Por Olavo de Carvalho
A reação geral da mídia impressa e
bloguística à presença de Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino na equipe de
articulistas da Folha de S. Paulo traz a prova definitiva de que o
"establishment" comunopetista não está disposto a aceitar nem mesmo
oposição jornalística, individual e apartidária.
Nem mesmo um pouquinho dela. Aqueles que
ainda se recusam a crer que estamos sob um regime de controle totalitário da
opinião pública são os melhores aliados desse sistema de dominação cínico e
intolerante, que cresce e se alastra sob a proteção da invisibilidade postiça
com que o encobrem, como ontem fizeram com o Foro de São Paulo.
Incluo nisso aqueles que, com ares de
guardiães da pátria, continuam pontificando sobre uma iminente "ameaça de
tomada do poder pelos comunistas". Esses só ajudam a camuflar a realidade:
os comunistas já estão no poder, já controlam os canais de ação política
e propaganda, e não existe nem mesmo quem possa tomar o lugar deles.
A passagem da "fase de transição"
para a da "implantação do socialismo" não está lenta porque alguém,
entre os líderes políticos, militares ou empresariais, lhe ofereça resistência.
Está lenta porque, após a primeira tentativa forçada com o Movimento Passe
Livre, a liderança comunista está em dúvida quanto ao próximo passo, natural
num país com a extensão, a diversidade regional e a complexidade deste Brasil.A
única oposição que essa gente enfrenta é a natureza das coisas, cuja
resistência passiva às mudanças forçadas é o pesadelo mais antigo e permanente
dos guias iluminados da espécie humana. Oposição deliberada, organizada, não
há. E as poucas vozes isoladas, se depender da classe jornalística a que
pertencem e que as odeia, serão caladas em nome da democracia e da liberdade de
opinião.
Na nomenclatura política reinante, os
liberais moderadíssimos Azevedo e Constantino já foram transferidos para a
"extrema direita", que está a um passo do "crime de ódio" e
do "terrorismo". Dizem que os dois só foram admitidos na Folha por
exigência pessoal do sr. Otávio Frias Filho, contra o consenso da reda ção. Se
isso é fato, fala alto em favor do sr. Frias, mas mais alto ainda, grita de
cima dos telhados a realidade de uma situação em que os empregados da empresa,
regiamente pagos e sem ter investido nela um tostão, agem como se fossem os
donos e ditam regras que o dono, juntando todas as reservas de coragem que lhe
restam após décadas de complacência gentil, ousa contrariar pela primeira vez
na vida.
Alguém duvida que, desde esse gesto, o sr.
Frias é diariamente amaldiçoado no prédio inteiro da Alameda Barão de Limeira
como "ditador" e "tirano" por ter ousado mandar no
que é seu, ainda que um tiquinho só? Não posso deixar de cumprimentá-lo pela
iniciativa de inserir, na massa de duzentos esquerdistas que dominam as páginas
da Folha dois articulistas liberais. Pelos critérios correntes, é um abuso, uma
invasão, um golpe de extrema direita.
Entrei na imprensa em 1965. Estou nessa
coisa há quase meio século, e nunca um dono de jornal veio me pressionar para
que escrevesse o que não queria ou deixasse de escrever o que pensava. Otávio
Frias pai, os Marinhos, Samuel Wainer, os Civitas, os Mesquitas e agora a
Associação Comercial de São Paulo sempre respeitaram minha lib erdade, mesmo
quando eu pensava o contrário deles. Pressões, tentativas de intimidação,
difamação e toda sorte de cachorradas vieram sempre da redação, daqueles
que eu considerava companheiros de trabalho, mas que se imaginavam meus
patrões.
Lembro-me de um colega, militante
comunista, que, tendo falhado à confiança do Partido nos anos 1960 foi
excluído não só do emprego mas da profissão jornalística com a maior
facilidade, mediante um simples zunzum passado de boca em boca nas redações
pela liderança comunista, como se fosse um decreto: "Esse aí? Esse não. É
mau caráter."Mau caráter sou eu, que vi isso com meus próprios olhos e
fiquei quieto, esperei vinte anos para denunciar a prepotência de jornalistas
que assim agiam ao mesmo tempo que posavam de coitadinhos, de perseguidos e até
de classe operária espoliada!
***
Um palhaço que se diz historiador
assegurou, em debate pela internet, que a CIA havia fornecido aos golpistas de
1964 ajuda de US$ 12 bilhões, seis vezes o custo da fabricação da bomba
atômica, numa época em que a totalidade dos investimentos estrangeiros no
Brasil não passava de 86 milhões. Em valores de hoje, 12 bilhões equivalem a 90
bilhões: 45 vezes os gastos totais da eleição americana mais cara de todos os
tempos.
Desafiado a provar a enormidade, apelou à
autoridade de outro igual a ele, sem nenhum documento comprobatório.
Como eu citasse o livro do espião checo
Ladislav Bittman, que confessava ter inventado a história da participação
americana no golpe, o homenzinho respondeu: "Se foi assim, por que ele não
escreveu um livro?" Tsk, tsk.
Feito isso, passou a me dar lições
sobre o rigor científico que deve prevalecer no uso historiográfico de
testemunhos, logo após ter repassado a seus leitores, como testemunho probante
e fidedigno, a historinha do sr. Paulo Ghiraldelli, segundo a qual eu teria
sido reprovado num vestibular da USP, o qual, aliás, jamais prestei. É esse
tipo de gente que ensina História nas universidades do Brasil.
Olavo de Carvalho é jornalista, ensaísta e
professor de Filosofia. Originalmente publicado no Diário do Comércio de São
Paulo em 4 de novembro de 2013 - http://www.dcomercio.com.br/index.php/opiniao/sub-menu-opiniao/117516-nem-um-pouquinho
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