por Luiz Mello
A palavra homossexualismo tem sido então usada para designar a realidade de homens que sentem atração por outros homens ou mulheres por outras mulheres. Contudo, como esta palavra tem sido usada ao longo do tempo dentro de grande carga de preconceito, preferem a palavra homossexualidade, que teria um caráter mais neutro.
Ainda mais recentemente, outros pesquisadores tem preferido a palavra homoafetividade, por lembrar que a atração não diz respeito apenas a questões sexuais, mas envolve também troca afetiva, convivência amorosa e mesmo a criação de laços estáveis através de relacionamentos duradouros.
Embora a homoafetividade esteja presente em várias culturas e países diferentes, no passado ou na atualidade, no mundo ocidental ela foi encarada durante muito tempo como doença, transtorno ou desvio de comportamento. Preconceitos, discriminações e injustiças foram e ainda são praticadas.
Nas últimas décadas, contudo, um avanço geral da mentalidade social e científica tem trazido uma luz diferente para esta questão. Em países como EUA e Brasil, por exemplo, os compêndios e conselhos profissionais já retiraram a homoafetividade da categoria de transtornos mentais ou comportamentais.
O mesmo avanço se verifica nas questões legais, que buscam prevenir as práticas homofóbicas e igualar os direitos de heterossexuais e homossexuais, inclusive com o direito de constituir famílias reconhecidas como casamento.
Entre os estudiosos do comportamento humano, aos poucos tem sido construído um consenso de que a definição do desejo sexual não é exatamente uma “preferência”, mas sim uma orientação”.
Embora os estudos e as pesquisas tivessem concluído que não há base empírica ou científica para considerar o homossexualismo como anormalidade, ao invés de orientação sexual normal e saudável, o certo é que ainda há um contexto de preconceito social muito forte envolvendo a questão da homoafetividade. Isto se pode ver nos termos chulos e de menosprezo que ainda se usam em comentários e piadinhas, para designar os gays. Embora hoje os homossexuais contem até mesmo com proteções do campo dos Direitos Humanos, o certo é que ainda há no nosso meio, preconceito.
Infelizmente, este tipo de preconceito social foi e ainda é alimentado dentro de muitas religiões, que colocam a homossexualidade como prática desviante e mesmo pecado, crime contra a ordem divina ou sagrada. O certo é que muitos religiosos ainda não superaram seus próprios preconceitos pessoais e acabam confundindo suas convicções pessoais com verdades transcendentes.
Embora o Espiritismo seja filosofia de vida com base empírica e consequências éticas e espirituais e, portanto, baseada na livre investigação, no bom senso e na fé raciocinada, é certo certo que alguns autores espíritas ainda tem tratado do tema com certa dose de preconceito. Autores acabaram interpretando revelações mediúnicas de forma um tanto distorcida, exatamente por que cada um de nós enxerga o mundo através da lente do seu próprio modelo mental.
A principal destas revelações mediúnicas explica a tendência homossexual pelo fato de que, em vidas anteriores, aquele espírito ter feito mau uso do sexo. Razão pela qual, numa nova vida, reencarnaria num corpo diferente da sua tendência sexual predominante. Explicando melhor. Sabemos que o espírito não tem sexo, razão pela qual pode reencarnar tanto no sexo masculino como no feminino. E é exatamente o que acontece, porque o espírito, em seu processo evolutivo rumo à união com Deus, necessita de ambas as experiências, seja como homem ou como mulher, para desenvolver aspectos diferentes de seu próprio potencial divino.
Assim, por exemplo, o espírito que tenha reencarnado prioritariamente como homem e desenvolvido mais o lado masculino de sua personalidade, poderia reencarnar como mulher, para experimentar algo que se faz necessário para o seu aprendizado. O mesmo poderia se dar também no sentido contrário.
O problema aparece quando alguns autores espíritas entendem que, por causa desta explicação reencarnatória, isto significa que aquele espírito deveria obrigatoriamente “curar” a sua orientação homossexual ou então deveria abster-se de manter relacionamentos homoafetivos. Ambas estas conclusões estão equivocadas.
Lembremos de Allan Kardec, que nos diz que o Espiritismo nunca será ultrapassado pela ciência, pois se a ciência um dia comprovasse que a Doutrina estaria equivocada em algum ponto, ela se modificaria. Isto foi um grande insight de Kardec, pois embora acreditemos que o Espiritismo é fruto das revelações dos Espíritos Superiores, estas revelações só chegam a nós através do canal da mediunidade e do trabalho de entendimento, interpretação e organização deste conhecimento por parte dos encarnados.
Abstinência sexual forçada é conceito ultrapassado
Logo, se a ciência hoje, em diversos campos de investigação, especialmente no estudo da saúde, com a medicina/psiquiatria, e no estudo do comportamento, com a psicologia, não encontram bases para sustentar que a homoafetividade continue sendo considerada um distúrbio mental ou transtorno de comportamento, a Doutrina Espírita precisa levar isto seriamente em consideração.
Neste sentido, não se pode pensar mais em homossexualidade como algum tipo de anormalidade e, portanto, também não se pode mais falar em “curar” a homossexulidade. Lembre-se também que, no Brasil, o Conselho de Psicologia, proibiu aos psicólogos oferecer qualquer tipo de tratamento que tenha como mote tratar da homossexualidade como transtorno psicológico.
Por outro lado, sendo, considerado dentro do aspecto de normalidade de comportamento humano, também não há mais que aconselhar que indivíduos com orientação homoafetivo deveriam abster-se de ter relacionamentos homoafetivos, para cultivar uma pretensa elevação de comportamento através do celibato ou da abstinência afetiva ou sexual.
Se indivíduo reencarnou num corpo com o sexo oposto às suas tendências psicológicas, isto significa apenas que este espírito precisa passar por um determinado gênero de experiências, para sua própria evolução. Este gênero de provas não é mais nem menos do que a prova que um heterossexual possa ter em relação às suas experiências afetivas e sexuais.
O que o Espiritismo tem a dizer para um indivíduo homoafetivo é absolutamente o mesmo que tem a dizer a um heteroafetivo: utilize-se do sexo dentro do relacionamento afetivo sério e comprometido, evitando a promiscuidade e toda e qualquer prática que traga algum prejuízo para a saúde sua e de seu parceiro.
Quando o prazer dos sentidos se une ao prazer do coração, o sexo deixa de ser apenas o encontro erótico de dois corpos e passa a ser uma união sagrada de duas almas que experimentam a mais sublime de todas as experiências humanas: o amor !
Cabe a nós, espíritas, fazer coro com as forças do avanço da cultura, da filosofia e das ciências humanas. Cabe a nós contribuir com as forças evolucionárias que estão aos poucos construindo a era da regeneração. Cabe a nós receber no centro espírita todos os irmãos, independente do gênero de provas que tenham escolhido ou necessitado passar para a sua própria evolução.
Luiz Mello
Psicólogo e tarefeiro da Sociedade Espírita Entreposto da Fé
Florianópolis-SC
luizpsicologo@yahoo.com.br
Transcrito do Jornal Espaço Espírita – edição de MAI-JUN-JUL
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