É impressionante a
contribuição dos comentaristas para incrementar os debates aqui na Tribuna da Internet.
No caso da volta de Roberto Mangabeira Unger ao Ministério, por exemplo, íamos
até elogiar a escolha de Dilma, porque o ex-professor de Harvard é um dos
maiores estrategistas brasileiros e raciocina sempre com viés nacionalista. Mas
o sempre presente comentarista Ricardo Froes nos enviou uma oportuna
mensagem lembrando as terríveis acusações de Unger ao então presidente Lula,
feitas em explosivo artigo publicado na Folha em 2005, quando Unger pediu que
fosse votado o impeachment de Lula.
Contraditoriamente, dois anos
depois, em 2007, Unger esqueceu de tudo e aceitou um convite de Lula para ser
ministro, passando a ocupar a Secretaria de Assuntos Estratégicos, onde ficou
até 2009, quando teve de reassumir o magistério em Harvard. Agora, ele volta ao
Ministério, exatamente quando a corrupção do governo do PT vem à tona com muito
mais intensidade do que no caso do mensalão, e bota intensidade nisso.
Por tudo isso, vale a pena
reler o artigo na Folha, que Froes nos enviou para mostrar como Unger se tornou
uma figura altamente questionável, para dizermos o mínimo. Quanto ao elogio que
íamos fazer a ele, podem esquecer. Desculpem, foi engano. Unger é uma
metamorfose ambulante, no pior sentido possível.
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POR FIM AO GOVERNO
LULA (Folha, 15 de novembro de 2005)
Roberto Mangabeira
Unger
Afirmo que o governo Lula é o
mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por
servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das
agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa
de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus
desmandos.
Afirmo ser obrigação do
Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas
acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não
bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que
suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o
primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas.
Imiscuiu-se, e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em disputas e
negócios privados. E comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato
político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro e que depois tentou
comprar, com a liberação de recursos orçamentários, apoio para interromper a
investigação de seus abusos.
Afirmo que a aproximação do
fim de seu mandato não é motivo para deixar de declarar o impedimento do
presidente, dados a gravidade dos crimes de responsabilidade que ele cometeu e
o perigo de que a repetição desses crimes contamine a eleição vindoura. Quem
diz que só aos eleitores cabe julgar não compreende as premissas do
presidencialismo e não leva a Constituição a sério.
Afirmo que descumpririam seu
juramento constitucional e demonstrariam deslealdade para com a República os
mandatários que, em nome de lealdade ao presidente, deixassem de exigir seu
impedimento. No regime republicano a lealdade às leis se sobrepõe à lealdade
aos homens.
Afirmo que o governo Lula
fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para
substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o
Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto
impôs mediocridade aos que querem pujança.
Afirmo que o presidente,
avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de
tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria
ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe
confiou.
Afirmo que a oposição
praticada pelo PSDB é impostura. Acumpliciados nos mesmos crimes e aderentes ao
mesmo projeto, o PT e o PSDB são hoje as duas cabeças do mesmo monstro que
sufoca o Brasil. As duas cabeças precisam ser esmagadas juntas.
Afirmo que as bases sociais
do governo Lula são os rentistas, a quem se transferem os recursos pilhados do
trabalho e da produção, e os desesperados, de quem se aproveitam, cruelmente, a
subjugação econômica e a desinformação política. E que seu inimigo principal
são as classes médias, de cuja capacidade para esclarecer a massa popular
depende, mais do que nunca, o futuro da República.
Afirmo que a repetição
perseverante dessas verdades em todo o país acabará por acender, nos corações
dos brasileiros, uma chama que reduzirá a cinzas um sistema que hoje se julga
intocável e perpétuo.
Afirmo que, nesse 15 de
novembro, o dever de todos os cidadãos é negar o direito de presidir as
comemorações da proclamação da República aos que corromperam e esvaziaram as instituições
republicanas.
Tribuna da Internet
Carlos
Newton - editor
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