terça-feira, 5 de março de 2019

Estrutura de poder

Martim Berto Fuchs

“Na maioria das sociedades, as elites tentam preservar o poder, não só mediante o acúmulo de riquezas, mas também por meio do controle das ideologias dominantes, em termos tanto do que é dito quanto do que é debatido. Os “silêncios sociais” servem para preservar as estruturas de poder, por meio de mecanismos que os participantes não compreendem e muito menos planejam”.-  “O Ouro dos Tolos” – Gillian Tett

Os burgos na Inglaterra surgiram no início do século XI, mas os burgueses só ocupariam o topo da pirâmide, antes ocupado pelos monarcas, após 1640, 1776, 1789 e, finalmente, com a queda do Império alemão, russo e austro-húngaro, em 1918. 

A servidão forçada acabou, e foi introduzida a servidão livre, isto é, o cidadão era livre para ganhar a mesma quantia que antes; apenas, se não trabalhasse 12 horas por dia para receber o suficiente para sobreviver, não mais podia ser punido. Agora era um homem “livre”, para escolher entre trabalhar em uma mina de carvão, uma tecelagem, ou ir morrer na guerra.

A substituição da monarquia pelo liberalismo, em termos sociais, pouco afetou a maioria da população. A maioria continuou pobre.
O que efetivamente mudou o rumo da história foi a liberdade de empreender, oferecida àqueles que o desejassem e mostravam qualidades para tanto, liberdade esta antes tolhida pela pouca visão da maioria dos monarcas hereditários.

No entanto, o que não mudou em nenhum desses países, foi a estrutura de poder. A estrutura herdada da Monarquia foi adaptada para continuar servindo a elite, elite agora dominada pela burguesia.
Escreveram a famosa Declaração dos Direitos do Homem, e á repudiaram na primeira oportunidade, vedando à quem não tinha ascendido à elite, os cargos de mando.

Assim como na Monarquia, quando o Rei e seu grupo nomeava e preenchia os principais cargos, nas Repúblicas recém formadas a nova elite também passou a nomear e preencher os principais cargos.

Introduziram o sufrágio universal, mas nem tão universal assim, pois a maioria não podia votar e muito menos ser votada.
Mas de qualquer forma, quem impunha os candidatos aceitáveis eram os detentores do poder, fazendo com que, na prática, a eleição fosse praticamente uma nomeação, apenas referendada pelos eleitores.

Com a revolta dos outros grupos, ideológicos ou não, que também queriam ascender ao poder, foram enfim criados os partidos; e cabia, então, como até hoje, aos donos desses partidos impor cada um seus candidatos. O partido que ganhava, indicava os integrantes para os cargos disponíveis.

No Brasil, particularmente, à cada nova eleição mais cargos foram criados, pois os ocupantes anteriores, através de estratagemas que eles legalizavam através de “leis”, permaneceram nas folhas de pagamento.

Temos há décadas um país economicamente inviável, porque o dinheiro dos impostos serve tão somente para honrar as folhas de pagamento do setor público, fazer publicidade das suas intenções e atender as “demandas” dos “sócios do erário”. Os empréstimos conseguidos, que ajudam a manter a estrutura de poder, não se pagam, são rolados. Nem mais os juros são pagos. Emitem-se títulos da dívida pública para também transferi-los para mais adiante. Ninguém sabe quando serão efetivamente pagos, se é que algum dia o serão.

De Rei para Presidente, de Conde para Governador, de Prior para Prefeito, a população e os empresários continuam sendo extorquidos. Antes para manter a Corte. Agora para manter o Estado, superdimensionado e criminosamente perdulário.

Mudar para nada mudar.


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