Martim Berto Fuchs
Esperaram
até o último momento para descer do muro, e ainda de forma cautelosa, quase medrosa.
A CNI
deu ontem esta declaração pública:
“Excelentíssimo Senhor Deputado,
Às vésperas da histórica
decisão a ser tomada pela Câmara dos Deputados nesta semana, a Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e as Federações das Indústrias dos estados vêm
manifestar sua convicção de que os nossos representantes saberão encontrar a
melhor solução para a grave crise política e econômica que o país atravessa.
Como Vossa Excelência tem
conhecimento, a economia brasileira enfrenta um momento de extrema dificuldade,
falta de confiança e incerteza. A estagnação de 2014 se transformou numa
dolorosa recessão, que fez o Produto Interno Bruto (PIB) encolher 3,8% em 2015.
Para este ano, o Fundo
Monetário Internacional (FMI) estima que a atividade econômica terá retração de
igual magnitude, em um desempenho bem inferior à média dos países emergentes.
As perspectivas para 2017, se não houver uma urgente mudança de rumo, são de
outro ano sem crescimento. Mais do que amargar quatro anos perdidos, isso
significaria a maior recessão da história do país, com seus dramáticos efeitos.
Os brasileiros têm reais
motivos para a desesperança. Estamos em meio a uma profunda crise social. Os
indicadores mostram que os avanços obtidos na qualidade de vida da população,
em um passado recente, ficaram para trás. A taxa de desemprego se aproxima de
10%, mesmo índice da queda da renda per capita prevista até o fim do ano. A
inflação acumulada em 12 meses chegou a 9,4%, corroendo os salários dos que
ainda se mantêm empregados.
Essa conjuntura adversa, em
grande parte causada por uma sucessão de erros na política econômica, vem
afetando a indústria mais seriamente do que outros setores. Em 2015, o PIB
industrial caiu 6,2% e a produção despencou 8,3%, o pior resultado em 12 anos.
Os prejuízos são intensos e generalizados, atingindo todos os segmentos da
indústria brasileira.
Estamos perdendo a capacidade
de produzir, investir, inovar e criar empregos. Essa é uma situação sem
precedentes no país.
No quadro atual, a indústria
não vislumbra a possibilidade de recuperação do mercado interno. Da mesma
forma, não vê meios de compensar essa derrocada com o aumento das exportações.
Apesar de iniciativas positivas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, o governo não demonstra capacidade para melhorar o ambiente
de negócios, elaborar uma política econômica apropriada, e propor ações para fazer
o Brasil retomar a trajetória do crescimento e do progresso.
Em sentido oposto, parcelas
do governo acenam com uma nova guinada na economia, justamente na direção da
política que nos legou o descalabro das contas públicas e criou o cenário
catastrófico em que hoje nos encontramos.
Ao mesmo tempo, o governo tem
sido complacente com grupos sociais que pregam a radicalização e o confronto
como forma de impor suas ideias. Essa atitude pode levar a um acirramento ainda
maior das tensões, insuflando a violência, com sérias consequências.
Esse quadro negativo é
ampliado pela falta de articulação do governo no Congresso, o que cria
obstáculos para a aprovação das reformas de que o país necessita.
Estamos convencidos de que as
discussões sobre o impeachment e sua votação no Congresso resultarão em uma
nova fase da política nacional. O governo que emergir desse processo terá de
arregimentar apoio, tanto no Parlamento como na sociedade, para liderar novo
pacto federativo, restaurar a governabilidade e unir o país. Terá, também, que
atuar com espírito público, bem como firmar compromissos com a ética e com a
eficiência administrativa.
Nessa nova etapa da vida
nacional, o governo e o Congresso precisarão de coragem e determinação para
adotar medidas duras, mas essenciais para a retomada do desenvolvimento. Entre
elas, estão as reformas previdenciária, tributária e administrativa, a
recomposição das contas públicas, a modernização das leis trabalhistas e a
revisão dos marcos regulatórios. Só com iniciativas firmes e ousadas poderemos
voltar a trilhar o caminho do desenvolvimento, do qual nos distanciamos nos
últimos anos.
