sábado, 25 de junho de 2016

Casta, classe e a crise

Pedro Geiger
(*)
Membros do PT aderiram a práticas de corrupção, acobertados pela impunidade tradicional de setores privilegiados

A composição social dos países contemporâneos compreende, entre outros componentes, as classes capitalistas e os setores de ocupação. No passado agrário, além da aristocracia, os ocupantes de alguns setores exerceram o papel de casta, isto é, eram detentores de privilégios, a exemplo de latifundiários, militares, clero e burocracia.

Crítico do capitalismo, Karl Marx o saudara por ter acabado com a “cretinice camponesa” e instaurar a igualdade de todos perante a lei. Nos países “desenvolvidos”, isto é, nos quais o capitalismo instalou mais fortemente as suas ideologias, legislações e instituições, e onde empresários industriais sucederam aos proprietários de terra quanto a mais poder, as antigas castas perderam dimensão e privilégios.

Os espaços de representação (terminologia de Henri Lefévbre) destes países apresentam poucos partidos atuantes no Legislativo, dois nos Estados Unidos, três no Reino Unido. Já nos países “em desenvolvimento”, com forte permanência de antigas castas privilegiadas, é comum se observar a proliferação de partidos no espaço legislativo.

O Brasil é um país emergente, grau intermediário entre países em desenvolvimento e desenvolvidos. O seu avanço passou por uma ditadura estabelecida com a participação e direção da sua antiga casta militar e que fez avançar o capitalismo. A redemocratização dos anos 80, o Plano Real de 1994, a ascensão ao poder do Partido dos Trabalhadores, em 2002, são etapas deste avanço.

Contudo, no poder há 13 anos, o PT não soube realizar uma reforma política que minimizasse a presença, ainda, de castas, no país. Ao contrário, membros do partido aderiram a práticas de corrupção, acobertados pela impunidade tradicional de setores privilegiados. Corrupção existe por toda parte, mas, nos países de castas privilegiadas impunes, ela toma formas de endemia.

O avanço do capitalismo, por outro lado, vem inserindo no país novas gerações mais educadas, que participam de reações crescentes à permanência de formas de casta, à manutenção do privilé- gio da impunidade perante a lei. No Brasil, a corrupção e as ilegalidades orçamentárias se somaram a outras fontes, mais poderosas, na condução a uma crise econômica, agravada desde 2014.

O quadro levou ao extremo, o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Uma reforma política, que dê mais lugar a uma estrutura social de classe, é um passo urgente para novos rumos nacionais.

Pedro Geiger
Geógrafo e professor da Urj

O Globo/Brasil Soberano e Livre

(*)Comentário do blog:  desde que formulei o projeto de Capitalismo Social, venho insistindo justamente nessa tese, apenas não tendo usado até hoje a classificação da Sociologia.
Tínhamos dois grupos preponderantes na nossa Corte: os oriundos dos “nobres” que vieram com D.João VI e os burgueses, ex-escravagistas que se transformaram na burguesia, primeiro rentistas e depois financeira; a agropecuária e a industrial.  
Em 2003, com Lula, apareceram para desfrutar das benesses da Corte, os sindicalistas pelegos. Eram do contra até começarem usufruir das regalias. À partir dali, aderiram e se tornaram mais gulosos que seus antecessores.
Capitalismo Social é uma proposta. Aliás, em proposta muito se fala, mas quantos apresentaram uma, completa ?
Para novos rumos nacionais não basta discutir apenas quantos partidos políticos deveríamos ter e sim se ainda devemos tê-los.
Começa por aí um novo paradigma, o debate de um novo Contrato Social, pois Estado é Contrato.(MBF).


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