quinta-feira, 17 de março de 2016

A Herança de Stalin

Carlos I. S. Azambuja

Stalin sempre seguiu à risca e teve como lema uma famosa frase de Lenin:”O importante não é derrotar o inimigo e sim eliminá-lo”.

Stalin teve bons mestres. Mas como fez ele para livrar-se dos que se interpunham em sua caminhada para o Poder? A forma por ele encontrada foi negar a validade da discussão. Para isso ele achou uma solução: destruir o Partido usando a NKVD nos anos de 1936/1938.

Nas farsas jurídicas que foram os “julgamentos” dos mais importantes líderes bolcheviques – ZINOVIEV, KAMENEV, YAGODA, BUKHARYN, RYKOV, KRESTINSKY, e muitos outros, todos acusados de “tramar a destruição do Estado Soviético; tentar restaurar o capitalismo; conspirar para a eliminação física dos altos dirigentes”, o terror fez que quase todos os acusados “confessassem seus crimes”, e todos foram executados.

Todavia, os julgamentos públicos eram apenas a ponta do iceberg, pois nos campos de concentração milhares de oposicionistas eram simplesmente fuzilados sem qualquer julgamento.

Nem os exilados a milhares de quilômetros do Kremlin, como foi o caso de Trotski, assassinado no México em 1940, foram poupados por Stalin. Há uma explicação para a omissão, acomodamento e falta de reação ao rolo compressor de Stalin, impedindo o que Soljenitsyn – também uma das vítimas – denominou em seu livro “Arquipélago Gulag:que uma Nação inteira fosse julgada nos esgotos da ditadura”.

Então, já havia uma estrutura policial dedicada a detectar a contra-revolucção e seus membros recebiam gordas recompensas para fazê-lo. Por outro lado, o expurgo beneficiava muitos, que ficavam com os empregos e apartamentos dos mortos, num tempo em que os benefícios de pertencer à elite do regime já começavam a existir.

Era a Nomenklatura se desenvolvendo e ganhando espaços, ou melhor, a burocracia stalinista, onde cada peça da máquina tinha apenas uma ambição: a de permanecer no lugar, sem ser atingida pelas suspeitas do poderoso chefão.

O ponto culminante desse processo foi a deificação do Secretário-Geral, o culto à personalidade. Num estilo que lembrava Luiz XIV e sua corte, os subordinados cultivavam o mito de Stalin, atribuindo-lhe todos os progressos e todas as conquistas.

O que mudou na URSS após a morte de Stalin? Raymond Aron responde: “O passado não foi enterrado, pois não devemos nos esquecer que há, ainda, um milhão e meio de prisioneiros nos gulags e de 5 a 10 mil dissidentes internados em hospitais psiquiátricos”.

Após a morte de Stalin, uma única coisa realmente mudou na União Soviética: os métodos de gestão e de racionalização do terror. Essa mudança foi acompanhada por uma das raras contribuições do socialismo real à tecnologia aplicada do mundo contemporâneo: a utilização da psiquiatria para fins policiais.

A repressão foi a única indústria russa que assinalou fantásticos progressos em eficiência e consta da pauta de exportação para diversos países ainda socialistas, onde a classe operária, teoricamente no Poder, insiste em contestar a si própria.

Pode-se ter, agora, na União Soviética e nos países dominados pelos partidos-irmãos, um grau satisfatório de submissão social, consumindo um número quase negligenciável de cadáveres.

Carlos I. S. Azambuja
Historiador.

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