quinta-feira, 30 de junho de 2016

Aguardando uma Virgínia

Vittorio Medioli

Acenei há duas semanas a possibilidade de uma jovem de 37 anos, advogada, recém-chegada ao mundo da “política”, se eleger prefeita da Cidade Eterna, Roma.

Não deu outra, no segundo turno do último domingo, Virginia Raggi, com 67% dos votos dos romanos, sagrou-se a primeira mulher a assumir a prefeitura da maior e mais conhecida cidade “eterna” da Itália.
Nela veio a resposta de quem queria se livrar da cinzenta e aviltante política nacional. A legenda pela qual disputou, o Movimento 5 Estrelas, é um projeto recente, com propostas e exemplos de inovação, de simplicidade, de honestidade, que se alastrou e arrebanhou, nos últimos quatro anos, multidões de simpatizantes.

É hoje o maior partido do país e acena sagrar-se nas próximas eleições políticas como a força hegemônica, desbancando o que sobrevive de 2.000 anos de confrontos entre direita e esquerda, liberalismo e socialismo, patrões e trabalhadores. Minimiza também a importância dos rótulos, das corporações que pensam apenas no umbigo.

Nesse movimento tem espaço para qualquer um se identificar. É uma vida de qualidade. Os grilhões foram quebrados, e, pelo menos nesse nascimento forçado pelas dificuldades econômicas e por desafios sociais, se apresenta como solução.

A sigla M5S (o S vem de “Stelle” = “Estrelas”) parte do conceito de qualidade e seriedade para garantir que aquilo que se promete tenha certificado de garantia e se realize de verdade. Não tem gato por lebre. Concede-se participação direta ao indivíduo apenas pelo fato de ser cidadão igual a todos os outros.

A proposta é de transparência total, de acessibilidade incondicional à administração pública por meio da internet, e elege o cidadão como finalidade, prioriza a competência, valoriza o bom desempenho. O destino dos recursos públicos atende da base ao vértice a pirâmide social.

Preservação inteligente do meio ambiente, sinergias, políticas de sequestros de CO2, biodiversidade. Paz e amor.

A geração “estrelinhas” se caracteriza pela simplicidade para se parecer um ser comum, sem demagogia, despido de retórica marota, de ranço, de críticas. Propostas, ações, ordem. Olha para a frente, entrega à lei o que a lei tem que fazer. Não se desgasta em comparações e egolatria.

O “político das 5 estrelas” é um profissional, um empresário, um trabalhador, não é um político de tradição. Exerce mandato como serviria uma tarefa útil à sociedade, pronto para voltar ao lugar de onde veio, à profissão que sabe exercer para se manter. Não são santos, apenas coerentes entre discurso e ações.


Virginia Raggi, a prefeita de Roma, se parece com a pessoa que qualquer um gostaria de ter como amiga, que jorra simpatia, educação e cordialidade. Vive com os pés no chão, usa modos e roupas que não chamam atenção. Discreta com um toque de essencialidade, sem exaltação ou demagogia que cospe populismo.

Ela tem brilho da credibilidade, como disse Dante de Beatriz, de “humildade vestida”, um santo de casa para fazer milagres.

Cronologicamente, essa prefeita é decorrente de processo evolutivo que teve origem na operação Mãos Limpas, voltada à desmistificação da tradicional política de baixezas. Os agentes perversos ficaram expostos ao que são de verdade. Desbaratou quadrilhas do clientelismo, da corrupção, que praticavam a “lei de Gerson” como única regra. Exatamente o que a Lava Jato vem conseguindo demolir dia após dia.

Implodiu-se um sistema, e deu-se possibilidade de uma Nova Idade se instalar.

O raio que caiu em Roma reedita o antigo culto de Vesta, filha de Saturno, símbolo de beleza. Linda e virgem protegida por Júpiter, respeitada mantenedora do fogo sagrado e das virtudes.

Aqui só resta rezar por um raio de esperança, de utopia, por um evento abençoado que reacenda a autoestima e a confiança neste país.

Jornal O Tempo



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