Entrevista de Marcelo Mirisola com Grima Grimaldi:
Conheci Grima Grimaldi há três anos. Desde a primeira conversa,
suspeitei que esse soteropolitano roquenróu ia dar uma bela entrevista.
Grimaldi é órfão de um sonho. Entrevistá-lo é dar voz a milhares de eleitores
que, hoje, sentem-se traídos pelos seus heróis que não morreram de overdose e
que estão no poder, alguns atrás das grades.
Nosso entrevistado chegou em São Paulo no ano de 1978, e iniciou
sua carreira em 1984. Videomaker, artista gráfico, diretor de arte, vem
realizando documentários de arte e programas para TV, vídeos para instituições
e shows em parceria com vários artistas.
A lista de feitos e amarrados é enorme; não vale a pena citá-los aqui.
A lista de feitos e amarrados é enorme; não vale a pena citá-los aqui.
Vamos logo à entrevista.
Congresso em Foco – Ayrton
Senna morreu um mês antes ou depois de Tom Jobim. Outro dia, num ponto do
ônibus, perguntei às pessoas que estavam lá quem era Ayrton Senna e quem era
Tom Jobim. Contei oito pessoas. Cinco disseram que Senna era um piloto de
Fórmula 1, dois homens disseram que Senna morreu na Tamburello, um disse que
Senna corria na equipe Williams. Um homem que aparentava trinta e poucos anos
disse que Jobim era um compositor brasileiro. Então o indaguei: “Por favor, uma
composição da autoria de Tom Jobim”. Ele respondeu: “Aquarela do
Brasil”. Quem é o responsável pelo emburrecimento da população
brasileira?
Grima Grimaldi – O responsável pelo
emburrecimento é a estratégia de todos governos de dar uma educação de má
qualidade para população porque povo mal educado é fácil de ser cooptado com
bolsas e outras bondades que fazem com que essas pessoas virem seus reféns.
Isso não quer dizer que sou contra o Bolsa Família. Eu sou contra os que usam o
Bolsa Família para colocar um cabresto nessas pessoas. Eu filmei com Ayrton
Senna 20 dias antes do acidente fatal. Fui contratado por uma produtora que
estava começando a fazer os vídeos do Instituto Ayrton Senna, e depois fiz
vários trabalhos para eles, e posso te garantir que o Instituto faz mais pelos
jovens do que muitos governos.
Bem, o instituto Ayrton Senna
pode ter feito muito pelos jovens, mas por Tom Jobim não fez nada. Nem
precisava, mas a questão não é essa. O ponto é a tosquice do brasileiro nos pontos
de ônibus. Idem na rodoviária, aeroportos, alfândegas, redações, pet-shops…
Isso só vai mudar quando esse país tiver uma educação decente e
uma imprensa imparcial, que mostre para o eleitor que ele não tem que ficar se
ajoelhando no pé do político pra resolver um problema que é do político: nós
pagamos os salários desses sacanas, dos seus apadrinhados, plano de saúde
especial, suas mordomias e aposentadorias, nós somos os patrões e eles nossos
empregados.
Precisamos avisar o Renan
Calheiros que ele é nosso empregado! E, depois, o povo brasileiro precisa ser
avisado que é patrão!
O povo brasileiro sabe quem é Claudia Leite, Ivete Sangalo,
Thiaguinho, mas não sabe quem é o subprefeito do seu bairro, não sabe cobrar,
não sabe em qual vereador votaram nas últimas eleições.
Assim fica difícil ser patrão
do Renan… Já que falamos dos porcos, vamos ao chiqueiro. Você já
trabalhou em campanhas políticas? Para quem? Existe alguma diferença
entre Lula prometer a transposição do São Francisco e Alckmin captar água
do volume morto do sistema Cantareira? Me fale um pouco dos marqueteiros de
campanha. Depois das eleições. Eles continuam dando as cartas?
A primeira campanha política que trabalhei foi do Lula
para presidente. Fui contratado, pasmem, pela City Filmes que na época
pertencia ao filho do Jean Pierre Manzon. Nessa época eles eram bem
simplezinhos e não usavam Armani nem gravata Hermés e nem tomavam vinho
francês. Em 1990 fui contratado pela produtora paulista Conecta Video para
trabalhar como assistende de direção, câmera e fotografia e edição na campanha
de Edson Lobão para o governo do Maranhão. Em 1992, contratado pela mesma
produtora para dirigir a campanha de Oswaldo Macêdo do PMDB para prefeitura de
Londrina (PR), mas, com 20 dias de campanha, a produtora dançou por falta de
pagamento do PMDB. E me mandaram para Manaus para trabalhar na campanha do
candidato de Arthur Virgílio, do PSDB, que, na época, também era o prefeito de
Manaus. Uma semana depois, o Sarney ligou para os donos dessa produtora e pediu
que mandassem um diretor para salvar o João Alberto, na época do PFL, para
livrá-lo de perder no primeiro turno da candidata do PDT, Conceição.
