quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cúpula dos BRICS como ponto de partida de um novo mundo

Cúpula dos BRICS como ponto de partida de um novo mundo


por Serguei Duz

Muitos peritos acreditam que a cúpula dos BRICS no Brasil foi uma ilustração das mudanças em larga escala na estrutura da geopolítica moderna.
Praticamente todos os especialistas notam a obviedade das mudanças que estão ocorrendo no palco político mundial. A antiga ordem mundial está rebentando pelas costuras. A humanidade claramente superou os esquemas geopolíticos do século XX. Além disso, está rapidamente perdendo sua relevância o esquema do “mundo norte-americano”, que Washington tentou impor, por bem ou por mal, à comunidade mundial nas últimas décadas.

Em particular, trata-se do projeto norte-americano de isolamento internacional da Rússia usando seus próprios recursos políticos e econômicos e seus parceiros juniores envolvidos neste negócio indecoroso. Como podemos ver, seus próprios recursos não são suficientes, e os parceiros estão resistindo como podem.

Podemos afirmar com confiança que os países do BRICS demonstraram posições idênticas sobre muitas das questões mais fundamentais da agenda internacional.

Em particular, os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul declararam o direito do Irã à energia nuclear pacífica, apelaram a um cessar-fogo imediato na Síria, condenaram a construção ilegal de assentamentos israelenses nos territórios palestinos e expressaram preocupação com as situações de conflito na África. Além disso, o grupo expressou sua profunda preocupação com a situação na Ucrânia e apelou a um diálogo abrangente, à desescalada do conflito e ao refreamento de todas as partes envolvidas.

Resumindo, apesar das sanções e do esfriamento das relações entre a Rússia e a União Europeia e os Estados Unidos, a América do Sul e a Ásia continuam sendo confiáveis parceiros amigáveis de Moscou. Quanto ao Banco de Desenvolvimento e o Fundo Monetário dos BRICS, a criação de tais grandes instituições pode mudar completamente a conjuntura econômica internacional. Afinal de contas, os membros do BRICS representam cerca de 40% da população mundial e um quarto do PIB global. Eis o que diz o especialista em assuntos dos BRICS na fundação Observer Research Foundation na Índia, Vivan Sharan:

“Eu vejo duas razões principais para a criação de um novo Banco de Desenvolvimento: primeiro, os países dos BRICS estão claramente descontentes com a ordem socioeconômica existente no mundo. A Índia, por exemplo, tem como objetivo fazer a transição da categoria de um país pobre para um país de renda média, o que exige algumas mudanças de infraestrutura. Posso dizer a mesma coisa sobre os outros países participantes. O segundo objetivo é criar uma alternativa à ordem mundial que se desenvolveu após a Segunda Guerra Mundial”.

Não é nenhum segredo que os empréstimos do Banco Mundial ou do FMI são frequentemente acompanhadas de condições bastante rijas que colocam o mutuário numa posição difícil. O Banco dos BRICS permitirá aos membros da organização recorrer a crédito sem tais condições. Podemos dizer que ele se tornará a base financeira da independência de países em desenvolvimento. Eis o que diz um dos dirigentes do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas em Washington, presidente da organização não-governamental Just Foreign Policy, Mark Weisbrot:

“O Banco de Desenvolvimento dos BRICS será criado como uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial, que tem um impacto negativo sobre as economias dos países em desenvolvimento. A criação de um banco dos BRICS reflete a mudança do equilíbrio de forças na arena econômica e política global, onde os Estados Unidos e as suas estruturas já não dominam mais, e é um símbolo da crescente influência dos países em desenvolvimento na arquitetura financeira global. O banco comum dos BRICS e o fundo de reserva ajudarão a evitar crises financeiras e recessão, mas a criação dessas estruturas é um processo longo”.

O mundo não está retornando ao modelo do século passado com duas superpotências, dois polos aos quais, de uma forma ou de outra, tendem a aderir todos os outros. Hoje em dia, com o polo em Washington estão competindo não apenas um, mas vários polos: Pequim, Nova Deli, Moscou e assim por diante. O mundo, de facto, se tornou multipolar. A cúpula dos BRICS no Brasil pode ser considerada o ponto de partida de uma nova, esperemos que mais justa e honesta, ordem mundial.


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