quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Governo acaba com 'Bolsa Empresário' e fica com dívida de R$ 214 bilhões

Folha de SP/UOL

Depois de despejar R$ 362 bilhões até 2014 em empréstimos subsidiados do BNDES para a compra de máquinas e equipamentos, o governo encerrou o PSI (Programa de Sustentação de Investimentos) no final do ano passado com uma conta para pagar de pelo menos R$ 214 bilhões.

A maior parte desse valor (R$ 184 bilhões) entrará na contabilidade da União como dívida pública.

O restante (R$ 30 bilhões) terá de ser coberto pelo Tesouro até 2041 para compensar a diferença entre os juros pagos pelo BNDES à União na captação dos recursos (mais elevados) e as taxas cobradas dos tomadores dos empréstimos (abaixo da inflação).

Conhecido ironicamente como "Bolsa Empresário", o PSI não ofereceu à economia um estímulo à altura dos desembolsos realizados desde 2009, quando o programa foi criado para ajudar a tirar o país da crise global.

Os benefícios foram pontuais em alguns setores e maiores para grandes empresas, que normalmente têm acesso a outras fontes de financiamento.

Por meio da Lei de Acesso à Informação, a Folha obteve as planilhas de quase 1 milhão de empréstimos do PSI, que liberou R$ 362,3 bilhões, entre 2009 e 2014, cobrando juros abaixo da inflação. Os dados de 2015 ainda não foram fechados.

A análise deste material revelou que 1% dos 315 mil beneficiados concentrou 56% dos empréstimos, cerca de R$ 203 bilhões. Desse grupo só fizeram parte grandes empresas e até empresários.

A campeã individual de crédito foi a Petrobras, maior empresa do país, que pegou quase R$ 4 bilhões. No momento em que a estatal foi forçada pelo governo a manter o preço da gasolina abaixo do valor real, a companhia tomou R$ 1 bilhão com juros de 3% ao ano para pagar em 10 anos, começando só após o segundo ano (carência).
Uma centena de grandes empresários, a maioria do agronegócio, também recorreu ao PSI. Entre eles está Erai Maggi. Conhecido como o "rei da soja", ele conseguiu R$ 297,6 milhões. A ex-prefeita de Campos de Júlio (MT), Claides Masutti também está na lista. Ela perdeu o cargo recentemente por distribuir churrasco a eleitores.

CONTROVÉRSIA
Economistas divergem sobre a política de juros subsidiados. Uns a defendem como forma de estimular a indústria e o crescimento nacional. Outros afirmam que ela agrava as contas públicas.

A análise dos dados macroeconômicos mostrou que o aumento dos empréstimos do PSI não significou um crescimento proporcional de benefícios para a economia.

Existe pouca relação entre os recursos liberados pelo programa e a geração de emprego, renda e até o investimento dos tomadores.
"O subsídio infla artificialmente o retorno de um investimento. Se ele for suficientemente alto, qualquer projeto de investimento torna-se viável. Mesmo aqueles que não deveriam ser financiados", diz Vinicius Carrasco, economista da PUC-RJ.

Para as empresas, o PSI permitiu antecipar investimentos. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a defender o programa no Congresso. Disse que, sem ele, a recessão atual seria mais grave.
Já para Carlos Oberto da Costa, fazendeiro de Unaí (MG), que tomou R$ 26 milhões no BNDES, ninguém precisa de subsídio. "A gente precisa é de juro adequado."

Folha de SP/UOL


Comentário do blog:  tem um aspecto que poucos comentam. É que dependendo da situação econômica, o valor da taxa de juros é secundária chegando ser até irrelevante.
Cenário 1. Digamos que a empresa tomou dinheiro emprestado à 12%/ano com inflação de 6%/ano. Um absurdo, sem dúvida, mas em anos bons, pagável.
Cenário 2. Digamos que a empresa tomou dinheiro emprestado à 6%/ano com inflação de 12%/ano e economia em recessão. Se a recessão for por pouco tempo, a empresa se salva. Se a recessão for por muito tempo, como esta de agora está prometendo, a empresa quebra.

O exemplo é de fatos reais.(MBF).

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