Luiz Otávio Saraiva Ferreira
DO MAGNETISMO ANIMAL AO ESPIRITISMO
As experiências com magnetismo animal e
hipnotismo levavam os pesquisadores a depararem-se frequentemente com
fenômenos que extrapolavam os domínios dessas disciplinas ( telepatia,
visão com as pontas dos dedos, clarividência e outros), os quais
suscitavam, dentre outras, a hipótese do espírito como explicação.
Entre outros casos bem documentados que extrapolam as explicações do
magnetismo animal e do hipnotismo, são citados abaixo os de Swedemborg,
dos Shakers, de Andrew Jackson Davis e o Episódio de Hydesville, o qual
colocou a hipótese do espírito em pauta definitivamente.
Swedemborg
Vidente sueco [1,3], que teve suas
faculdades despertadas em 1744, em Londres, aos 25 anos. Foi um grande
engenheiro de minas, uma autoridade em metalurgia, brilhante engenheiro
militar, autoridade em Física e em Astronomia. Foi também zoologista,
anatomista, financista e político. Conhecia profundamente a Bíblia.
Escreveu várias obras [104,105,106], em que mistura narrativas de suas
experiências mediúnicas, especialmente desdobramentos, a interpretações
teológicas dessas mesmas experiências. Sob sua influência criou-se a
Nova Igreja, a qual, segundo Conan Doyle [1], "converteu-se em elemento
negativo, em vez de ocupar o seu verdadeiro lugar como fonte e origem
do conhecimento psíquico".
Os "shakers"
À mesma época, grupos "shakers"
(refugiados religiosos da Inglaterra) se estabeleceram em comunidades
nos EUA. Cultivavam o mediunismo, que chegou a manifestar-se em forma
de transes coletivos durante sete anos consecutivos, após os quais os
entes manifestantes, que se afirmavam espíritos, retiraram-se afirmando
que retornariam em breve e então invadiriam o mundo, entrando tanto nas
choupanas quanto nos palácios. Suas experiências, foram descritas em
vários livros e artigos [109,110,111,112,113].
Andrew Jackson Davis
Grande médium vidente, clarividente,
audiente, clariaudiente, psicógrafo e
psicofônico [1]. Quando submetido
a transes magnéticos ditou mais de 30 livros, intitulados coletivamente
de Filosofia Harmônica e de Revelações Divinas da Natureza, que tiveram
grande impacto nos EUA. Em transe apresentava o fenômeno de
xenoglossia, embora fosse de parca instrução, e previu [107], antes de
1856, detalhes do automovel e da máquina de escrever, que seriam
inventados várias decadas depois. Previu, em 1847, o aparecimento do
Espiritismo [108], o que se daria no ano seguinte com o Episódio de
Hydesville.
O PERÍODO ESPIRÍTICO
Esse período vai do Episódio de
Hydesville (1848) até as primeiras pesquisas de Sir William Crookes
(1870), sendo a discussão da hipótese do espírito sua temática central,
porém sem maiores envolvimentos da ciência oficial.
O Episódio de Hydesville
O dia 31 de março de 1848 é o marco
inicial do espiritualismo moderno, conforme narrado por Conan Doyle
[1]. A família Fox, de Hydesville, estado de Nova York, EUA, teve um
caso de "poltergeist", que culminou com um diálogo através de pancadas
entre a filha mais nova, Kate, de onze anos, e uma inteligência que se
dizia o espírito de um caixeiro-viajante (cujos despojos foram
encontrados apenas em 1904 [114]), que teria sido assassinado pelos
antigos moradores da casa. Os fenômenos continuaram mesmo em presença
de uma multidão de curiosos. Ocorreu assim a primeira manifestação
pública de diálogo com os espíritos. Deflagrou-se uma onda de
manifestações espíritas espontâneas e provocadas, que se espalhou
inicialmente pelos EUA, e extravasou-se para a Europa e demais Américas.
Tamanha foi sua repercussão que
suscitaram as primeiras pesquisas de cientistas sobre fenômenos
paranormais, feitas na Universidade de Buffalo em 1851[131]. Concluíram
eles pela fraude (estalos do joelho) das irmãs Fox. Esse resultado foi
contestado por outros pesquisadores [1], de vez que as irmãs já haviam
sido submetidas a inúmeras comissões de investigação. Os jornais das
cidades de Rochester e de Nova York, daquela época, são fartos em
artigos sobre esse episódio e outros que o sucederam, instaurando o
Modern Spiritualism nos EUA. Elder Evans e outro " shaker" foram
visitar as irmãs Fox em Rochester tão logo tomaram conhecimento das
manifestações espíritas ocorridas com elas, e foram saudados
entusiasticamente pelas forças invisíveis, que diziam que aquilo era o
trabalho que tinha sido predito aos "shakers" quatro anos antes [1].
As Mesas Girantes
Segundo Wantuil [4], em fins de 1850 os
próprios espíritos sugeriram, através das batidas em código, que os
experimentadores se colocassem ao redor de uma mesa, apoiando as mãos
sobre ela e, ao ser proferida a letra do alfabeto adequada, a mesa
levantaria um dos pés e daria uma pancada, formando-se letra-a-letra as
mensagens que os espíritos queriam transmitir. Estava estabelecido
assim o fenômeno das mesas girantes, que logo se popularizou nos EUA e,
atravessando o atlântico, tornou-se o brinquedo noturno da moda nos
salões Europeus. Deve-se esclarecer que o fenômeno das mesas girantes
era conhecido nas antiguidades grega [81] e romana [82], embora
tivessem caído no esquecimento posteriormente. Os fenômenos espíritas,
de tão paradoxais, fizeram que a maioria dos cientistas que os
estudaram se concentrassem na comprovação da existência, ao invés de
procurarem descobrir os mecanismos naturais que os produziam.
