sábado, 20 de fevereiro de 2016

PT diz como quer salvar o Brasil: mantendo Dilma no poder e Lula fora da cadeia

Reinaldo Azevedo

Evidenciei num post nesta madrugada quão dramático é para o Brasil o casamento da vitória de Leonardo Picciani na disputa pela liderança do PMDB na Câmara com o novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil, decidido pela Standard & Poor’s. Por quê? O primeiro evento indica que será um pouco mais difícil do que seria saudável apear Dilma do poder. O segundo evidencia uma queda ainda mais acentuada na expectativa de que a presidente possa dar uma resposta à crise econômica, política e de confiança que toma conta do Brasil. Ou por outra: ela é um vetor dos desatinos. Se sai fortalecida de um pequeno evento, então o Brasil é que se enfraquece. Mais: a intervenção do Planalto no PMDB implica empurrar a parte derrotada para a oposição aguerrida. Sigamos.

Para efeitos de raciocínio, vamos fazer de conta que Dilma, com a vitória de Picciani, acaba de dar início a um ciclo virtuoso. Ora, na política, algo é virtuoso ou vicioso em relação a alguma coisa. Por que a presidente precisa de musculatura? No momento, o diagnóstico é unânime entre as pessoas responsáveis, ela precisa dar uma resposta à crise fiscal e acenar com algum futuro. Assim, é forçoso que consiga conter gastos no presente e demonstrar suas virtudes visionárias com uma reforma da Previdência responsável.


Mas nada disso vai acontecer. Em primeiro lugar, porque o Planalto não quis a vitória de Picciani em razão de algum objetivo estratégico. O objetivo era derrotar desafetos. E, em segundo lugar, porque o PT não vai aderir nem à agenda dos cortes nem à reforma da Previdência.


Os deputados federais do partido se reuniram nesta quinta para definir as prioridades de 2016. O resultado é assombroso.


A conclusão é que este não é o momento de implementar uma reforma na Previdência Social. Wadih Damous (RJ), uma espécie de boneco de ventríloquo de Lula, mas com curso universitário, foi um dos mais enfáticos na recusa a uma eventual reforma, pois, segundo ele, “colocá-la como centro da agenda geraria tensão na base social do governo, nos movimentos sociais”.


Carlos Zarattini (SP) disse que mudanças na Previdência podem ser deixadas para depois. Para ele, o importante agora seria adotar “medidas como a retomada do crédito e o fortalecimento de programas como o Minha Casa Minha Vida”. Vale dizer: a receita do petista para o país sair da crise é aumentar gastos.


Mas ninguém conseguiu sintetizar com tanta precisão o que quer o PT como o líder da bancada, Afonso Florence (BA): segundo ele, as prioridades do partido são enterrar o pedido de impeachment de Dilma e defender o ex-presidente Lula.


E como isso ajudaria o Brasil? Simples: para Florence, “os rebaixamentos da nota brasileira [pelas agências de classificação de risco] trouxeram a crise política como um dos motivos”.


Entenderam? Florence acredita que, se nenhuma suspeita mais houver contra Lula e se ficar claro que Dilma permanece no poder até 2018, então o Brasil sai da crise. É claro que isso não explicaria como o país entrou na dita-cuja, uma vez que Lula não era ainda perseguido pelo seu passado, e Dilma, longe de ser ameaçada com o impeachment, conquistou um segundo mandato. É um raciocínio asnal.


Vocês entenderam por que nada vai acontecer e por que tudo vai piorar? Vocês conseguem ter a noção do grau de loucura e irresponsabilidade que toma um partido quando seus luminares decidem que a sua prioridade é impedir a queda do governo e salvar a biografia do chefe? Vocês entenderam a que nos condena essa agenda, que pretende mandar o futuro às favas e, no presente, radicalizar os fatores que condenaram a economia ao buraco.


Enquanto Dilma e o PT estiverem por aí, assim será. A crise está se aprofundando. Dilma está brincando com fogo. Acabará se queimando. É uma pena que, se isso acontecer, gente inocente também vai acabar pagando o pato.


***

Começa a cair a ficha: a vitória de Picciani é uma dor de cabeça a mais para Dilma


A análise de boa parte da imprensa sobre o fortalecimento de Dilma com a eleição de Picciani está errada. Ela até pode representar um entrave a mais no caminho do impeachment, mas o governo também não vai conseguir mais nada no Congresso


Apesar da recondução do deputado fluminense Leonardo Picciani à liderança do PMDB na Câmara, considerada uma vitória do governo, o Palácio do Planalto adota um tom de cautela em relação a votações na Casa.


Isso porque o outro candidato, o paraibano Hugo Motta, teve 30 votos na disputa, o que representa quase metade da maior bancada da Câmara. Além disso, nos bastidores, o presidente Eduardo Cunha (RJ) prometeu “guerra” a seu desafeto Picciani, o que, consequentemente, significa guerra ao governo.


A estratégia da equipe de Dilma Rousseff é quase toda focada em Picciani. A turma espera que o hoje líder do PMDB se fortaleça e se apresente como alternativa para assumir a presidência da Câmara. Assim, ele não traria apenas peemedebistas dissidentes, mas também parlamentares de outros partidos.


Essa, eu pago pra ver. A análise de boa parte da imprensa sobre o fortalecimento de Dilma com a eleição de Picciani está errada. Ela até pode representar um entrave a mais no caminho do impeachment, mas o governo também não vai conseguir mais nada no Congresso.


Pra começo de conversa, não haverá a paz mínima para se definir uma agenda de reformas. CPMF, então, esqueçam. Se nem a base se apresentará unida, por que a oposição iria aprovar projetos de iniciativa do governo.


O governo conseguiu, sim, derrotar o PMDB não governista — e isso inclui Michel Temer — nesse particular. Mas não ganhou nada, a não ser mais guerra.


Revista Veja



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