por Aleksander
Medvedovsky
Faz quase 14 anos que a sigla BRIC surgiu no vocabulário do mundo.
Em 2001, cunhada por Jim O'Neill, ela se tornou conhecida no estudo
"Building Better Global Economic BRICs" e é lembrada toda vez que se
fala no clube, grupo ou bloco de que fazem parte o Brasil, a Rússia, a Índia e
a China (e, depois, também a África do Sul – no bloco BRICS).
Por iniciativa de Vladimir Putin, os líderes daqueles quatro países se
reuniram pela primeira vez na cidade de Ekaterinburgo, na Rússia, em 2009, e
desde então se encontram regularmente uma vez por ano numa reunião de cúpula.
Agora, em Fortaleza.
A literatura econômica contemporânea não tem seguramente exemplos
parecidos com este, em que de repente uma sigla se torna tão falada e
discutida, passando de "menina dos olhos" para "o patinho
feio" da história. E não é por menos. Entre 2003 e 2007 o crescimento econômico
dos quatro países que fazem jus à sigla original representou 65% da expansão do
PIB mundial. Atualmente, com a crise, cujas origens são bem conhecidas, os
países em desenvolvimento, os BRICS entre eles, obviamente têm passado por
dificuldades maiores do que os outros, e apresentam resultados muito mais
modestos.
Na opinião de vários analistas econômicos, o BRICS acabou, mas,
considerando os números, torna-se difícil concordar com essa conclusão.
Vejam só:
de acordo com o FMI, nas últimas duas décadas o peso econômico do BRICS no
mundo passou de 5,6% para 21%. Os BRICS representam 40% da população mundial e
têm como características próprias o baixo custo de mão de obra, a crescente
produtividade, o grande e ávido mercado interno, o incentivo aos investimentos
estrangeiros e, em alguns deles, uma inesgotável oferta de recursos naturais. O
conjunto desses fatores oferece e cria as oportunidades para o BRICS terem
grande potencial de crescimento.
As reservas internacionais dos BRICS representam 5,2 trilhões de
dólares. O grupo, que inicialmente não conseguiu ser chamado nem de clube, hoje
está se tornando um bloco com posições conjuntas em vários assuntos
internacionais, como por exemplo, ultimamente, nos casos da Síria e da Ucrânia.
A marca da ação política dos BRICS é o caminho da independência, da livre
escolha, da reforma financeira global e do mundo multipolar.
Na parte econômica, as coisas não estão tão claras ainda, mesmo porque
alguns membros do grupo têm objetivos diferentes e várias vezes distantes.
Na opinião
de Vladislav Inozemtsev, professor de Economia da Universidade Estatal de
Moscou, exposta no artigo "Uma Pauta para Amanhã", publicado na
revista BRICS Business Magazine, para o BRICS se tornar uma influente
instituição internacional é necessário fortalecer as ainda fracas relações
comerciais entre os parceiros, além de oferecer ao mercado, inclusive
ocidental, as ideias que podem se tornar um importante caminho para a
aproximação.
Em relação às ligações entre parceiros dentro do BRICS, estão
começando a surgir os primeiros resultados significativos, isto é, as
assinaturas recentes de grande número de volumosos contratos entre a China e a
Rússia, incluindo fornecimento de gás no valor de US$ 400 bilhões, e as
intenções da China de aumentar o volume de comércio com os demais países do
BRICS, particularmente com o Brasil.
O diálogo com o Ocidente – continua o professor Inozemtsev – ainda
está fraco.
Caso os
BRICS realmente desejem, dentro de 30 ou 40 anos, tornar-se líderes da moda
econômica mundial, eles devem tomar iniciativa nos assuntos que são os
principais na política global.
De acordo com o professor, são três os principais.
Primeiro, o aquecimento global, como principal problema ambiental
planetário, em que ele sugere participação mais ativa dos países do BRICS num
debate mundial, principalmente a Rússia, a China e a Índia.
Segundo, a avaliação da dívida interna dos Estados Unidos e da União
Europeia, uma situação que estamos vivendo atualmente e que dificilmente vai
mudar nos próximos dez anos.
O problema
é que até 1990 o Ocidente foi credor global, mas na atualidade tudo mudou
drasticamente, e enquanto Rússia, Índia e Brasil possuem reservas mundiais de
5,2 trilhões de dólares (em novembro de 2013), o Ocidente está com uma dívida
interna altamente preocupante.
O autor do
artigo publicado na revista BRICS Business Magazine sugere aos líderes dos
países do BRICS preparar propostas que, por um lado, possam diminuir as dívidas
mas, por outro, contribuir para o desenvolvimento dos próprios BRICS.
O terceiro assunto para ser discutido é o problema da corrupção e da
falta de transparência – tema que tem a maior importância para o crescimento
dos países em desenvolvimento, e que assusta os investidores, os bancos e o
mundo dos negócios ocidental.
A própria política anticorrupção de cada país do BRICS tratada pelo
governo e órgãos competentes e seguida de ações conjuntas com o sistema
financeiro mundial torna cada vez mais difícil a transferência ilegal de
dinheiro para os bancos do Ocidente.
Fortalecendo as ações conjuntas na área política internacional,
aperfeiçoando as relações comerciais dentro do bloco, criando uma agenda
conjunta com os países do Ocidente, definindo a sua estratégia e captando novos
sócios, o BRICS tem tudo para se tornar um importantíssimo player nas relações
globais.
A impressão que se tem é de que os líderes dos países do grupo estão
entendendo isso, como demonstram a decisão rápida da criação do banco de
investimento com capital de US$ 50 bilhões e o acordo do contingente de
reservas, com US$ 100 bilhões disponíveis. Eles mostram a clara decisão de
transformar o BRICS num organismo político e econômico com objetivos bem
definidos.
http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_07_15/A-independ-ncia-como-marca-da-a-o-pol-tica-dos-BRICS-9353/
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