Em meio a um clima de enorme
desconfiança e, segundo Conan Doyle [1], sem qualquer conhecimento dos
perigos e desgastes a que estavam se submetendo, Kate e Margareth Fox,
as médiuns através das quais foi iniciada a onda de fenômenos
espíritas, fizeram, a conselho das inteligências que se comunicavam
através delas, demonstrações públicas nos EUA durante mais de vinte
anos. Em 1871 Kate foi a Londres, sendo aí submetida a testes por,
dentre outros, Sir William Crookes, o famoso químico descobridor do
tálio e do tubo de raios catódicos. Há relatos de que nessa época
chegou a produzir materializações luminosas. Margareth e Leah (a irmã
mais velha) juntaram-se a ela pouco tempo depois. Tantas foram as
pressões psicológicas sobre Margareth e Kate que suas faculdades
entraram em declínio por causa de alcoolismo, e elas morreram no início
da decada de 1890. Digno de nota é o livro de Leah Fox, que revelou-se
a única das três a compreender as importantes implicações filosóficas e
morais, para a humanidade, dos fenômenos com que lidavam [133].
As Mesas Girantes nos EUA
Em janeiro de 1851 o famoso jurista
John Worth Edmonds, ex-senador, ex-juiz do Supremo Tribunal de New
York, materialista confesso, declara-se convencido da realidade do
espírito [116], após haver presenciado os mais diversos fenômenos de
efeitos físicos e de efeitos intelectuais produzidos sob o mais
rigoroso controle. O anúncio de sua conversão abalou profundamente a
opinião pública norte-americana [4,113]. Aproximadamente à mesma época
o ex- governador do Winscosin e senador N. P. Tallmadge, dentre outros
homens célebres dos EUA, também declarou publicamente sua adesão ao
espiritualismo, em função das provas experimentais da sobrevivência
obtidas[4,113]. Em 1852 os professores W. Bryant, B. K. Bliss, W.
Edwards, e David A. Wells, da Universidade de Harvard, após
escrupulosos experimentos, publicaram um manifesto em apoio à
autenticidade do fenômeno de levitação de mesas[4,130].
O primeiro presidente da Universidade
de Cleveland, Rev. Mahan[134], sustentou a tese do fluido magnético
para explicar os novos fenômenos, e o Dr. Robert Hare - professor de
química da Universidade de Pensilvânia, fez uma série de experiências
com fenômenos espíritas, iniciando com os métodos e aparelhos relatados
por Faraday em seu relatório à Sociedade Dialética de Londres, e em
seguida desenvolvendo seus próprios métodos e aparelhos, com o que se
convenceu da realidade dos fenômenos em questão.
Em 1853 publicou um livro relatando
suas experiências e conclusões [135], as quais apontavam a existência
dos espíritos como causa dos tais fenômenos. Por isso foi praticamente
obrigado a renunciar à sua cátedra na Universidade de Pensilvânia, e
sofreu perseguições da Associação Científica Americana e de professores
da Universidade de Harvard [1]. Além dos principais jornais
norte-americanos, uma interessante fonte de consulta sobre fatos da
época é o periódico "Spiritual Telegraph" [115], primeiro jornal
espiritista do mundo. Tamanho interesse tinham despertado os fenômenos
espíritas nos EUA, que alguns médiuns atravessaram o Atlântico e
levaram as mesas girantes para a Inglaterra, onde logo o fenômeno era
assunto de todas as rodas.
As Mesas Girantes na Inglaterra
Os primeiros médiuns americanos
desembarcaram na Inglaterra em 1852, levando para la' os novos
fenômenos [1,4], que a essa altura incluíam, além das batidas, as
materializações, levitações, escrita direta, voz direta, psicografia,
psicofonia, vidência, clarividência e outros. Foram feitas pesquisas
pelo célebre matemático e filósofo Prof. De Morgan [136], que concluiu
pela veracidade dos fenômenos. Faraday realizou pesquisas sobre as
mesas girantes [137], concluindo que tudo se devia a movimentos
inconscientes dos médiuns, embora houvesse casos registrados de
movimentos das mesas sem contato dos médiuns, conforme réplica do
marquês de Mirville [119] a Faraday. O assunto não mereceu maiores
envolvimentos da ciência até 1869, quando foi nomeada uma comissão pela
Sociedade Dialética de Londres.
As Mesas Girantes na Alemanha
O Dr. Kerner, que já havia estudado a
Vidente de Prevorst, publicou um livro sobre as mesas girantes [103], e
uma comissão de renomados professores da Universidade de Heidelberg,
composta por Karl Mittermaier, Henrich Zoepfl, Robert von Mohl, Renaud,
Vangerow, Carl von Eschemayer, Joseph Ennemoser, o Dr. Justinus Kerner,
e o Dr. Loewe também pesquisou o fenômeno das mesas girantes,
publicando um relatório a respeito [4,117,118]. As experiências com o
fenômeno das mesas girantes na Alemanha logo ganharam espaço na
imprensa francesa, estimulando a divulgação do fenômeno naquele país
[4].
Luiz Otávio Saraiva Ferreira
Agradecimentos
Este
trabalho foi possível graças às preciosas fontes bibliográficas cedidas
pelo Dr. Hernani Guimarães Andrade e Prof.a. Suzuko Hashizume, do
Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobio-físicas, e pelo Eng.o.
Alcivan Wanderley de Miranda Fo., do Instituto Labor, e pelo Prof. Dr.
Aécio Pereira Chagas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário