sexta-feira, 11 de março de 2016

Capitalismo bolivariano

Martim Berto Fuchs

Uma das raras declarações que lembram a filosofia geral da Reforma na China data de 1984. Nesse dia, o terceiro plenário do Comitê Central adotou uma resolução sobre as estruturas econômicas que assinala:

“A história nos mostrou que o pensamento igualitarista é um sério obstáculo à realização do princípio de repartição ‘a cada um segundo seu trabalho’.
Naturalmente, uma sociedade socialista deve garantir a seus membros uma melhoria progressiva na vida material e cultural da prosperidade coletiva.
Mas a prosperidade coletiva não pode e nunca poderá significar o igualitarismo absoluto.
As condições de vida do conjunto de membros de uma sociedade não podem elevar-se, simultaneamente, com a mesma rapidez.
Se interpretarmos a prosperidade coletiva como a igualdade absoluta e a prosperidade simultânea, não só ela não será atingida, como uma orientação desta ordem conduzirá à pobreza coletiva”.

Mudaram radicalmente a China, na época 21ª economia, enquanto o Brasil era a 11ª.

Não obstante declaração dessa ordem, feita pelos chineses há 30 anos, nossos bolivarianos sul-americanos, Brasil como expoente, continuam defendendo a igualdade na pobreza, tendo como exemplo sempre citado, o neofeudalismo cubano, experiência que já soma 56 anos e que será jogada na lata de lixo da história tão logo os senhores feudais da ilha passarem desta para a pior, pois ninguém que assassina todos contrários passa desta para a melhor.

Enquanto a URSS foi à falência com a economia na mão do Estado, os chineses mantiveram um governo autoritário, mas passaram a executar o modelo econômico que deu certo para todos países que se destacam: economia de mercado e na grande maioria, empresas privadas.

Outro exemplo nunca discutido, pois falar nele rende impropérios de toda ordem, foi a proposta econômica de Gottfried Feder, 1919, que serviu de base para a reconstrução da Alemanha após o desastre da 1ª grande guerra. Em nada difere da proposta chinesa de 1984. Diria até, que a chinesa é plágio.

Lamentavelmente nada disto serve de base para uma discussão com os nossos boi-livarianos, com sua proposta de manada, de coletivismo.
Sabe aqueles viseiras usadas pelos animais que puxam carroça, para que eles olhem só para frente, sem açambarcar nada do que se passa em volta ? Pois é, são essas viseiras que são distribuídas em sala de aula pelos “intelekituais” do socialismo moreno, ou, como modernamente se autodenominam, bolivarianos. E mais uma cartilha com dogmas e mantras, que são obrigados a decorar e repetir cada vez que abrem a boca.

A grande mentira do método Paulo Freire, início da lavagem cerebral já na adolescência, é fazer o jovem participar do mundo que de toda forma se abre à seu redor, está à seu redor, e aí sutilmente desaprovar o que bem ou mal está funcionando, capitalismo, propondo em seu lugar uma utopia anti-natural, socialismo, fracassada desde a origem. Como partem do pressuposto que o ser humano é um ser coletivo, nasce, vive, morre e vira pó, desprezam aperfeiçoar o individualismo.

Não obstante todos exemplos de fracasso ocorridos com a Rússia, com a Europa oriental, com a Coréia, com o Vietnã, com Cuba, com o Rio Grande do Sul, e com tantos outros lugares onde foi implantado o que aqui Brizola - nosso mais novo “herói nacional” - chamava de socialismo moreno, nossa esquerda, que vive de emprego sem trabalho no setor público, e vive bem, enquanto o trabalho é realizado pela iniciativa privada, não dá o braço a torcer e prefere ver todos padecendo, menos eles nos seus bunkers, do que discutir um novo Contrato Social, onde, logicamente, perderiam suas bocas ricas no Estado coletivista que eles defendem com unhas e dentes através dos seus sindicatos pelegos.

Como tenho repetido inúmeras vezes, a Oligarquia Financeira Nacional e Internacional adora ter clientes do tipo do nosso governo, relapsos, presunçosos e hipócritas, mas que ainda podem oferecer como garantia aos credores os nosso inesgotáveis recursos naturais, até agora existentes. Nossas empresas estatais saqueadas pelos políticos e as poucas empresas privadas que ainda resistem ao massacre do poder público, continuam servindo de isca para os rentistas, que sabem que mais dia menos dia, passarão para suas mãos à troco de banana. Prêmio extra.

Eles sabem que nossa economia, do jeito que é levada, aos trambolhões, não permite pagar a dívida contraída. E daí ? Já vivem disso há 200 anos e continuarão enriquecendo por mais 200 anos, só cobrando juro sobre juro. Nem precisam emprestar mais, basta rolar a dívida e capitalizar os juros, recebendo um pouco que seja à cada ano e festejando alegremente o aumento da mesma.

Já estamos falando abertamente em mais uma Intervenção, desta vez prevista na Constituição, mas não se debate minimamente o que fazer se acaso vier acontecer. Lamentável.

Vão novamente trocar apenas as moscas ? Sai a quadrilha do PT e penduricalhos, o que é necessário, enquanto ainda respiramos, e entra quem ? A quadrilha do PMDB, com Temer, Cunha, Renan, Sarney, Jucá, etc, etc, que nem chefe tem, pois trabalham em condomínio, onde vão se cambiando os chefetes de ocasião ? Partido onde mandam interinamente aqueles que ainda não foram presos ?

Ou vamos alternar com o pessoal do metrô de SP ? Serra, Alkmin, Kassab & Cia.Ilimitada ? Maluf, quem sabe ? Para que lado se olhe, só dá processo engavetado nas entranhas do judiciário, judiciário todo indicado pelos acima citados, o que aliás, será um dos grandes desafios à ser enfrentado por quem intervir nesse balaio de gatos.

Ou vão manter a governança na mão dos interventores até que seja eleito um novo governo ? Um novo governo eleito em que sistema ? Candidatos novamente impostos à revelia dos eleitores, apenas por novas quadrilhas ? Quer dizer, os atuais atores que não forem impedidos por um Ato qualquer, se reúnem em novas máfias e recomeçam a mesma cantilena de mais de 100 anos ? Novos João Santana’s e Duda’s Mendonça vendendo a sua mercadoria vencida e estragada, e recebendo seus pixulecos no exterior, sem registro, na cara do nosso judiciário indicado pelos bandidos ?

Já deveríamos estar discutindo novos paradigmas; mas não, ainda nos baseamos em Montesquieu com sua divisão de poderes do século XVIII, em Marx com sua proposta de pobreza coletiva e universal e em Friedmann com a apologia da lei do mais forte, esperto e inescrupuloso.

Resultado: a dicotomia esquerda x direita, a luta de classes, a concentração da riqueza e a expansão da pobreza permanecem, para gáudio das “zélites”, que desde 2003 tiveram que dividir com o sindicalismo pelego, os novos ricos, o seu cobiçado e centenário butim.



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