Fernão Lara Mesquita
Assisto
com alguns dias de atraso a entrevista de Ricardo Paes de Barros no programa
Roda Viva que não perco. Costuma ser excelente. Mas este foi uma ginástica
angustiante.
O
esquema, como se sabe, são seis jornalistas e um entrevistado. Ja estou no 48º
minuto do programa onde só se fala de um assunto, e já não me contenho: o
Brasil tem diagnósticos perfeitos de todos os seus problemas mas não consegue
dar consequência a isso. Medimos tudo muito bem medido. Sabemos onde erramos e
porque erramos mas não nos permitimos consertar nada.
Sabemos,
por exemplo, que tem duas vezes mais gente no Bolsa Familia do que justificam
as proprias medições do governo. Mas nem os seis jornalistas, nem o
entrevistado mencionam a conclusão imediatamente subsequente: estão
distribuindo o dobro de bolsas para comprar votos.
Mas o
assunto aqui não é este. Volto ao que interessa. Não falta dinheiro para nada.
Ao contrário, o problema é que sobra dinheiro no Estado.
Sabemos
onde e porque falha a educação (e a saude, e a segurança publica, e etc.);
sabemos quem são os responsaveis por essas falhas. Mas nem o entrevistado, nem
os entrevistadores mencionam a conclusão imediatamente subsequente de que o que
falta é a sansão: o problema não se resolve e não tem solução porque partimos
da premissa de que o funcionário público, seja o que distribui o dinheiro, seja
o que o recebe mas não entrega o que foi contratado para entregar, é
indemissivel.
Segue a
entrevista mencionando cada um dos nossos fracassos e a sequencia é sempre a
mesma: sabemos o que fazer, sabemos como fazer, mas não fazemos porque não
fazer não acarreta consequência nenhuma.
A esta
altura ja estou no 56º minuto da entrevista e a palavra mágica continua não
sendo pronunciada: DEMISSÃO. Demissão de quem falha; demissão de quem não
cumpre. Nem mesmo em demissão para quem rouba se ousa falar.
Cada
jornalista daquela banca trabalha, acorda cedo, perde o feriado, cumpre
plantões, estuda, capricha e se sacrifica porque se não o fizer é demitido.
Cada jornalista naquela banca sabe que o funcionário falta, atende mal, não
cumpre plantões, não estuda, não capricha, não entrega e nãos e sacrifica
porque entregando ou não entregando, com crise ou sem crise nacional maior de
todos os tempos, ganha 21% de aumento e nem sonha com a hipótese de perder o
emprego e o salário que está, sempre, desde o mais baixo, na faixa mais alta do
padrão de salário do resto do Brasil.
Preventivamente
uma das entrevistadoras ja adianta, assim meio do nada, que “meritocracia é uma
falácia num ambiente de desigualdade de oportunidade” e recebe uma resposta
apropriada do entrevistado. “Se formos esperar o fim da desigualdade para
começar a aplicar a meritocracia estamos roubados”. Mas a palavra chave do
sistema meritocrático – DEMISSÃO – continua sem ser pronunciada.
Logo no
início da entrevista, alias, o entrevistado registrou que a maior desigualdade
de renda dentro do país está no setor publico (nos supersalários, nas
super-aposentadorias, ficou subentendido, porque falar claramente nisso também
é tabu). O setor privado, registra ele, reduziu a desigualdade de renda em
proporções gigantescas nos ultimos anos mas no ambiente do Estado, onde não ha
meritocracia, o processo foi o inverso, a ponto de afetar a média nacional. E
eles são só 11,1 milhões os funcionários públicos que consomem 45% do PIB
deixando menos de 3% para investimento público! A esmagadora maioria deles são
aqueles médicos e professores que ganham uma miséria, donde se conclui que os
superfuncionários que distorcem a media nacional são uma ínfima minoria.
A
enormidade do numero (dos supersalários e das super-aposentadorias) que desse
raciocínio simples se deduz é de uma obscenidade que clama aos céus mas a
reação da banca foi um silêncio sepulcral. Nenhum comentário, sequer. Ninguém
chutou a bola levantada. Batida a marca de 1 hora, 22 minutos e 48 segundos da
entrevista inteira, a palavra proibida não foi mencionada uma vez sequer.
Assim
não vai. Eu já ando com vergonha de me apresentar como jornalista…
Qualquer
dona de casa da favela sabe que se contratar uma empregada amanhã e começar a
conversa dizendo que a partir do momento da contratação ela é indemissível para
todo o sempre e é ela própria quem vai decidir o valor do seu salário, em 15
dias ela estará na casinha do cachorro e a tal servidora deitada na sua cama. O
chato do Brasil é que aqui não tem mistério nenhum. O Brasil foi despachado
para a casinha do cachorro.
Isso
aqui só começa a ter solução quando DEMISSÃO passar a ser uma ameaça tão real,
concreta e diária para os políticos e funcionários publicos quanto é para o
resto da humanidade, inclusive para todos os brasileiros que não são empregados
do Estado. Estes já não têm direito sequer ao que fazem por merecer porque
pagam pelo que os que comem 45% do PIB enfiam no bolso sem merecer. 12 milhões
já estão desempregados por conta disso, mesmo tendo entregado o tempo todo tudo
o que foram pagos para entregar.
Esse
sistema medieval de servidão só se reverte com o instituto do voto distrital
com recall. Pois passando o político que contrata os demais funcionários a ser
demissível de forma simples, rápida e direta por quem o colocou onde está,
serão demissíveis todos os funcionários que ele contrata porque demitir quem
não entregar o que é pago para entregar passará a ser a condição para que ele
próprio entregue o que tem de entregar e, assim, não seja, ele mesmo, demitido.
É,
digamos assim, uma cadeia de “sentimentos”…
Isso é
claro como a luz do sol. Mas enquanto os jornalistas forem os zelosos porteiros
desse tabu, seja porque tiveram a cabeça feita para isso, seja porque são
casados ou têm filhos, pais, irmãos e etc. que recebem do Estado sem entregar,
o Brasil não terá nenhuma esperança de cura.
VESPEIRO
Comentário do blog: Solução existe e não é complicada, é até
fácil. Basta a classe empresarial fechar as portas, não recolher mais impostos,
manter seus trabalhadores de braços cruzados em frente as empresas, e não
voltar atrás enquanto um novo Contrato Social não for debatido.
Estão
todos indo a falência mesmo, façam ou não o que sugiro; mesmo assim não mexem
um dedo.
Quem
financia as campanhas dos políticos ? Pois é. Corta essa linha de crédito
também. Garanto que em 24 horas aqueles inúteis começam um esforço concentrado,
trabalhando até sábado e domingo para mudar as Leis.
Mas por que
essa sugestão não é colocada em prática ? Simplesmente porque os representantes
das classes empresariais, aqueles que dominam as Associações à nível municipal,
as Federações à nível estadual e as
Confederações à nível nacional, fazem
parte do grupo que vive às custas do Tesouro Nacional, Estadual e Municipal.
São sócios no assalto aos cofres públicos. Com raríssimas exceções, cada vez
mais raras.
Outra
solução é a Intervenção Constitucional, Artº 142 da Constituição Cidadã do “conciliador”
Ulisses Guimarães. Aí já é outra
história.(MBF).
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