Martim Berto Fuchs
Tenho
minhas dúvidas. Creio que se está matando a galinha para não dar de comer as
raposas.
Em 1930
Getúlio perdeu a eleição para Washington Luiz, quando ambos fraudaram escandalosamente
as urnas, Washington em SP e Getulio no RS. Acontece que SP tinha mais
eleitores. Washington Luiz ganhou as “eleições”. O que fez Vargas, apoiado
pelos militares ? Alegando fraude, desfechou aquilo que se convencionou chamar
de Revolução de 30.
A fraude
nas urnas foi o motivo apresentado. O verdadeiro motivo foi derrubar o
liberalismo da dupla café (SP) com leite (MG), que dominava o cenário político
e econômico desde a dita proclamação da república.
Acostumados
que estavam de auferir suas rendas, seus lucros, do trabalho escravo, após a
Lei Áurea os liberais brasileiros optaram por tomar o governo Monárquico para
si, e manter a escravidão com outra vestimenta.
Para
isso aceitaram e ajudaram proclamar a república, o que ensejou a mudança nas
regras da sucessão; o novo Monarca não seria mais da família Imperial, e sim
aquele que os liberais escolhessem.
Neste
contexto, os liberais paulistas e mineiros passaram a dominar a economia
brasileira, usando um simulacro de democracia, com eleições de cartas marcadas,
ou, candidatos escolhidos entre os seus e urnas fraudadas.
Não se preocuparam
com o que estava acontecendo com os trabalhadores, a maior parte deles libertos
em 1888. Se antes eram sustentados pelos seus proprietários em troca do
trabalho sem remuneração, na “república”, quando não mais serviam para o
trabalho mal pago, ficaram à Deus dará, ou, abandonados à sua própria sorte.
De tal forma que Getúlio e os militares acertaram em desalojar os liberais do poder. As primeiras medidas foram de amparo ao trabalhador, fato que na Alemanha já estava em uso há 50 anos, desde Bismark. E a segunda medida foi a industrialização a partir da estatização, em uso nos países bem sucedidos da Europa, após o fracasso em 1929 do liberalismo americano.
Atualmente
é fácil condenar a estatização da economia, mas na época, com a elite liberal
que tínhamos, talvez não houvesse outra solução.
Mas e
hoje, ao se defender a desestatização, ou privatização, temos por acaso uma
elite liberal amadurecida para desta vez assumir esse encargo e dar maior
satisfação aos trabalhadores brasileiros, que afinal, junto com o resultado
econômico, deveria ser a razão da nossa existência ? Temos mesmo ?
Em que
nossos atuais liberais se diferem daqueles de 1930 ? Pelo que leio diariamente,
quase nada. Então, onde está a decantada vantagem apregoada por eles ? Pelo que
sei, continuam defendendo o direcionamento do resultado da produção (lucro)
apenas para o capital, e o trabalhador, parte integrante e indispensável da produção,
independente de ter ou não capital, deve se contentar com o salário, salário
este sempre defasado pela inflação, que no Brasil é constante ?
O
descalabro produzido pelos nossos governantes nos últimos 13 anos, comandado
pela incompetência congênita das esquerdas desta vez lideradas pelo PT, tem sim
o DNA dos políticos liberais e do empresariado encastelado nas corporações
patronais. Estiveram irmanados no assalto as empresas estatais e por tabela aos
cofres públicos. E agora que faliram quase todas, querem simplesmente
privatizá-las ? Para quem ? Novamente para os amigos ?
Houve
uma tentativa real de salvá-las, com a Lei de Responsabilidade das Estatais. E
o que aconteceu ? Políticos de todos
matizes procuraram impedir a correta edição desta Lei, pois impediria a ação
deletéria dos mesmos sobre as empresas.
Então,
vamos examinar melhor o papel desempenhado pelos liberais de hoje, em relação à
1930. Não estão me parecendo muito diferentes daqueles da época de Getúlio, cuja regra então era, primeiro os meus e depois, se sobrar, os teus.
A
solução liberal de acabar com os galinheiros para não dar de comer às raposas, tem que
ser repensada. Principalmente porque, a bem da verdade, o que eles não querem é
alimentar as raposas dos outros, só as suas. Afastar todas raposas dos galinheiros não seria uma solução melhor, ao mesmo
tempo em que paramos de construir novos galinheiros ?
Temos
que mudar o Brasil sim, mas sem safadezas. Destas já estamos cheios. Mudar é
mais do que apenas reformar. Temos um passado para nos orientar; o que deu
certo e o que deu errado, sem contar o histórico de outros países.
Se o socialismo
fracassou tanto no desenvolvimento quanto na justiça social (nivelou na pobreza
e sem liberdade), liberalismo também não resolveu, pois na justiça social estava
e está a dever, inclusive pelo fato de sua filosofia considerar como meta
apenas o capital, e justiça social uma decorrência deste. Não alcança a todos
que participam da produção da riqueza e nem se preocupa com isso.
Logo, um
novo Contrato - Estado é Contrato - tem que ser implantado, visando conseguir desenvolvimento
com justiça social, tendo a liberdade como âncora. Quem detém o capital ganha mais, mas todos que trabalham ganham e não apenas para sobreviver em favelas.
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