LUCIANNE CARNEIRO
Unctad mostra que Brasil perdeu
posições entre os que mais receberam recursos
RIO - Os
investimentos estrangeiros diretos (IED) no mundo avançaram 38% em 2015 e
chegaram a US$ 1,76 trilhão, no maior nível desde a crise de 2008, segundo os
dados do Relatório de Investimentos Globais da Conferência das Nações Unidas
para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O resultado foi influenciado principalmente
por um salto nas fusões e aquisições entre fronteiras, puxado por
reorganizações de empresas multinacionais, incluindo transferência de domicílio
fiscal, por razões estratégicas e em busca de menores impostos. O montante
quase dobrou, de US$ 432 bilhões para US$ 721 bilhões.
— Os fluxos de investimentos estrangeiros diretos têm sido erráticos nos últimos anos. Em 2015, o crescimento foi de 38% e o valor chegou a US$ 1,76 trilhão. É o nível mais alto desde a crise de 2008/2009, um crescimento importante, mas ainda está cerca de 10% abaixo do nível recorde de 2007. Isso nos preocupa — afirma a economista Stephania Bonilla-Féret, da Divisão de Investimentos e Empresas da Unctad, em conferência com jornalistas.
— Os fluxos de investimentos estrangeiros diretos têm sido erráticos nos últimos anos. Em 2015, o crescimento foi de 38% e o valor chegou a US$ 1,76 trilhão. É o nível mais alto desde a crise de 2008/2009, um crescimento importante, mas ainda está cerca de 10% abaixo do nível recorde de 2007. Isso nos preocupa — afirma a economista Stephania Bonilla-Féret, da Divisão de Investimentos e Empresas da Unctad, em conferência com jornalistas.
O
movimento trouxe uma mudança no perfil dos maiores receptores de IED. Pela
primeira vez em cinco anos, os países avançados voltaram a responder por mais
da metade desses recursos, ocupando o lugar que era das nações em
desenvolvimento e em transição. Em 2014, os países avançados recebiam 41% do
IED no mundo, fatia que subiu para 55% em 2015. Assim, Estados Unidos avançaram
para o primeiro lugar da lista, com US$ 380 bilhões, quase quatro vezes o
montante de US$ 107 bilhões registrado em 2014. Já a China perdeu a liderança e
ficou em terceiro lugar, com US$ 136 bilhões.
Num ano
em que o IED avançou no mundo, o Brasil viveu uma realidade diferente, de
queda, movimento que também ocorreu na América do Sul. Sua posição no ranking
de maiores receptores de IED no mundo caiu de quarta para oitava. E o montante
recebido passou de US$ 73 bilhões em 2014 para US$ 64,6 bilhões em 2015, um
recuo de 11,5%. Em seu relatório, a Unctad ressaltou a retração do investimento
como um todo no Brasil, com recessão e recuo dos lucros corporativos. A
desvalorização do real, no entanto, criou oportunidades para a compra de ativos
no país, como foi o caso da compra de ações da Souza Cruz no valor US$ 2,45
bilhões pela controladora britânica BritishAmerica Tobacco (BAT).
— O
Brasil perdeu posições, como outros países da América do Sul, e teve queda no
total de investimentos estrangeiros diretos. Isso é fruto da recessão da
economia brasileira e da queda dos ganhos das empresas, que afeta os
reinvestimentos, como no setor de extração. (...) Como em todos os países, a
situação da política afeta a confiança — diz Stephania.
A Unctad
destacou dois setores registraram expansão dos investimentos no países:
automotivo e saúde. No primeiro caso, eram investimentos em projetos que já
estavam curso. No segundo, uma nova legislação facilitou a entrada de
investidores estrangeiros.
Na
América Latina, o valor total recebido em 2015 foi de US$ 167,6 bilhões, leve
queda de 1,6% em relação a 2014. Segundo a Unctad, a queda do fluxo de recursos
para o Brasil e Colômbia (25,8%) foi compensada pelo aumento para México e
Argentina, de 18% e 130%, respectivamente. No caso da vizinha Argentina, no
entanto, esse crescimento é muito influenciado pela base de comparação baixa do
ano de 2014, quando o governo argentino compensou a espanhola Repsol pela
nacionalização da YPF, sua subsidiária no país. Sem considerar essa transição,
o aumento foi de apenas 15%.
Stephania
Bonilla-Féret aponta, no entanto, que as perspectivas são "moderadas"
para o fluxo de recursos para a região. Por um lado, não se espera recuperação
de ritmo mais forte da economia global, o que afeta o preço de commodities.
Ao mesmo tempo, as empresas do setor extrativo tiveram redução da margem de
lucro.
— Várias
das maiores economias da região, como o Brasil, seguem em recessão e a
desvalorização das moedas nacionais afeta as empresas com dívidas em dólar.
Esses fatores tornam as perspectivas muito moderadas para a região.
PREVISÃO DE QUEDA DE ATÉ 15% EM 2016
Após o
forte crescimento do fluxo de investimentos em 2015, a Unctad prevê uma queda
entre 10% e 15% dos recursos em 2016. O baixo crescimento da economia mundial e
dos países produtores de matéria-prima, além da queda no lucro das
multinacionais, são alguns dos fatores que justificam a previsão:
— Há uma
fragilidade persistente da economia mundial e da demanda, um crescimento lento
dos produtores de matéria-prima, queda do lucro das multinacionais e expansão
das medidas que seguram as reorganizações das empresas — aponta a economista da
Unctad.
REORGANIZAÇÃO DAS EMPRESAS
A
reorganização das empresas em todo o mundo, muito influenciada por uma
estratégia para reduzir o pagamento de impostos, preocupa a Unctad. Stephania
Bonilla-Féret, no entanto, destacou a reação que já está em curso para inibir
essas práticas:
— As
reconfigurações corporativas, que costumam ter como objetivo localizar os
ganhos em países com menos impostos, são uma tendência preocupante. Mas há
reações positivas por parte de países como Estados Unidos, União Europeia,
Luxemburgo, que estão atuando ativamente para tentar frear essa tendência e
fazer com os investimentos sejam mais em produção e não só troca de mãos.
Publicado
originalmente em
O GLOBO – 21.06.2016
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