sexta-feira, 15 de abril de 2016

Confederação Nacional da Indústria desce do muro

Martim Berto Fuchs

Esperaram até o último momento para descer do muro, e ainda de forma cautelosa, quase medrosa.

A CNI deu ontem esta declaração pública:

 “Excelentíssimo Senhor Deputado,
Às vésperas da histórica decisão a ser tomada pela Câmara dos Deputados nesta semana, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as Federações das Indústrias dos estados vêm manifestar sua convicção de que os nossos representantes saberão encontrar a melhor solução para a grave crise política e econômica que o país atravessa.
Como Vossa Excelência tem conhecimento, a economia brasileira enfrenta um momento de extrema dificuldade, falta de confiança e incerteza. A estagnação de 2014 se transformou numa dolorosa recessão, que fez o Produto Interno Bruto (PIB) encolher 3,8% em 2015.

Para este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a atividade econômica terá retração de igual magnitude, em um desempenho bem inferior à média dos países emergentes. As perspectivas para 2017, se não houver uma urgente mudança de rumo, são de outro ano sem crescimento. Mais do que amargar quatro anos perdidos, isso significaria a maior recessão da história do país, com seus dramáticos efeitos.

Os brasileiros têm reais motivos para a desesperança. Estamos em meio a uma profunda crise social. Os indicadores mostram que os avanços obtidos na qualidade de vida da população, em um passado recente, ficaram para trás. A taxa de desemprego se aproxima de 10%, mesmo índice da queda da renda per capita prevista até o fim do ano. A inflação acumulada em 12 meses chegou a 9,4%, corroendo os salários dos que ainda se mantêm empregados.

Essa conjuntura adversa, em grande parte causada por uma sucessão de erros na política econômica, vem afetando a indústria mais seriamente do que outros setores. Em 2015, o PIB industrial caiu 6,2% e a produção despencou 8,3%, o pior resultado em 12 anos. Os prejuízos são intensos e generalizados, atingindo todos os segmentos da indústria brasileira.

Estamos perdendo a capacidade de produzir, investir, inovar e criar empregos. Essa é uma situação sem precedentes no país.
No quadro atual, a indústria não vislumbra a possibilidade de recuperação do mercado interno. Da mesma forma, não vê meios de compensar essa derrocada com o aumento das exportações. Apesar de iniciativas positivas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o governo não demonstra capacidade para melhorar o ambiente de negócios, elaborar uma política econômica apropriada, e propor ações para fazer o Brasil retomar a trajetória do crescimento e do progresso.

Em sentido oposto, parcelas do governo acenam com uma nova guinada na economia, justamente na direção da política que nos legou o descalabro das contas públicas e criou o cenário catastrófico em que hoje nos encontramos.

Ao mesmo tempo, o governo tem sido complacente com grupos sociais que pregam a radicalização e o confronto como forma de impor suas ideias. Essa atitude pode levar a um acirramento ainda maior das tensões, insuflando a violência, com sérias consequências.
Esse quadro negativo é ampliado pela falta de articulação do governo no Congresso, o que cria obstáculos para a aprovação das reformas de que o país necessita.

Estamos convencidos de que as discussões sobre o impeachment e sua votação no Congresso resultarão em uma nova fase da política nacional. O governo que emergir desse processo terá de arregimentar apoio, tanto no Parlamento como na sociedade, para liderar novo pacto federativo, restaurar a governabilidade e unir o país. Terá, também, que atuar com espírito público, bem como firmar compromissos com a ética e com a eficiência administrativa.

Nessa nova etapa da vida nacional, o governo e o Congresso precisarão de coragem e determinação para adotar medidas duras, mas essenciais para a retomada do desenvolvimento. Entre elas, estão as reformas previdenciária, tributária e administrativa, a recomposição das contas públicas, a modernização das leis trabalhistas e a revisão dos marcos regulatórios. Só com iniciativas firmes e ousadas poderemos voltar a trilhar o caminho do desenvolvimento, do qual nos distanciamos nos últimos anos.

Neste momento turbulento, em que se discute o impeachment de um presidente da República pela segunda vez em pouco mais de duas décadas, temos a certeza de que o Congresso agirá com serenidade, grandeza e patriotismo para tomar a decisão que o país exige. Desse modo, poderemos suplantar a crise, tornar a crescer e gerar empregos.
É hora de mudar.”

Já passou da hora de mudar. Já passou há muitos anos e só agora que vocês enxergaram isso ? Mesmo tendo uma pessoa da CNI no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Sr. Armando Monteiro Neto, não dava para ver que essa história iria acabar mal ?

O que acontece com nossas Associações, Federações e Confederações, é que estão todas mancomunadas com um sistema político apodrecido. Quem está na diretoria dessas entidades convive com políticos sem caráter, eleitos por um processo que não deveria mais ser aceito.

É muito tênue e nada diz a proposição das mudanças que a CNI vem finalmente sugerir: “Entre elas, estão as reformas previdenciária, tributária e administrativa, a recomposição das contas públicas, a modernização das leis trabalhistas e a revisão dos marcos regulatórios.”

A base de um país capitalista são suas empresas. E estas, nem cerrando as portas aos milhares, estão sendo defendidas como deveria pelos seus representantes das entidades de classe.

É um mal que vem da origem, pois quando Getúlio Vargas criou os sindicatos dos trabalhadores e os patronais, vinculou-os, tanto um quanto o outro, ao governo, mas colocando-os bem abaixo dos políticos e seus poderes imperiais. São dependentes, principalmente os dos trabalhadores, mas não muito menos os dos patrões, dos humores de quem os deveria representar na arena política, mas que não o fazem, pois estão em primeiro lugar defendendo seus próprios interesses e o de seus partidos, dos quais são funcionários subalternos.

Novamente, as mudanças urgentes que tem que ser feitas, são delegadas ao conchavo sempre interesseiro dos nossos “políticos”, ditos representantes da sociedade. Parece que nestes anos todos de desgraça anunciada, os representantes das entidades empresariais não acharam tempo para debater propostas claras e indispensáveis para impulsionar de uma vez por todas o desenvolvimento do país.

Propostas estas que os políticos deveriam defender na arena política, pois afinal, o que são eles ? Deuses ou representantes ?
A primeira reforma à ser feita nos meios empresariais é de mentalidade. Está na hora de parar de considerar políticos como deuses descidos do Olimpo. Tem que ser encarados como pessoas escolhidas no nosso meio para nos representar, e não para viver as nossas custas, fazer o que seus verdadeiros patrões, os partidos, determinam, e nos infernizar.

É hora de mudar sim, mas primeiramente mudar a mentalidade dos que dirigem as entidades de classe. São vocês que devem dizer aos políticos, nossos representantes, o que eles devem fazer, nunca esquecendo  porém, que as empresas sem os seus trabalhadores não são nada.

O capitalismo à nível mundial está em crise porque paga mal aos seus trabalhadores e prefere sobreviver da especulação financeira em vez do resultado da produção; e tem seus produtos encalhados não por excesso, mas por falta de consumidores.

No Brasil, com seu capitalismo de estado, estamos sempre em crise, e em crise continuaremos, enquanto os verdadeiros responsáveis pelo desenvolvimento do país não reagirem. Não podem mais deixar as iniciativas para os políticos e para os barulhentos e irresponsáveis sindicatos pelegos, que representam apenas seus interesses e o dos empregados públicos (emprego sem trabalho), enquanto os trabalhadores da iniciativa privada são demitidos aos milhões.


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