Conseguimos passar ele para o segundo turno, mas felizmente ele perdeu no
segundo.
Felizmente?
Pra você ver, essa gente é igual barata em guerra atômica.
Hoje, João Alberto é o capitão da tropa da Dilma da CPI da Petrobrás no senado.
Sarney enxergando longe…
Meu Deus! De 95 a 96 fui contratado da produtora Sincronia do
Recife para dirigir filmes publicitários para o governo [Miguel] Arraes do PSB.
E, em 96, fiquei sete meses no Recife sem voltar pra casa, trabalhando e
dirigindo filmes publicitários para o governo Arraes e o Eduardo Campos, que
ainda era um garoto fazendo sua primeira campanha para deputado. Dei uma parada
boa porque não aguentava mais fazer parte de tanta malandragem.
Fale um pouco da malandragem,
do chiqueiro
Em 2008, um amigo que tem uma produtora em Campo Grande (MS) me
ligou me pedindo que fosse fazer a campanha para prefeitura de Dourados para
ajudar um amigo e sócio dele. Era o Ari Artuzzi [1963-2013], do PDT, que era um
ex-motorista de caminhão xucro e sem formação que morava em um conjunto
habitacional que ele mesmo ajudou a construir em mutirão. Um lugar muito pobre
na periferia. A esposa dele era evangélica e me pedia sempre suplicando que
ajudasse o marido a ganhar a eleição. Ele ganhou. No ano seguinte, apareceu no
Fantástico cheio de grana no colo, bêbado e chamando o eleitor de otário. A
mulher dele, a evangélica, também aparece no vídeo cobrando sua parte.
O que ela cobrava?
Precisava pagar a conta do silicone que tinha colocado nos
seios.
Justo, justíssimo!
Parece enredo de filme de terror pornô… Ari foi preso com
mais vinte da turma, inclusive o vice-prefeito, Carlinhos Cantor, um pastor
evangélico conhecido em Dourados e dono de uma igreja e de canal de TV,
perderam o mandato e teve outra eleição.
Que história bonitinha, de
repente algum cineasta iluminado lê essa entrevista, e capta alguns milhões via
renúncia fiscal e coroa o projeto do caminhoneiro xucro e da evangélica
siliconada.
Não trabalho mais em campanhas políticas. Aprendi que a coisa
mais fácil é enganar o eleitor. E nem precisa ter muito talento e pagar essa
grana toda para marqueteiros. Essas campanhas que fiz não tinham
marqueteiros. A gente fazia tudo.
Inclusive votava nesses
canalhas.
Esse é o ponto. Como vou me abster nas próximas eleições
estou a fim de usar minha experiência para fazer meu próprio programa
político para convencer as pessoas a não votar, se abster e depois pagar a
multa de R$ 6.
Tô nessa! Seis reais ou seu
você se dando mal nos próximos quatro anos. Bacana, gostei.
Eu não acredito mais que vamos mudar essa nojeira em que se
transformou a política brasileira com voto obrigatório e de cabresto, também
não confio nas urnas eletrônicas fabricadas pela empresa que está sendo
processada nos EUA porque tentou subornar os governantes de lá achando que eram
tão corruptos como os daqui.
O que você tem a dizer sobre os
artistas oficiais. E o Fora do Eixo? Tá tão fora assim, ou já foi
cooptado e faz parte da engrenagem oficial?
Tenho a dizer que são aproveitadores, covardes e se fazem de
bonzinhos e não criticam governantes nem ministros e secretários de cultura
porque não querem perder a boquinha do dinheiro público entrando todo mês na
conta deles. Agora mesmo tem vários deles levando uma graninha do Banco do
Brasil, estatal que deveria estar financiando os que não têm padrinhos nem são
celebridades Globais, em shows de cover com Maria Gadús da vida cantando Cazuza
que considero uma falta de respeito com a obra do Cazuza.
Essa Gadu é que é fora do eixo.
Muito chata.
O Banco do Brasil está bancando ela para detonar com a obra do
Cazuza. O Fora do Eixo só papai Noel não sabe que foi gestado pelo Gil e pelo
seu fiel escudeiro Juca Ferreira dentro do próprio Ministério da Cultura, e com
a ajuda do Lula. Trata-se de um exército messiânico, que funciona na base de
disciplina e hierarquia medievais. Já ouviu falar em escravos voluntários?
Sadomasoquismo?
