por Bruno Garschagen
Defender o capitalismo é tarefa inglória. Por várias
razões. Primeiro, porque as várias interpretações equivocadas e aplicações
inadequadas do termo acabaram por dividi-lo numa expressão pluridimensional.
Assim, temos o capitalismo de livre mercado, o capitalismo marxista, o
capitalismo de Estado, o capitalismo de compadres etc.
Se Marx não foi o criador nem o primeiro a usar o termo,
foi quem lhe atribuiu, no célebre O Capital, o sentido negativo mundialmente
reconhecido e utilizado, e opôs de forma hábil a distinção entre capitalista e
trabalhador. Converteu o empresário, o dono do capital, numa entidade diabólica
que age para explorar a mão de obra do oprimido trabalhador.
Diante dessa carga simbólica infame, defender o
capitalismo de livre mercado é entrar num debate no qual o anticapitalista
entra tentando direcioná-lo contra o seu defensor, que mesmo antes de expor uma
defesa conceitual, substantiva e material, com dados empíricos a sustentar a
teoria, precisa previamente se defender das acusações pessoais de odiar os
pobres e os beagles, e elencar justificativas (que o interlocutor nem sequer
considerará) sobre o que o capitalismo não é. O crítico pretende conduzir o
debate em sua zona de conforto, e assim ignorar estrategicamente o que diz o
defensor do capitalismo de livre mercado.
É um erro muito comum supor que o anticapitalista é um
interlocutor intelectualmente honesto. A ingênua boa-fé do defensor do
capitalismo é utilizada pelo seu crítico como uma fraqueza a ser explorada;
como um macete para atingir a cabeça do inimigo ideológico. E assim o “debate”
se converte numa doutrinação e num instrumento de sedução dos incautos em busca
de utopias perdidas.
Não é uma coincidência o fato de muitos anticapitalistas
serem intelectuais e/ou indivíduos que constroem suas vidas fugindo da
realidade. Essa fuga, justamente o vínculo entre ambos, é alicerçada numa
teoria utópica (geralmente socialista ou comunista) que a estrutura, legitima e
que pavimenta a construção idealizada de uma realidade abstrata na qual o mundo
concreto e as pessoas reais não são o que eles veem, mas o que gostariam de
ver, como bem apontou o economista americano Thomas Sowell em seu excelente Os
Intelectuais e a Sociedade (p. 182-184).
Com a sua peculiar definição de capitalismo, esses ideólogos
militantes, muitas vezes disfarçados de professores, atribuem todos os males
sociais, políticos e econômicos do mundo a um sistema que, ao contrário da
imagem caricatural de estar a serviço das grandes corporações, bancos etc., é,
na verdade, formado por todos nós que atuamos na iniciativa privada, do
pipoqueiro ao megaempresário. Um sistema que, a despeito da representação
ficcional, tem suas virtudes e vicissitudes, e que foi capaz de permitir que as
pessoas pudessem se alimentar, empreender, prosperar, ter tempo para o lazer,
ter acesso a produtos e a confortos inimagináveis séculos atrás.
Sempre que um anticapitalista exibir o arsenal de
equívocos contra o capitalismo, tenha a certeza de que o prejudicado com a
alternativa política e econômica que defende não será ele nem os seus
companheiros de ideologia e/ou de partido.
Bruno Garschagen é mestre em Ciência Política e Relações
Internacionais e podcaster do Instituto Ludwig von Mises Brasil.
Transcrito da
Gazeta do Povo - 03 11 2013.
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