Neste momento turbulento, em
que se discute o impeachment de um presidente da República pela segunda vez em
pouco mais de duas décadas, temos a certeza de que o Congresso agirá com
serenidade, grandeza e patriotismo para tomar a decisão que o país exige. Desse
modo, poderemos suplantar a crise, tornar a crescer e gerar empregos.
É hora de mudar.”
Já passou da hora
de mudar.
Já passou há muitos anos e só agora que vocês enxergaram isso ? Mesmo tendo uma
pessoa da CNI no Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, o Sr. Armando Monteiro Neto, não dava para ver
que essa história iria acabar mal ?
O
que acontece com nossas Associações, Federações e Confederações, é que estão
todas mancomunadas com um sistema político apodrecido. Quem está na diretoria
dessas entidades convive com políticos sem caráter, eleitos por um processo que
não deveria mais ser aceito.
É
muito tênue e nada diz a proposição das mudanças que a CNI vem finalmente
sugerir: “Entre elas, estão as reformas previdenciária, tributária e
administrativa, a recomposição das contas públicas, a modernização das leis
trabalhistas e a revisão dos marcos regulatórios.”
A base
de um país capitalista são suas empresas. E estas, nem cerrando
as
portas aos milhares, estão sendo defendidas como deveria pelos seus
representantes das entidades de classe.
É um mal
que vem da origem, pois quando Getúlio Vargas criou os sindicatos dos
trabalhadores e os patronais, vinculou-os, tanto um quanto o outro, ao governo,
mas colocando-os bem abaixo dos políticos e seus poderes imperiais. São
dependentes, principalmente os dos trabalhadores, mas não muito menos os dos
patrões, dos humores de quem os deveria representar na arena política, mas que
não o fazem, pois estão em primeiro lugar defendendo seus próprios interesses e
o de seus partidos, dos quais são funcionários subalternos.
Novamente, as mudanças urgentes que tem que ser feitas, são delegadas ao
conchavo sempre interesseiro dos nossos “políticos”, ditos representantes da
sociedade. Parece que nestes anos todos de desgraça anunciada, os
representantes das entidades empresariais não acharam tempo para debater
propostas claras e indispensáveis para impulsionar de uma vez por todas o
desenvolvimento do país.
Propostas
estas que os políticos deveriam defender na arena política, pois afinal, o que são eles ?
Deuses ou representantes ?
A primeira reforma à ser feita
nos meios empresariais é de mentalidade. Está na hora de parar de considerar políticos
como deuses descidos do Olimpo. Tem que ser encarados como pessoas escolhidas no nosso meio para nos
representar, e não para viver as nossas custas, fazer o que seus verdadeiros patrões,
os partidos, determinam, e nos infernizar.
É hora de mudar sim, mas
primeiramente mudar a mentalidade dos que dirigem as entidades de classe. São
vocês que devem dizer aos políticos, nossos representantes, o que eles devem
fazer, nunca esquecendo porém, que as
empresas sem os seus trabalhadores não são nada.
O capitalismo à nível mundial
está em crise porque paga mal aos seus trabalhadores e prefere sobreviver da
especulação financeira em vez do resultado da produção; e tem seus produtos encalhados
não por excesso, mas por falta de consumidores.
No Brasil, com seu capitalismo de
estado, estamos sempre em crise, e em crise continuaremos, enquanto os
verdadeiros responsáveis pelo desenvolvimento do país não reagirem. Não podem mais deixar as iniciativas para os políticos e para os barulhentos e irresponsáveis
sindicatos pelegos, que representam apenas seus interesses e o dos
empregados públicos (emprego sem trabalho), enquanto os trabalhadores da
iniciativa privada são demitidos aos milhões.
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