quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Nomenklatura

Renato Sant'Ana

Não sei por que a informação não ganhou maior destaque. Em recente depoimento na Lava-Jato, o empresário Fernando Moura - que foi preso em agosto de 2015 e logo solto por aderir à COLABORAÇÃO PREMIADA - repetiu o que dissera ainda no ano passado: o governo Lula começou distribuindo um fantástico número de cargos de confiança (os famigerados CCs). Mas o assunto morreu em meio a revelações intrigantes.

Associado ao PT há mais de 30 anos, Moura teve participação ativa na INSTALAÇÃO DO primeiro mandato de Lula. Segundo disse, naquele início de 2003 ele estava empenhado com o secretário do PT, Silvio Pereira, na tarefa de indicar nomes para escalões importantes das estatais e ministérios. Foi nesse ponto que trouxe à baila o assunto: declarou perante o juiz Sergio Moro que "no computador do PT tinha uma lista de 32 mil cargos de confiança". E informou ter ajudado a fazer o que chamou de "seleção partidária". Acrescentou: "Eu ajudei. Quem estava desenvolvendo isso era o Silvio e o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT). Teve reunião no final de novembro (de 2002), foi numa área social do Banco do Brasil em Brasília, ficava lá a equipe do PT, o Silvio, o Delúbio".

É sabido que o lulo-petismo - aproveitando-se do modelo de Estado que temos - abusa do número de CCs (cargos ocupados em razão de vínculo partidário). Mas o exorbitante número de CCs do governo federal, estimado por aqueles que analisam o assunto, andaria entre 23 e 25 mil. Está visto agora que pode ser bem maior!

O estratagema serve para que, do primeiro ao último dia do mandato, o governo petista disponha de militantes trabalhando em tempo integral pela manutenção do poder (pagos com dinheiro do contribuinte, é claro) - mecanismo de perpetuação.

Ademais, esses milhares de CCs constituem uma elite burocrática - que, obviamente, faz militância para manter seus privilégios. Assemelha-se à "nomenclatura" soviética, aquela casta de burocratas que dava sustentação ao regime totalitário regido por Moscou. Saliente-se que, quanto mais tempo permaneça o PT no governo, maior será o número de cargos distribuídos, maiores os privilégios, e mais essa elite se assemelhará à "nomenclatura" soviética.

Pequeno acréscimo

O socialismo caracteriza-se pela existência de uma elite burocrática, um imenso aparato de servidores públicos, gente quase sempre escolhida por sua "fidelidade" ao regime. E logo abaixo dessa casta de privilegiados está um imenso contingente de servidores - igualmente estatizados -, trabalhando nas empresas estatais e nos escalões menores do serviço público, sem perspectiva de melhorar, de ascender, de crescer, ou seja, sem chance de mudança. Aliás, diferente da pregação partidária, o lugar de cada um numa sociedade sob o regime socialista tem, em regra, um caráter de permanência - é imutável.

Conclusão

Não basta o Brasil livrar-se do petismo. É preciso reformar o Estado. Em palavras desprovidas de elegância: não basta afastar as moscas, é necessário limpar a sujeira. O problema é que o brasileiro vem sofrendo uma lavagem cerebral há pelo menos nove décadas - portanto não iniciada, embora intensificada pelo PT. É uma sistemática pregação contra os valores, uma espécie de "evangelização sem Deus", daí resultando obscurantismo e vulnerabilidade moral. Assim corremos o risco de, mandando o PT embora, entregar o rumo do país ao neopetismo.

Em síntese, estamos atrasados quando já deveríamos ter compreendido o principal, isto é, que carecemos de estabelecer mudanças profundas no Estado, inclusive instituindo mecanismos que impeçam abusos como os atuais.

Renato Sant'Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito.

Alerta Total – www.alertatotal.net

  


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