quarta-feira, 22 de junho de 2016

Guerra na Caverna de Alí Babá

Martim Berto Fuchs

A caverna com suas 40 dependências está em guerra. Os três aposentos maiores, aqueles ocupados pelos principais grupos de ladrões, entraram em conflito, internamente.

Parece que os últimos roubos praticados pelos companheiros de rapinagem, deixaram muitas pegadas no deserto de honradez do planalto central, pois por onde passaram deixaram rastros.

Alguém deve ter pronunciado a fórmula ao inverso, pois em vez de abrir as portas da caverna ao voltar das rapinagens, o que está se abrindo são as portas da prisão, coisa com que os companheiros de aventura não imaginavam.

Para complicar a já funesta intervenção de fora nos negócios do Alí Babá, um dos guardadores das mulas de transporte do roubo, apertado pelos “importunadores” de outra República, aceitou trocar de lado, bandeando-se para o inimigo.

E como miséria pouca é bobagem, o guardião por ele - Alí Babá - nomeado como engavetador-mor da caverna, de tanto ser espezinhado e rebaixado pelo chefão, resolveu desengavetar a relação de malfeitos, mesmo que já tornada pública pelo guardador das mulas de transporte. O engavetador-mor foi procurar nas suas gavetas e acabou achando o histórico da atuação dos mais de 500.

Desde a inauguração da caverna nos idos de 1822, tal desentendimento interno ainda não havia ocorrido. O clima agora é de salve-se quem puder. Além dos mais de 500 ladrões que compõem o bando, temos as quase oito dezenas de responsáveis pelas defesas da caverna, pois afinal, em algum lugar eles têm que se sentir em segurança, e esta segurança foi agora violada.

Contratados a peso do ouro obtido nas rapinagens para evitar que os ladrões entrem pelas portas da prisão, os salvadores estão tendo dificuldade para redirecionar seus clientes de volta ao seu habitat consagrado.
Os assaltados, alertados pela gritaria dos desnudados, aglomeram-se em frente as portas tentando reaver seus pertences, e não obstante a indignação dos beneficiados com os roubos, dificultam a ação dos salvadores e dos “juízes” nomeados para “julgá-los”.  

Até o presente, os “juízes” antecipadamente nomeados, cumprem seu papel, pois nenhum ladrão foi preso, não obstante a lista de malfeitos tornada pública pelo guardador de mulas e confirmada pelo engavetador-mor.

Até quando ? Sim, esta é a pergunta. Até quando nós os lesados continuaremos aceitando “camelamente”, já que estamos falando em Alí Babá, ser assaltados tranquila, diuturna, escancaradamente por este bando refugiado nos altos escalões dos três podres poderes ?

Bando que inclusive determina as regras de participação no mesmo. Escolhe os bandidos que irão compor a quadrilha, e, mediante ameaça de multa e outros dissabores futuros, nos obrigam à referendá-los, naquilo que sarcasticamente chamam de eleições democráticas.

Deixando um pouco de lado Alí Babá, que aliás continua solto e movimentando seus amestrados - também pagos com dinheiro dos roubos -, precisamos começar o debate de novas regras de convivência desta vez harmônica. Não temos que nos atrelar a filosofias e dogmas de séculos passados.

Dos EUA, tenho sempre comigo, que desde sua independência firmaram um rumo para seu futuro e, se certo para eles, errado para outros, alcançaram seus objetivos. Não estou fazendo juízo de valor do norte que deram para sua jovem nacão, à época, apenas constatando que tomaram uma decisão e a seguiram. Assim também os russos em 1917.  No entanto, o tempo (70 anos) se encarregou de mostrar que a opção russa estava errada. Também outras nações que seguiram o rumo imposto pelos russos, tiveram o dissabor de comprovar sua ineficácia.

Nós brasileiros também temos que definir um rumo para nosso futuro, tão alardeado e nunca alcançado. Resumidamente, são dois os caminhos:

- Ou optamos essencialmente pela produção nas mãos da iniciativa privada.
- Ou optamos essencialmente pela produção nas mãos do Estado.

Não dá para continuar fazendo de conta que é possível trilhar ao mesmo tempo estes dois caminhos, paralela e impunemente. São 86 anos, desde 1930, que tentamos essa acomodação e não conseguimos, pelo contrário, tem nos levado a caminhar um passo a frente e dois atrás. Avançamos, e a cada retrocesso, a dívida do governo se avoluma e dívida de governo quer dizer nossa.

Empresas nas mãos do Estado e por seus entes “administradas”, não funcionam e comprovado está, independente de quem momentaneamente estiver no comando do Estado.

Vimos agora o novo Diretor-Presidente da Petrobras afirmar em alto e bom som, que a empresa seria gerida de forma independente e profissional. As gritas em contrário já começaram e vão acabar prevalecendo, voltando tudo às boas entre os membros das quadrilhas, ou seja, eles indicando os mandões para as diretorias das empresas dois em um: um trabalha e dois olham. E, se associando impunemente no uso do dinheiro que por ali bába.

Defendo uma ideologia de Estado e não de partidos políticos antagônicos, onde uma ideologia está sempre determinada a acabar com a outra, sobrando a conta para quem está no meio.

Defendo que a sociedade, através dos seus eleitores regularmente autorizados e que assim o desejarem, sejam os encarregados de escolher e definir quem os representará na governança do Estado; e que da mesma forma possam destituí-los.

Defendo que a assistência social por parte do Estado, para quem dela necessitar, deva constar em nosso Contrato Social. Não apenas vaga e genericamente, mas de forma clara e bem definida. Contrato revisto a cada 5 anos - Estado é Contrato -, quando eventuais distorções podem ser corrigidas pelo Poder Constituinte então eleito, sem que partidos ideológicos, populistas e irresponsáveis, queiram para si a glória pela distribuição do dinheiro dos outros.

“Nenhuma sociedade jamais prosperou porque tinha uma grande e crescente classe de parasitas vivendo à custa daqueles que produzem.” – Thomas Sowell.


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