Dependência psicológica,só pode ser. O Fora do Eixo mantém esses
garotos nos tais coletivos, entre outras obrigações com seu [Pablo] Capilé, que
é o líder supremo da seita. Eles se ocupam de atacar nas redes sociais quem
critica o governo.
Bem, pelo que você está me
dizendo, trata-se de uma seita odara-sadomasoquista com requintes de
coprofilia.
Mas quem engole a merda é o contribuinte.
Fala mais, Grima.
Hoje o Fora do Eixo está lotado na Secretaria Municipal de
Cultura de São Paulo. Juca Ferreira os levou para lá. Juca é meu conterrâneo. O
conheci nos anos 80 em Salvador quando fui lançar meu livro e vídeo home
que ensinava a fazer vídeos. Ele estava querendo fazer a NAV, um núcleo de
vídeo que iria funcionar num local no Passeio Público. Nunca saiu do papel.
Nessa época ele era bem simplezinho e morava num bairro de classe média em
Salvador. Hoje, como todos da turma, mora num luxuoso apartamento na região
mais nobre de Salvador. Eu fiz várias críticas ao Juca Ferreira no Facebook, e
ele me bloqueou. Pra você ver como é essa gente meu camarada. Fogem do debate
como o diabo foge da cruz. É bom tomar muito cuidado com esse Juca Ferreira.
Ele é vingativo.
Ui, morrendo de medo. O que
você tem a dizer sobre os artistas oficiais.
A TV Globo tem um programa, o Esquenta, da Regina Casé, que eu
considero que pratica racismo dissimulado. Regina, uma mulher do povo, né
mesmo?,
Povão. Ela, a Preta Gil, etc
etc
Pois é. Outro dia Regina Casé estava equilibrando um copo de
cerveja na bunda da pensadora contemporânea Valesca Popozuda. Não sou contra
fazer isso, mas contra a hipocrisia deles e de quem reclama da propaganda da
Adidas.
Aquela propaganda que dizia que
o Brasil é um puteiro?
Essa mesma. A propaganda não me ofendeu nem um milímetro
A mim também não, ofensa
nenhuma. E com relação a Marina Silva e Maria Alice Setúbal. Que aliança
é essa?
Esperar o que da Marina Silva? Ela sempre esteve do lado dessa
elitezinha babaca paulistana. Esqueceu que o vice dela nas eleições passadas
foi o dono da Natura, que foi apoiada pelas famílias mais abastadas de SP, pelo
cineasta Fernando Meirelles. Esse pessoal nunca me enganou, esses herdeiros do
Itaú não são bobos e só entram em algo se sabem que vão se dar bem. Banqueiro não
dá murro em ponta de faca, meu rei. A outra Setubal é uma das proprietárias do
banco, uma senhora paparicada por artistas babões, dona Milú Vilela.
Milú, Milú tetéia, Milú Milú…
Ela tem um centro cultural, o Itaú Cultural, onde tira onda de
financiadora da cultura com a nossa grana. É um absurdo um centro cultural de
um banco privado ter 100% de isenção fiscal, não coloca um real do bolso quando
usam as leis de incentivo que fazem para promover o banco, a logomarca dos
cartazes e anúncios deles. A logomarca do banco aparece gigantesca e a do
governo, a nossa grana, minúscula em um cantinho. Isso é um escândalo e ninguém
fala nada. Mas também covenhamos, tá cheio de artista bunda mole, morno, que
fica de biquinho calado para não queimar seu filminho com a dona do banco e
fica todo mundo fazendo cara de paisagem. Aliás, artista adora fazer cara de
paisagem, devem ter feito algum cursinho de teatro que existe às pencas.
Conheço um monte de paisagem
com cara de artista. E vice-versa.
E tem o Auditório Ibirapuera, que foi construído com o nossos
impostos e que já tá na mão do Itaú.
Lugar seleto.
Você sabe que povo é a última coisa que você vai encontrar
dentro desse auditório. Não sabe?
Claro, o povo tá no programa da
Regina Casé.
E outra coisa bem interessante. Nas vernisagens e lançamentos de
projetos financiados com dinheiro público, nossa grana, só entram os convidados
do banco e você também paga a birita e o salgadinho.
Pra encerrar. Brasileiro é
morno?
Brasileiro é trouxa. O brasileiro é trouxa e acha que é esperto
porque também gosta de achar que está levando vantagem, mas, na verdade, ele é
um grande trouxa porque pensa que engana… mas chega uma hora que ele escorrega
na própria casca de banana que jogou na rua. Todo trouxa é morno.
Valeu, Grima. Tem advogado?
Transcrito do: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/grimaldi-sou-contra-quem-usa-bolsa-familia-para-colocar-cabresto-nas-pessoas/
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