Leonardo Faccioni
O próximo presidente brasileiro, ao receber a faixa, herdará uma bomba relógio; ao subir a rampa planaltina, entrará em um mausoléu de reputações.
[Quatorze] anos de petismo balcanizaram o Brasil. Há cheiro de pólvora no ar em todas as direções. Uma faísca basta para que tudo vá pelos ares: é a percepção de “violência difusa”, sobre a qual tanto se sente e pouco se fala.
Os agentes do partido governante disseminaram, de parte a parte, um desejo de revolta paralelo ao de Lúcifer: ensinaram por onde andaram que a miséria de um é a culpa de outro; que tudo o que o morro não possui lhe foi deliberadamente negado pela malícia do asfalto; que, se índios nômades aculturados tomassem para si as terras há cem anos cultivadas por milhares de famílias imigrantes, haveria justiça; que a pobreza, em um país desde sempre conhecido pela inviabilidade total de um corte étnico preciso, era questão de raça e de preconceitos burgueses.
O PT sepultou a concepção tradicional de educação, que buscava retirar o indivíduo de seu meio para apresentá-lo à vastidão do pensamento universal. Ao contrário, a pedagogia freireana encampada pelo partido, ao invés de elevar, rebaixa. Torna o aluno incapaz sequer de suspeitar que um objeto possa ser examinado por mais de uma dimensão, ou que a gôndola do supermercado onde brota seu arroz deva sua existência a uma cadeia incomensurável de agentes — da produção, sim, mas também do pensamento — aos quais debitar gratidão.
A educação petista produz, em série, imbecis imediatistas. Zumbis de uma cultura de ódio e devassidão, prontos a tomar pela força tudo aquilo a que imaginam ter direito. Não importa, para tanto, a quem precisem atropelar.
Por sua vez, o modelo econômico desenvolvimentista dá claros sinais de esgotamento. Precisará de ajustes dolorosos. A falência do sistema energético, com surreais anúncios de reajuste tarifário para após as eleições, é prenúncio do que está por vir; ponta do iceberg. Os investidores o sabem, e a Bolsa dá mostras.
Quando a inflação consumir sozinha o mensalinho do Bolsa Família, essa geração berçada sob a cultura da “música de contestação”, do “rap reivindicação”, do “fazer valer os seus direitos” não os buscará contra a autoridade política, mas contra a sociedade, cujo representante arquetípico é quem quer que se encontre pela rua em seu caminho. Haverá choro, ranger de dentes, fogo e balas insuficientes.
Não se enganem, porém. A situação não se armou a si mesma. Teve seus arquitetos, como teve seus executores. Desejaram e desejam ainda o desfecho ora quase inevitável para esta que é a crônica de um desastre anunciado. Pensam que, estilhaçando a nação, poderão reconstruí-la à sua imagem e semelhança, e que todo preço a pagar por tão glorioso projeto seja pequeno. Passa a hora de nomeá-los e chamá-los a responder por seus atos de lesa-pátria.
O que consta acima, à exceção do título e de uma única adaptação (a contagem dos anos entre colchetes), é transcrição exata de texto de minha autoria, publicado ao primeiro dia de outubro do Ano da Graça de 2014 (Link para a matéria), quando às vésperas das eleições que desastrosamente manteriam Dilma e seu partido no governo até a presente data. Tudo segue vivo, candente e pendente, mais grave a cada hora passada pela infeliz senhora nas salas planaltinas.
Entretanto, nem tudo são trevas. Nos dias que correm, o Brasil recebe uma nova, inesperada chance. Revisitamos o ponto sem volta, graças a uns poucos que, aliando prudência, inteligência e bravura, deram imagem e voz à Lei e à Justiça entre nós. À frente da Operação Lava Jato, homens como o juiz Sérgio Moro e o procurador Dallagnol tornaram inegável a materialidade daquilo que descrevíamos, e permitiram a muitos apor nomes às realidades até então indizíveis que pressentiam em nosso país.
Não há mais divisão radical entre metades nacionais, senão amplo consenso dos cidadãos de bem, contra uma ínfima parcela de criminosos, de cúmplices e de vítimas por demais frágeis para libertarem-se de seu jugo corruptor. O impeachment, consectário inescapável de tudo o que já se sabia, e do tanto mais que ora se sabe, é a chance imerecida que temos para restaurarmos, unidos, a casa comum da Pátria.
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