terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Como o PT mantém o Poder

por Marco Antônio Villa

O lulismo vai deixar sinais indeléveis no Estado brasileiro. E, pelo visto, deve permanecer no poder até, no mínimo, 2018. Inexiste setor do Estado em que não tenha deixado a sua marca. A eficácia na tomada do aparelho estatal é parte de um projeto de manietar o país, de controlar os três poderes.

O grande empresariado foi se transformando em um dos braços do Estado, aumentando a cada dia a sua dependência dos humores governamentais. Ter uma boa relação com o Palácio do Planalto virou condição indispensável para o sucesso. O empresário se tornou capitalista do capital alheio, do capital público.

Para a burguesia lulista, nenhum empreendimento pode ter êxito sem a participação dos fundos de pensão dos bancos e empresas estatais, dos generosos empréstimos do BNDES e da ação direta do governo, criando um arcabouço legal para facilitar a acumulação de capital - sem esquecer as obras no exterior, extremamente lucrativas e de risco inexistente, que as empresas recebem de mão beijada, sem concorrência, como as realizadas na África e na América Latina.

A petrificação da pobreza se transformou em êxito. Coisas do lulismo. As 14 milhões de famílias que recebem o benefício do Bolsa Família são, hoje, um importante patrimônio político. Se cada família tiver, em média, 4 eleitores, estamos falando de 1/3 do eleitorado. A permanência ad aeternum no programa virou meio de vida e de ganhar eleição. Que candidato a presidente teria coragem de anunciar o desejo de reformar o programa estabelecendo metas de permanência no Bolsa Família?

A máquina do Estado foi inchada por milhares de petistas e neopetistas. Além dos 25.000 (!!!) cargos de assessoria, nos últimos 11 anos foram admitidos milhares de novos funcionários concursados, estáveis, portanto. Diferentemente do que seria razoável, a maior parte não está nas áreas mais necessitadas. Um bom (e triste) exemplo é o das universidades federais, onde foi realizada uma expansão absolutamente irresponsável. Faculdades, campis, cursos, milhares de funcionários e docentes, para quê? 

Havia algum projeto de desenvolvimento científico? A criação dos cursos esteve vinculada às necessidades econômicas regionais? Foi realizado algum estudo das carências locais? Ou tudo não passou, simplesmente, de atendimento de demandas oligárquicas, corporativas e para dourar os números do MEC sobre o total de universitários no país?

Sem ter qualquer projeto para o futuro, foi acentuado o perfil neocolonial da nossa economia. Vivemos dependentes da evolução dos preços das commodities no mercado internacional - e rezando para que a China continue crescendo. Não temos uma política industrial e o setor foi perdendo importância. O investimento em ciência e tecnologia é ínfimo. A chamada nova economia tem importância desprezível no nosso PIB. A qualificação da força de trabalho é precária. Convivemos com milhões de analfabetos como se fosse um dado imutável da natureza.

A política externa amarrou o destino do Brasil a um terceiro mundismo absolutamente fora de época. Nos fóruns internacionais, o país se transformou em aliado preferencial das ditaduras e adversário contumaz dos Estados Unidos. Abandonamos o estabelecimento de acordos bilaterais para fomentar o comércio. Enquanto o eixo dinâmico do capitalismo foi se transferindo para a região Ásia-Pacífico, o Brasil aprofundou ainda mais sua relação com o Mercosul. Em vez de buscar novas parcerias, optamos por transformar os governos bolivarianos em aliados incondicionais.

Entre os artistas, a dependência estatal foi se ampliando. Uma simples peça de teatro, um filme, um show musical, nada mais é realizado sem que tenha a participação do Estado, direta ou indiretamente. Ter bons relações com o lulismo virou condição indispensável para a obtenção de “apoio cultural”. 

Nunca na história republicana artistas foram tão dependentes do governo - nem no Estado Novo. E cumprem servilmente o dever de obediência ao governo, sem qualquer questionamento.

O movimento sindical foi apresado pelo governo. Os novos pelegos controlam com mão de ferro os “seus” sindicatos. Recebem repasses milionários sem terem de prestar contas a nenhum organismo independente. Não vai causar estranheza se o Congresso - nesta escalada de reconhecer novas profissões - instituir a de sindicalista. A maioria dos dirigentes passou rapidamente pela fábrica ou escritório e está há décadas “servindo” os trabalhadores. Ser sindicalista tornou-se um instrumento de ascensão social. E caminho para alçar altos voos na política.


O filét mignon do sindicalismo são os fundos de pensão das empresas e bancos estatais. Seus diretores, do dia para a noite, entraram no topo da carreira de profissionais do mercado financeiro, recebendo salários e bonificações de dar inveja aos executivos privados. Passam a conviver com a elite econômica e são mimoseados pela burguesia financeira de olho nos recursos milionários dos fundos. Mas ser designado para a direção do Fundo de Amparo ao Trabalhador é o sonho dourado dos novos pelegos.

Em meio a esta barafunda, não causam estranheza o ataque, o controle e a sujeição do Supremo Tribunal Federal à horda lulista.

Os valores éticos e republicanos não combinam com a sua ação política, daí a necessidade de aparelhar todas as instâncias do Estado e de colocá-las ao seu serviço, como já fez com o Congresso Nacional, hoje um mero puxadinho do Palácio do Planalto.

Na república lulista não há futuro, só existe o tempo.


Pelo historiador Marco Antonio Villa no O GLOBO de 01-01-2014

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