Francisco Cardoso
Na antiga União Soviética (URSS) existia uma figura no serviço
público de saúde denominada “Feldsher”, ou Feldscher em alemão, cujo
significado literal era “aparador do campo”. Os feldsher soviéticos eram
profissionais da saúde, formados em “saúde básica”, que intermediavam o
acesso do povo à medicina oficial, em especial nas áreas remotas,
rurais e periferias soviéticas, sendo uma espécie de práticos de saúde,
ou paramédicos como são chamados hoje em dia, e exerciam cuidados
básicos em clínica, obstetrícia e cirurgia às populações dessas regiões.
Sua inspiração e nome derivavam dos feldscher alemães que surgiram no
século XV como operadores de saúde (cirurgiões barbeiros) e com o tempo
se espalharam ao longo do que foi o império prussiano e territórios
eslavos, compondo a linha de frente também nas forças militares, sendo
uma espécie de força militar médica nesses exércitos eslavos e saxões.
Em vários países foram adotados como profissionais da linha de frente,
atuando sempre nos cuidados básicos e em alguns casos chegando a se
especializar em alguma prática específica, como optometria, dentista e
otorrinolaringologia. Na Rússia começaram a se popularizar a partir do
século XVIII.
Diferentemente dos médicos, os feldsher possuíam uma formação mais
curta e limitada. A duração do curso era em 4 anos e envolvia
basicamente treinamento em ciências básicas e treinamento simples em
ciências médicas clínicas, em especial medicina interna, serviço de
ambulância e emergência pré-hospitalar e sempre tinha um espaço para
treinamento militar, em campo de treinamento do exército, pois os
feldsher estavam na linha de frente da nação, nas fronteiras. Eram 8
anos de colégio mais 4 em treinamento prático, considerados, portanto de
nível técnico. Era um treinamento um pouco melhor que a de enfermeira,
cujo foco era mais os cuidados básicos de saúde e técnicas/procedimentos
de enfermagem.
SETE ANOS DE FACULDADE
Os médicos soviéticos, ao contrário, levavam pelo menos 10 anos de
colégio mais 7 anos de faculdade com carga horária total pelo menos duas
vezes maior (estudavam todos os sábados). Apesar do tamanho valor de
formação, seus salários eram ridículos, pois o regime socialista os
considerava “servos do povo”.
O sistema cubano de ensino médico reproduziu, a partir do
encampamento da Revolução Cubana pela URSS em 1961, esse sistema de
formação em saúde. Os médicos cubanos, de verdade, ficam lá em Cuba, em
sua maioria. O que Cuba “fabrica” aos milhares, todos os anos, com
projetos como a ELAM e demais faculdades, em cursos de 4 anos, não são
nada além da versão cubana dos “feldsher” soviéticos. São paramédicos
treinados para atuar em linha de guerra, campos remotos e áreas
desprovidas em geral.
A diferença é que Cuba “chama” esses feldsher de “médicos”, inflando
artificialmente a sua população de médicos. Com essa jogada, Cuba possui
um dos maiores índices de médicos por habitante do planeta. E isso
permitiu outra coisa ao regime cubano: Usar esses feldsher como agentes
de propaganda de sua revolução e seus interesses não apenas dentro, mas
fora de seu território.
Ao longo de décadas o regime cubano vem fazendo uso do empréstimo de
mão-de-obra técnica, paramédica, porém “vendida” como médica, para
centenas de países a um custo bilionário que fica todo com o regime
cubano. Literalmente, como na URSS, os feldsher são “servos do povo” (no
caso, leia-se “povo” como Partido Comunista de Cuba).
PROJETO ABSURDO
Recentemente a presidente Dilma lançou um demagógico e absurdo
projeto de “resgate da saúde” do povo brasileiro às custas apenas da
presença de “médicos” em locais desprovidos do mesmo, aliás, por culpa
do próprio governo.
Ao invés de pegar os médicos nacionais, recém-formados ou
interessados, e criar uma carreira pública no SUS e solidificar a
presença do médico nesses povoados, ela resolveu importar feldsher
cubanos a um preço caríssimo, travestidos de médicos, ao que seu
marketing chamou de “Mais Médicos”. Diante da recusa inicial, simulou-se
uma seleção de nacionais, dificultada ao extremo pelo governo, para
depois chamar os feldsher.
O objetivo aqui é claro: O alinhamento ideológico entre os regimes, o
uso de “servos do povo” para fazer propaganda do governo, encher o
bolso dos amigos cubanos de dinheiro e evitar a criação de uma carreira
pública que poderia ser crítica e demandadora de recursos. Como não
podiam se assumir como fedlsher, jogaram um jaleco, os chamaram de
médicos e os colocaram para atuar como médicos de verdade.
Por isso as cubanadas não param de crescer. Por isso os erros
bizarros, os pânicos diante de pacientes sintomáticos. Os cubanos não
são médicos, são feldsher – agentes políticos com treinamento prático em
saúde – que vieram ao Brasil cumprir uma agenda política e, segundo
alguns, eventualmente até mesmo militar.
São paramédicos. Isso explica as “cubanadas”. Se houvesse decência no
Ministério da Saúde, ele retiraria o termo “médico” desse programa, e
seria mais honesto. Mas honesto não ganha eleição nesse país.”
Francisco Cardoso é médico perito previdenciário
(artigo enviado por Jorge Béja) - Tribuna na Internet
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