segunda-feira, 18 de julho de 2016

Simplesmente privatizar é solução ?

Martim Berto Fuchs

Tenho minhas dúvidas. Creio que se está matando a galinha para não dar de comer as raposas.

Em 1930 Getúlio perdeu a eleição para Washington Luiz, quando ambos fraudaram escandalosamente as urnas, Washington em SP e Getulio no RS. Acontece que SP tinha mais eleitores. Washington Luiz ganhou as “eleições”. O que fez Vargas, apoiado pelos militares ? Alegando fraude, desfechou aquilo que se convencionou chamar de Revolução de 30.

A fraude nas urnas foi o motivo apresentado. O verdadeiro motivo foi derrubar o liberalismo da dupla café (SP) com leite (MG), que dominava o cenário político e econômico desde a dita proclamação da república.

Acostumados que estavam de auferir suas rendas, seus lucros, do trabalho escravo, após a Lei Áurea os liberais brasileiros optaram por tomar o governo Monárquico para si, e manter a escravidão com outra vestimenta.

Para isso aceitaram e ajudaram proclamar a república, o que ensejou a mudança nas regras da sucessão; o novo Monarca não seria mais da família Imperial, e sim aquele que os liberais escolhessem.

Neste contexto, os liberais paulistas e mineiros passaram a dominar a economia brasileira, usando um simulacro de democracia, com eleições de cartas marcadas, ou, candidatos escolhidos entre os seus e urnas fraudadas.

Não se preocuparam com o que estava acontecendo com os trabalhadores, a maior parte deles libertos em 1888. Se antes eram sustentados pelos seus proprietários em troca do trabalho sem remuneração, na “república”, quando não mais serviam para o trabalho mal pago, ficaram à Deus dará, ou, abandonados à sua própria sorte.

De tal forma que Getúlio e os militares acertaram em desalojar os liberais do poder. As primeiras medidas foram de amparo ao trabalhador, fato que na Alemanha já estava em uso há 50 anos, desde Bismark. E a segunda medida foi a industrialização a partir da estatização, em uso nos países bem sucedidos da Europa, após o fracasso em 1929 do liberalismo americano.

Atualmente é fácil condenar a estatização da economia, mas na época, com a elite liberal que tínhamos, talvez não houvesse outra solução.

Mas e hoje, ao se defender a desestatização, ou privatização, temos por acaso uma elite liberal amadurecida para desta vez assumir esse encargo e dar maior satisfação aos trabalhadores brasileiros, que afinal, junto com o resultado econômico, deveria ser a razão da nossa existência ? Temos mesmo ?

Em que nossos atuais liberais se diferem daqueles de 1930 ? Pelo que leio diariamente, quase nada. Então, onde está a decantada vantagem apregoada por eles ? Pelo que sei, continuam defendendo o direcionamento do resultado da produção (lucro) apenas para o capital, e o trabalhador, parte integrante e indispensável da produção, independente de ter ou não capital, deve se contentar com o salário, salário este sempre defasado pela inflação, que no Brasil é constante ?

O descalabro produzido pelos nossos governantes nos últimos 13 anos, comandado pela incompetência congênita das esquerdas desta vez lideradas pelo PT, tem sim o DNA dos políticos liberais e do empresariado encastelado nas corporações patronais. Estiveram irmanados no assalto as empresas estatais e por tabela aos cofres públicos. E agora que faliram quase todas, querem simplesmente privatizá-las ? Para quem ? Novamente para os amigos ?

Houve uma tentativa real de salvá-las, com a Lei de Responsabilidade das Estatais. E o que aconteceu ? Políticos de todos matizes procuraram impedir a correta edição desta Lei, pois impediria a ação deletéria dos mesmos sobre as empresas.

Então, vamos examinar melhor o papel desempenhado pelos liberais de hoje, em relação à 1930. Não estão me parecendo muito diferentes daqueles da época de Getúlio, cuja regra então era, primeiro os meus e depois, se sobrar, os teus.

A solução liberal de acabar com os galinheiros para não dar de comer às raposas, tem que ser repensada. Principalmente porque, a bem da verdade, o que eles não querem é alimentar as raposas dos outros, só as suas. Afastar todas raposas dos galinheiros não seria uma solução melhor, ao mesmo tempo em que paramos de construir novos galinheiros ?

Temos que mudar o Brasil sim, mas sem safadezas. Destas já estamos cheios. Mudar é mais do que apenas reformar. Temos um passado para nos orientar; o que deu certo e o que deu errado, sem contar o histórico de outros países.

Se o socialismo fracassou tanto no desenvolvimento quanto na justiça social (nivelou na pobreza e sem liberdade), liberalismo também não resolveu, pois na justiça social estava e está a dever, inclusive pelo fato de sua filosofia considerar como meta apenas o capital, e justiça social uma decorrência deste. Não alcança a todos que participam da produção da riqueza e nem se preocupa com isso.

Logo, um novo Contrato - Estado é Contrato - tem que ser implantado, visando conseguir desenvolvimento com justiça social, tendo a liberdade como âncora. Quem detém o capital ganha mais, mas todos que trabalham ganham e não apenas para sobreviver em favelas. 


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