por Nelson Motta
Entre a mentira e a ficção, entre a
memória e a imaginação, vivem escritores e publicitários, historiadores e
artistas, jornalistas e marqueteiros, e também as crianças e adultos que se
igualam diante do maior perigo: acreditar nas próprias mentiras.
Marqueteiros políticos são uma
espécie moderna de mentirosos profissionais de alta performance, que são mais
eficientes quando distorcem fatos e números e ampliam supostos defeitos e
suspeitas sobre os adversários. O problema é o candidato vencer as eleições e continuar
acreditando na campanha do marqueteiro, mesmo diante da realidade adversa dos
fatos e dos números.
E mais ainda se vive cercado e
isolado por assessores que adequam suas mentiras às dele e não ousam
desmenti-lo, mentindo assim duplamente.
Mentiras sinceras interessam a poetas
amorosos como Cazuza, mas não funcionam e custam caro na economia. O poeta pode
fingir tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente,
mas políticos são diferentes, mentem mais friamente. No autoengano, eles põem a
culpa nos adversários ou no governo anterior. E na imprensa. E apelam à
ancestral mãe de todas as mentiras: “Eu não sabia.”
Mas Lula nunca acreditou nas suas
próprias mentiras, que são tão abundantes e mutantes que contradizem umas às
outras, mas sempre funcionaram no objetivo de enganar os políticos e o povo.
Claro, para o bem do povo e do Brasil… rsrs.
Será estarrecedor se Dilma continuar
acreditando no mundo maravilhoso de João Santana e deixar de fazer o que tem
que ser feito e que ela dizia que os outros fariam. Como solucionar problemas
sem reconhecer que eles existem? Nem mentindo.
Nelson Motta é Jornalista e Crítico Musical.
"O Globo" em 22 de novembro de 2014.
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