segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O Império da Mentira




por Nelson Motta

Em tempo de delação premiada, verdades e mentiras se misturam e se confundem. Mentir, todo mundo mente, mesmo sem maldade ou intenção de enganar, pelo menos 200 vezes por dia, dizem pesquisas neurológicas recentes. Sejam inocentes, triviais, piedosas, cínicas, covardes, venenosas, fatais ou criminosas, mentiras são da condição humana. Já os psicanalistas dizem que todos mentem, mas, quando a pessoa começa a mentir a si mesma, e a acreditar, não vale a pena continuar.

Entre a mentira e a ficção, entre a memória e a imaginação, vivem escritores e publicitários, historiadores e artistas, jornalistas e marqueteiros, e também as crianças e adultos que se igualam diante do maior perigo: acreditar nas próprias mentiras.

Marqueteiros políticos são uma espécie moderna de mentirosos profissionais de alta performance, que são mais eficientes quando distorcem fatos e números e ampliam supostos defeitos e suspeitas sobre os adversários. O problema é o candidato vencer as eleições e continuar acreditando na campanha do marqueteiro, mesmo diante da realidade adversa dos fatos e dos números.

E mais ainda se vive cercado e isolado por assessores que adequam suas mentiras às dele e não ousam desmenti-lo, mentindo assim duplamente.

Mentiras sinceras interessam a poetas amorosos como Cazuza, mas não funcionam e custam caro na economia. O poeta pode fingir tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente, mas políticos são diferentes, mentem mais friamente. No autoengano, eles põem a culpa nos adversários ou no governo anterior. E na imprensa. E apelam à ancestral mãe de todas as mentiras: “Eu não sabia.”

Mas Lula nunca acreditou nas suas próprias mentiras, que são tão abundantes e mutantes que contradizem umas às outras, mas sempre funcionaram no objetivo de enganar os políticos e o povo. Claro, para o bem do povo e do Brasil… rsrs.
Será estarrecedor se Dilma continuar acreditando no mundo maravilhoso de João Santana e deixar de fazer o que tem que ser feito e que ela dizia que os outros fariam. Como solucionar problemas sem reconhecer que eles existem? Nem mentindo.


Nelson Motta é Jornalista e Crítico Musical. 

"O Globo" em 22 de novembro de 2014.

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