sábado, 7 de fevereiro de 2015

Unger é uma metamorfose ambulante de volta ao Ministério




por Carlos Newton

É impressionante a contribuição dos comentaristas para incrementar os debates aqui na Tribuna da Internet. No caso da volta de Roberto Mangabeira Unger ao Ministério, por exemplo, íamos até elogiar a escolha de Dilma, porque o ex-professor de Harvard é um dos maiores estrategistas brasileiros e raciocina sempre com viés nacionalista. Mas o  sempre presente comentarista Ricardo Froes nos enviou uma oportuna mensagem lembrando as terríveis acusações de Unger ao então presidente Lula, feitas em explosivo artigo publicado na Folha em 2005, quando Unger pediu que fosse votado o impeachment de Lula.

Contraditoriamente, dois anos depois, em 2007, Unger esqueceu de tudo e aceitou um convite de Lula para ser ministro, passando a ocupar a Secretaria de Assuntos Estratégicos, onde ficou até 2009, quando teve de reassumir o magistério em Harvard. Agora, ele volta ao Ministério, exatamente quando a corrupção do governo do PT vem à tona com muito mais intensidade do que no caso do mensalão, e bota intensidade nisso.

Por tudo isso, vale a pena reler o artigo na Folha, que Froes nos enviou para mostrar como Unger se tornou uma figura altamente questionável, para dizermos o mínimo. Quanto ao elogio que íamos fazer a ele, podem esquecer. Desculpem, foi engano. Unger é uma metamorfose ambulante, no pior sentido possível.


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POR FIM AO GOVERNO LULA (Folha, 15 de novembro de 2005)

Roberto Mangabeira Unger

Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.

Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas. Imiscuiu-se, e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em disputas e negócios privados. E comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro e que depois tentou comprar, com a liberação de recursos orçamentários, apoio para interromper a investigação de seus abusos.

Afirmo que a aproximação do fim de seu mandato não é motivo para deixar de declarar o impedimento do presidente, dados a gravidade dos crimes de responsabilidade que ele cometeu e o perigo de que a repetição desses crimes contamine a eleição vindoura. Quem diz que só aos eleitores cabe julgar não compreende as premissas do presidencialismo e não leva a Constituição a sério.

Afirmo que descumpririam seu juramento constitucional e demonstrariam deslealdade para com a República os mandatários que, em nome de lealdade ao presidente, deixassem de exigir seu impedimento. No regime republicano a lealdade às leis se sobrepõe à lealdade aos homens.

Afirmo que o governo Lula fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto impôs mediocridade aos que querem pujança.

Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou.

Afirmo que a oposição praticada pelo PSDB é impostura. Acumpliciados nos mesmos crimes e aderentes ao mesmo projeto, o PT e o PSDB são hoje as duas cabeças do mesmo monstro que sufoca o Brasil. As duas cabeças precisam ser esmagadas juntas.

Afirmo que as bases sociais do governo Lula são os rentistas, a quem se transferem os recursos pilhados do trabalho e da produção, e os desesperados, de quem se aproveitam, cruelmente, a subjugação econômica e a desinformação política. E que seu inimigo principal são as classes médias, de cuja capacidade para esclarecer a massa popular depende, mais do que nunca, o futuro da República.

Afirmo que a repetição perseverante dessas verdades em todo o país acabará por acender, nos corações dos brasileiros, uma chama que reduzirá a cinzas um sistema que hoje se julga intocável e perpétuo.

Afirmo que, nesse 15 de novembro, o dever de todos os cidadãos é negar o direito de presidir as comemorações da proclamação da República aos que corromperam e esvaziaram as instituições republicanas.

Tribuna da Internet

Carlos Newton - editor




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