por Carlos Alberto Sardenberg
Os países da Zona
do Euro, mais a Inglaterra, sendo democracias — e boas democracias — entraram
num intenso debate para encontrar um programa de saída da crise, aquela de
2008/09. A coisa ficou ainda mais complicada porque, ao problema do momento,
somaram-se as dificuldades estruturais do modelo europeu — gasto público
excessivo, inclusive com previdência, muitos impostos para pagar, exagerada
presença do Estado a inibir o setor privado, custo alto de produzir por lá etc.
Não por acaso, o
debate se prolongou. E as críticas tornaram-se constantes. Dizia-se: além de
tudo, os europeus estão num impasse político que bloqueia as decisões.
Era verdade, mas
foi o então primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, quem colocou
o dilema mais claramente. Ele perdeu a paciência no debate e saiu-se com esta:
“Ora, todo mundo aqui sabe o que precisa ser feito; o que ninguém sabe é como
ganhar as eleições depois.”
O pacote de
maldades — como aplicá-lo de modo que o eleitor perceba que aquilo é para o bem
do povo e mantenha seu voto? —, eis a questão com a qual os líderes políticos
se defrontam com frequência.
Não é fácil.
Aplicar a seco as medidas de ajuste, com frequência, provoca uma grande
resistência popular que, numa democracia, leva à derrota no Parlamento e nas
eleições.
Aí não adiantou
nada, nem para o governante nem para a população. O ajuste não só se interrompe
pelo caminho, como fica amaldiçoado.
O medo de cair
nessa situação leva ao imobilismo governante menos esclarecido e determinado.
Ele trata de empurrar com a barriga, adiar medidas o máximo possível — e esse é
o caminho certo para mergulhar numa crise cada vez pior.
Esse tipo de
governo, de direita ou esquerda, cai numa sequência de improvisos: aumenta um
imposto aqui, corta outro que suscitou mais protesto, eleva o preço da energia
elétrica, segura a gasolina, corta investimento, aumenta gasto com salários,
atrasa obras, concede mais benefícios, sobe juros para uns, diminui para outros
e assim vai.
A política
econômica perde eficiência, a insatisfação se generaliza.
Reconheceram? Pois
é.
Também é comum uma
outra tentativa: o candidato sabe o que precisa ser feito, não diz para não
perder votos, mas trata de fazer depois de eleito.
Em geral, é um
conselho de marqueteiros. Por exemplo: pessoal do entorno da presidente Dilma
comentou que ela não vai fazer “sincericídio”. Com isso, se queria dizer que
ela também sabe que o país precisa de ajustes, mas que não vai sair por aí
anunciando “medidas impopulares’’. Mais que isso: sua estratégia será a de
dizer que a oposição prepara essas maldades.
Se for assim, não
vai dar certo. No curso desta campanha, Dilma também precisará dizer que não
vai fazer aquilo que, dizem, consideraria necessário para depois. De certo
modo, ela já está fazendo isso, ao deixar para depois das eleições medidas como
aumento do preço da gasolina e do imposto da cerveja.
Ou seja, ela cai
num “mentiricídio”. Não dá para ganhar a eleição assim e depois dizer que, bem,
brasileiras e brasileiros, vamos precisar de algum sacrifício... Dizem que
seria seu último mandato, o que a liberaria para as maldades. Não é assim: o
governante não é só ele, é ele mais a sua turma, que vai continuar aí.
Tudo considerado, é
mínima a chance de a presidente Dilma, ganhando, mudar o curso de sua política
econômica.
Carlos Alberto Sardenberg é Jornalista.
(Transcrito do www.alertatotal.net de 16.05.2014)
Comentário do Blog:
"Era verdade, mas foi o então primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, quem colocou o dilema mais claramente. Ele perdeu a paciência no debate e saiu-se com esta: “Ora, todo mundo aqui sabe o que precisa ser feito; o que ninguém sabe é como ganhar as eleições depois.”
G E N I A L !!! Este é um dos problemas com nosso sistema político. Só que, enquanto está tudo parado, continuamos pagando impostos. E esse dinheiro vai parar onde, se nada é feito ? Pois é.
Aproxima-se nova eleição, mais uma, e os problemas vão se empilhando, sem solução. E são muito poucos os que aceitam debater um novo paradigma, pois é disto que se trata. Não adianta mais remendar essa nossa legislação, vencida e podre.
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