano tendo como objetivo o conhecimento das possibilidades de interação entre homem e homem e entre homem e ambiente através de capacidades possuídas por quase todos. Tal como a Parapsicologia, a Psicotrônica também não é uma Ciência e também carece de uma teoria satisfatória e abrangente para explicar os fenômenos espíritas, pois a teoria espírita elaborada por Kardec (que, repetimos, é a unica, até hoje, a explicar satisfatoriamente os referidos fenômenos e a preencher aos mais rigorosos critérios de cientificidade) também é rejeitada "a priori" pelos adeptos da Psicotrônica. Pode-se destacar, dentre outras, as pesquisas sobre telepatia do fisiologista Leonid Leonidovitch Vasiliev, realizadas a partir de 1950 num laboratório por ele organizado no Instituto de Fisiologia da Universidade de Leningrado (atual São Petersburgo).
Foram lançados no ocidente dois livros de sua autoria sobre o assunto[338,339]. Dentre outros trabalhos, é digna de menção a investigação do agente telecinético Boris Vladimir Ermolaev, realizada pelo doutor em Psicologia, prof. V. N. Pushkin[340]. Os doutores V. M. Iniushin e G. A. Sergeiev, postularam independentemente a existência de um "bioplasma"[341,...,343] que poderia explicar muitos dos fenômenos paranormais. As pesquisas psicotrônicas foram cerceadas pelo materialismo oficial dos países da cortina de ferro, que lançava em desgraça qualquer pesquisador que tendesse a evidenciar a hipótese do espírito. No entanto realizaram grandes avanços no estudo dos aspectos físicos da paranormalidade.

A PSICOBIOFÍSICA

Procurando romper os nós que paralizaram a Parapsicologia e a Psicotrônica, Andrade propôs a Psicobiofísica[40], disciplina que, baseada na teoria espírita elaborada por Kardec, procura unir a Física à Biologia e à Psicologia para atacar o problema da compreensão integral dos fenômenos paranormais (ou espíritas). Prosseguiu na linha de raciocínio inaugurada por Zoellner e propôs, na Teoria Corpuscular do Espírito, um modelo de espaço de pelo menos quatro dimensões para explicar os fenômenos espíritas, modelo com que o autor oferece caminhos para a concepção de novos experimentos para se investigarem as bases físicas desses fenômenos, tarefa em que a Parapsicologia fracassou.

Seus livros[42,...,49,40], são importantes fontes de informações pois, aliado à excelente didática, oferecem ao leitor uma visão de conjunto das bases teóricas da Física, Biologia e Psicologia que, unidas e estendidas, resultam em um modelo de realidade física na qual o espírito é um elemento natural. Do mesmo autor também estão disponíveis, dentre outros, importantes trabalhos de pesquisa sobre reencarnação[48,51], poltergeist[49,...,51], e "drop-in"[52] (manifestação espontânea do espírito de um falecido que apresenta todos os dados objetivos necessários à sua plena identificação).

Luiz Otávio Saraiva Ferreira

Agradecimentos
Este trabalho foi possível graças às preciosas fontes bibliográficas cedidas pelo Dr. Hernani Guimarães Andrade e Prof.a. Suzuko Hashizume, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobio-físicas, e pelo Eng.o. Alcivan Wanderley de Miranda Fo., do Instituto Labor, e pelo Prof. Dr. Aécio Pereira Chagas.

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