por Eduardo Aquino
Em tempos em que se discute a redução da maioridade penal, de 18
para 16 anos, pouca atenção se dá a um fenômeno cada dia mais
crescente: a maldade, a violência e a impunidade são fruto da ausência
firme de autoridades e de uma sociedade cada vez mais desigual,
trancada em si e alienada.
Tome-se o exemplo de um assalto em plena tarde de terça-feira em São
Paulo, em que dois menores de 11 e 14 anos (!) agrediram uma senhora em
um estacionamento de um shopping – antigo local seguro de compras – e,
perseguidos pela PM por vários quilômetros, acabaram batendo o carro em
outro e trocando tiros com os policiais. Entre os feridos por balas
perdidas e pelo acidente, cidadãos trabalhadores e inocentes, vítimas
de uma tragédia sem fim. Levados à delegacia, conforme reza o Estatuto
da Criança e do Adolescente, devido à idade mínima, ambos tiveram seus
pais chamados para se responsabilizar.
A passagem pela instituição que em São Paulo se chama “Casa” (antiga
Febem) não foi possível pela pouca idade. Entrevistada, uma das mães,
aos prantos, diz: “não tem jeito com esse menino, é o cão, saio de casa
às 4h da manhã, chego às 11h da noite, trabalho honestamente, mas ele
não vai para escola, fica na rua com má companhia, usando droga e
assaltando!”.
SEM LIMITES
Então, eu pergunto: cadê pai e mãe para dar castigo, punir,
estabelecer limites? Na sua ausência, quem deverá exercer esse papel?
Avós, familiares, vizinhos, creches sociais, babás para classes mais
abastadas? Ou seriam escolas em horário integral, projetos esportivos
comunitários, trabalho de ONGs que estimulassem arte, cultura,
ecologia? Pois o certo é que na fase pré-puberdade é que se moldam mais
firmemente a estrutura do caráter, as primeiras noções de cidadania,
ética e moral. E o que dizer da formação religiosa, que por séculos
inibia as tendências instintivas para violência, sexo, transgressões em
geral?
Um estudo que gosto de citar quando assunto semelhante vem à tona é
o caso dos adolescentes elefantes. Tudo começou quando um dos parques
de preservação de elefantes ficou superpovoado. A solução encontrada
foi transferir parte do bando para outro parque, a centenas de
quilômetros, na África do Sul. Para tanto, optou-se pelo embarque dos
menos pesados, portanto crianças e adolescentes. Tudo certo, até que,
passado algum tempo, chegaram notícias de comportamento atípico dos
elefantes, matando outros animais, invadindo tribos, destruindo
construções, agressivos entre si, entre outros relatos, o que desafiou
veterinários, biólogos e estudiosos.
SOCIEDADE MATRIARCAL
Após uma série de encontros e estudos, verificou-se que a sociedade
dos elefantes é matriarcal (a fêmea exerce poder e domínio) e que, sem
os adultos para controlá-los, puni-los, estabelecer hierarquia,
limites, o bando de elefantes adolescentes se tornara desajustado, com
má índole, violento e não sociável, e que não adiantaria retorná-los a
seus pais e parentes, pois houvera uma mudança de caráter irreversível.
Após polêmicas , o governo sul-africano autorizou que fossem abatidos e
mortos em caçada.
Quem se interessar por uma ciência chamada “etologia”, que compara o
comportamento animal com os seres humanos, poderá verificar situações
como esta relatadas entre chimpanzés, leões, etc. Então, pergunto: quem
será por nós? Pois, se por um lado, a revolta tem levado a tristes
casos de linchamento, somos nós, ricos, remediados e pobres que, como
coletivo, atendemos pelo nome de “sociedade”, quem tem a culpa, das
gerações de meninos de rua, órfãos de nós mesmos, gerados por um ventre
social doentio, desmamados à força, nutrindo-se do pó, das pedras,
vingando-se sem misericórdia nos tiros, tirando dos “bacanas” o que
julgam precisar para se igualar ao sonho consumista e às vaidades
fúteis.
A guerra urbana não distingue herói de bandido, bons ou maus. Somos
vítimas e autores das atrocidades que nos fazem ter prisão domiciliar,
sair para trabalhar, voltar correndo na lentidão dos transportes
públicos e privados, com muros altos, cercas, alarmes e muita, muita
reza!
(Transcrito da Tribuna da Internet)
Comentário do Blog:
Com o sistema político que temos, onde o setor público tem a liberdade de gastar todo dinheiro arrecadado sem prestar contas à sociedade, é muito difícil mudar alguma coisa. Simplesmente não sobra dinheiro para as obrigações constitucionais, pois o mesmo foi desperdiçado pelos que decidem. Desperdiçado de diversas maneiras, sendo o ROUBO apenas uma delas.
Enquanto não forem mudadas as regras que permitem que essas quadrilhas ajam impunemente, continuaremos comentando os mesmos assuntos, eternamente.
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