Clovis Purper Bandeira
(*)
Aprendem-se no Exército, na instrução
básica do soldado, as medidas a serem adotadas para socorrer um companheiro
ferido, enquanto não é possível que este receba os cuidados médicos necessários
ou que possa ser removido para local onde será devidamente tratado.
São três medidas simples, conhecidas
como os três recursos salva-vidas: estancar a hemorragia, proteger o ferimento
e prevenir o choque. É evidente que as medidas ocorrem nesta sequência, não
sendo possível, por exemplo, proteger o ferimento sem antes estancar a
hemorragia.
Nosso Brasil, gravemente ferido pela
incúria, desonestidade e incompetência de seus últimos governos e da safra de
políticos corruptos que, iludindo os eleitores, lograram dominar o Legislativo,
sangra por vários ferimentos que afetam seu corpo social, político e econômico.
Sofre, ainda, com a possibilidade do surgimento de novos focos hemorrágicos,
como os dos fundos de pensão, da Eletrobrás, do BNDES etc.
Há muito que fazer para salvar o
ferido, tudo é urgente, mas sempre é preciso observar a sequência das ações,
começando por estancar a hemorragia.
No caso nacional, a operação implica
limitar drasticamente as despesas, principalmente diminuindo o peso das folhas
de pessoal na mastodôntica máquina pública aparelhada pelos governos petistas,
em todos os níveis governamentais. Ao mesmo tempo, é preciso resistir
estoicamente às pressões dos novos aliados do governo para substituir os
petistas por novos funcionários indicados pelos grupos que chegaram ao poder.
Enquanto se estanca a hemorragia,
podem-se tomar medidas preparatórias para as próximas etapas do processo
salva-vidas. É possível, por exemplo, preparar o material que será utilizado
para proteger o ferimento (ataduras, esparadrapo, gaze, talas, padiolas),
estudando e propondo leis que dificultem a instalação de novos grupos de
bandoleiros no poder, combatendo o nepotismo cruzado, melhorando os mecanismos
de controle dos processos licitatórios etc.
Finalmente, chegará a hora de evitar
que o paciente entre em choque, conservando-o aquecido, protegido e com a dor
sob controle. Talvez este seja o passo mais difícil. Muitos serão levados a
desistir, pois o ferido já estará em melhores condições, não sofrendo mais
risco de vida.
No entanto, as medidas finais é que
lhe restituirão a saúde. Será então oportuno mudar o sistema eleitoral e
político, acabando com o sistema de capitanias hereditárias (avós, pais e netos
políticos profissionais por herança, na verdade pelo domínio das estruturas
partidárias e do processo eleitoral); revendo o próprio método de escolha dos
candidatos; barrando a proliferação de legendas nanicas ávidas por venderem
seus segundos de tempo gratuito na televisão e por obterem cargos públicos para
seus controladores; discutindo seriamente a adoção do voto distrital; voltando
a pensar no parlamentarismo; repensando o financiamento das campanhas
eleitorais; controlando a liberdade que o Legislativo e o Judiciário gozam de
regular seus próprios salários, independente da situação financeira da União;
procurando diminuir as diferenças absurdas entre os salários de diferentes
carreiras do Executivo; estabelecendo um teto para o número de funcionários
públicos, em todas as esferas do poder; limitando ao máximo o número de cargos
públicos a serem preenchidos por indicação política etc.
É imprescindível, também, sanear e
salvar o sistema de previdência social brasileiro, já falido, e limitar os
gastos que o governo pode executar anualmente, criando um orçamento decente e
obrigatório.
Isso sem falar nas mazelas sociais,
especialmente na área da educação, que comprometem nosso futuro e o de nossos
descendentes; na situação calamitosa da saúde pública; na precariedade da
segurança pública...
As medidas finais, que darão ao
ferido condições de vida normais, ou o máximo que se consiga nesse sentido, são
difíceis, pois afetam uma série de privilégios que a classe política acumulou
ao longo dos anos e dos quais não abrirá mão facilmente.
No entanto, se não atacarmos a
verdadeiras causas das sucessivas crises que têm abalado o país, elas voltarão
periodicamente, cobrando-nos um preço social, político e econômico cada vez
mais alto.
Antes de tudo, no entanto, é
imprescindível estancar a hemorragia.
Clovis Purper Bandeira
General, é Editor de
Opinião do Clube Militar.
Alerta Total – www.alertatotal.net
(*)Comentário do
blog: Só um reparo. É o eleitor quem deve escolher
os candidatos a cargos eletivos, que uma vez eleitos irão gerir o Estado
democrático de direito, também instituído pelos mesmos. A democracia (poder do
povo) para ser exercida em sua plenitude, não deve entregar a seleção de
candidatos para quadrilhas pomposamente chamadas de partidos políticos. O mal
que essas quadrilhas causam já está devidamente comprovado. Devem ser
dispensadas sem agradecimento e enterradas sem exéquias.(MBF).
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