Deutsche Welle Brasil
À frente
da PGR, ele bateu de frente com políticos, acumulando inimigos, críticas e
elogios. Após ser acusado de mirar quase que apenas o PT de Dilma,
procurador-geral mostra que governo Temer não deve ter trégua.
Quando
Rodrigo Janot assumiu o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), em
2013, analistas apontaram que o novo titular teria pela frente apenas a tarefa
de se concentrar nos recursos do julgamento do Mensalão. Janot, por sua vez,
prometia apenas reduzir o acúmulo de processos da instituição e melhorar a
relação desgastada com o Congresso.
Em dois
anos e meio, a monotonia dos recursos acabou dando lugar às investigações da
Operação Lava Jato, e Janot se transformou em um homem capaz de manter a classe
política em suspense.
Nesse
período, ele denunciou Eduardo Cunha, que se tornou o primeiro réu da Lava Jato
no Supremo Tribunal Federal (STF). Também foi responsável pelo pedido que
resultou no afastamento do deputado.
Além
disso, a gestão de Janot foi marcada por outros acontecimentos históricos, como
o bem-sucedido pedido de prisão contra o Delcídio do Amaral – primeiro senador
preso no exercício do mandato desde a redemocratização. Janot também pediu
inquéritos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente
afastada Dilma Rousseff por suspeita de obstrução da Justiça. Até mesmo o
senador Aécio Neves (PSDB-MG) se tornou alvo de pedidos do procurador-geral.
Desde o
início do ano passado, especulações sobre quais outros nomes da "Lista de
Janot" vão ter o mesmo destino tomaram as páginas dos jornais brasileiros.
Após
atravessar 2015 enfrentando acusações de que as ações da Lava Jato contra
políticos miravam quase sempre no PT de Dilma, Janot mostrou que o governo do
presidente interino Michel Temer não deve ter trégua.
Nesta
terça-feira (07/06), ele voltou a sacudir o mundo político ao pedir a prisão
dos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, do ex-presidente José Sarney e de
Eduardo Cunha. Todos são caciques do PMDB, a sigla de Temer, e os três últimos
são aliados próximos do interino.
Apesar
de não ter se tornado entre a população um símbolo conhecido da Lava Jato como
o juiz Sérgio Moro, o procurador-geral criou uma fama de implacável no meio
político.
Recentemente,
um grampo mostrou que Renan queria impedir a recondução de Janot para mais dois
anos à frente da PGR – algo que ocorreu em agosto passado. "Eu tentei...
Mas estava só", disse o senador, que ainda chamou o procurador-geral de
"mau-caráter".
"Faz
tudo que essa força-tarefa (Lava Jato) quer." Em outro grampo, Lula reclamou
da "ingratidão" de Janot, que foi nomeado por Dilma.
Carreira
iniciada há três décadas
Nascido
em Belo Horizonte, Janot, de 59 anos, se graduou em direito na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), e ingressou no Ministério Público Federal em
1984, passando a galgar postos mais altos nos anos 90. Chegou a morar na
Itália, onde estudou no final da década de 80. É casado desde 1982 e tem uma
filha, que é advogada.
Na PGR,
Janot fez parte do grupo dos "tuiuiús", o apelido dado aos
procuradores que se opunham à atuação do procurador-geral Geraldo Brindeiro
(1995-2003), conhecido como o infame "engavetador-geral da República"
por causa do seu hábito de arquivar denúncias durante o governo FHC.
O tuiuiú
é uma ave do Pantanal conhecida pela imponência, mas também pela dificuldade em
levantar voo. O apelido explicitava o dilema do grupo, que era impedido de
prosseguir com suas denúncias e que também não conseguia ascender ao topo da
PGR, já que FHC ignorava as listas tríplices votadas pela Associação Nacional
dos Procuradores da República (ANPR), sempre preferindo reconduzir Brindeiro ao
cargo.
Em 2003,
o então presidente Lula decidiu acatar as listas da ANPR, e o procurador-geral
passou a ser escolhido entre o mais votado da lista. Isso marcou a ascensão dos
tuiuiús e o início da independência da PGR. O primeiro grande voo do grupo foi
o escândalo do Mensalão, no qual Janot atuou como subprocurador-geral. Agora,
com a Lava Jato, os tuiuiús encaram o seu voo mais alto.
Apoio e críticas
Ao se
apresentar novamente ao cargo no ano passado, Janot recebeu apoio maciço dos
procuradores, conquistado 799 votos, cerca de 80% do total.
Já entre
advogados, sua postura é vista com um olhar mais crítico. Em janeiro, mais de
cem deles, incluindo defensores de suspeitos presos na Lava Jato, publicaram
uma carta aberta em que criticaram a operação. Segundo o documento, os
investigadores da Lava Jato têm promovido a violação dos direitos dos acusados
e a PGR tem distorcido os depoimentos destes no momento da transcrição.
Janot se
defendeu. "Não vi distorção alguma e também não ouvi ninguém negar o fato
criminoso imputado a essas pessoas", disse logo depois da divulgação da
carta.
Antes
disso, Janot já havia acumulado algumas controvérsias à frente da PGR. Por trás
do apoio dos procuradores não está apenas a melhoria da imagem da instituição,
mas também algumas benesses conseguidas por Janot, como a concessão de um
auxílio-moradia e o direito de viajar de classe executiva em voos
internacionais. A última portaria foi recentemente cassada pela Justiça
Federal, que considerou o benefício aos procuradores "uma repugnante
prática da autoconcessão de privilégios por parte das castas
burocráticas".
Nenhum comentário:
Postar um comentário