Mais do que o governo, quem
enferrujou foi o poder público. O morador de Brasília percebe esse
fenômeno cada vez que olha pela janela, vai para a rua ou busca
completar a mais simples de suas necessidades. As empresas de
transportes coletivos alternam greves e paralisações por conta no atraso
no salário de seus funcionários. Os professores da rede pública, da
mesma forma.
A primeira tempestade da temporada deixa parte da cidade
sem energia durante horas. O trânsito conseguiu ficar pior, a segurança
pública anda em frangalhos, com assaltos sucessivos em plena via pública
e nas residências particulares. A polícia desapareceu, mas sumiu também
o governador derrotado em sua tentativa de reeleição. De seus
secretários, nem se fala. Hospitais públicos deixaram de servir
refeições aos doentes e pessoal de serviço. A falta de médicos é uma
constante.
Trata-se de uma realidade
exclusiva do Distrito Federal? Nem pensar. No país inteiro acontece a
mesma coisa, tornando-se desnecessário referir a corrupção envolvendo
empresas públicas e privadas, com ênfase para o desvio de bilhões de
reais para o bolso de dirigentes de um lado e de outro, com a devida
distribuição para partidos políticos.
Numa palavra, a falência
das instituições tornou-se nacional, ou seja, governos estaduais e
governo federal praticam uma ampla simbiose de desídia e até de crime,
sem que nenhuma reação possa ser detectada. Em final de mandato, sem
fazer caso das reeleições, presidente da República e governadores
comportam-se como se nada lhes dissesse respeito.
Fazer o quê? A
desobediência civil constitui uma tentação, mas o problema é que se todo
mundo parasse de pagar impostos, mais aumentaria o caos. A alternativa
seria ganhar as ruas, em protestos pacíficos ou não, mas quem mais
ficaria prejudicado senão o cidadão comum? Apelar para o direito de voto
e imaginar que tudo se resolveria com eleições não dá mais. Ainda em
outubro o país abriu mão de usufruir desse direito. Não adiantou nada.
Parte do eleitorado não se lembra em quem votou, o restante já esqueceu.
Um grupo de energúmenos, felizmente em minoria, clama pela volta dos
militares e da ditadura, despertando o repúdio generalizado da
população.
Esperar que o Judiciário
aponte uma saída seria mais ou menos como acreditar no Legislativo, ou
seja, enxugar gelo ou ensacar fumaça. Aguardar auxílio da Providência
Divina também não dá: seus variados e conflitantes representantes jamais
chegariam a um consenso.
Sendo assim… Sendo assim,
melhor faria a nação se prescindisse do poder público e ignorasse os
governos. Talvez do recolhimento coletivo venha a solução, numa volta
aos tempos imemoriais das tribos e das famílias. Começar de novo pode
ser melhor do que prosseguir.
Transcrito da Tribuna da Internet - 10/12/14.
Comentário do blog: Tem solução sim, professor. Vamos acabar com os partidos políticos e passar a escolha dos candidatos diretamente para o eleitor. Democracia já funcionava muito antes dos ingleses criarem os partidos, que só serviram para separar o povo em classes sociais e em ideologias irreconciliáveis.
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