Deutsche Welle
(*)
Ainda
sob o impacto do Brexit, a Europa se vê diante de mais um problema: bancos da
Itália precisam de bilhões de euros para se reerguer, enquanto FMI reduz
previsão de crescimento para o país. Quem vai pagar a conta?
Quanto
mais se olha para alguns problemas na Europa, piores eles parecem ficar. O
setor bancário italiano é um deles. A Autoridade Bancária Europeia (EBA) estima
em 200 bilhões de euros o volume de "créditos podres", ou seja,
empréstimos sem cobertura concedidos por bancos italianos; outros órgãos
calculam que a soma chegue a até 360 bilhões de euros.
A
dimensão desse volume depende de como ele é calculado. Mas a mensagem é clara:
se empréstimos dessa ordem não forem honrados, o Estado italiano não poderá
arcar sozinho com as dívidas, e também a comunidade de países da zona do euro
ficaria sobrecarregada.
Um
problema básico é a conjuntura econômica ainda fraca na Itália. "A
economia italiana quase não cresceu, estando em parte em recessão", afirma
Martin Faust, professor de Economia na Frankfurt School of Finance.
"A
situação das empresas e das famílias italianas não é boa, e algumas já não
podem pagar juros e amortizações."
Nesta
terça-feira (12/07), o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu seu
prognóstico de crescimento para a Itália. Neste ano, a terceira maior economia
da zona do euro deverá crescer "pouco menos de 1%" e, no próximo, 1%,
informou o FMI. Anteriormente, a previsão de crescimento era de 1,1% para 2016
e 1,25% para 2017.
De
acordo com o FMI, o referendo no Reino Unido em que se decidiu pelo Brexit – a
saída do Reino Unido da União Europeia – aumentou a volatilidade dos mercados
financeiros e os riscos para a Itália. O país está diante de "desafios
monumentais", declarou o fundo.
Problema de longa data
Os
bancos italianos vêm enfrentando dificuldades há anos. No final de 2014, nove
instituições financeiras do país não passaram em testes de estresse realizados
em toda a Europa. O maior buraco de capital foi verificado no Monte dei Paschi
di Siena (MPS), o banco mais antigo ainda operante no mundo.
Desde
então, muita coisa aconteceu, mas provavelmente não o suficiente. No início de
2015, uma diretriz da União Europeia (UE) estipulou que esses erros do passado
não deveriam se repetir. Desde então, bancos não podem ser facilmente resgatados
com o dinheiro do contribuinte, como aconteceu após a crise financeira de 2008.
Antes de o Estado entrar em ação, acionistas e credores devem arcar com as
responsabilidades.
"Detentores
de obrigações bancárias e mesmo aqueles que possuem poupanças que vão além dos
limites legais mínimos também têm razões para temer a perda de parte de seu
dinheiro", explicou Faust. "Isso não é realmente um estímulo para a
estabilidade bancária, pois agora ficou difícil para muitos investidores
emprestar dinheiro aos bancos. Eles estão com medo de, no final, servirem de
avalistas."
Círculo vicioso
Conjuntura
fraca, investidores hesitantes – em vez de diminuir, os problemas dos bancos
italianos aumentaram cada vez mais ao longo do tempo. E não há fim à vista.
"É de se esperar que as perdas bancárias cresçam consideravelmente nos
próximos anos", avaliou o professor da Frankfurt School of Finance.
"O
problema é que os empréstimos não honrados também reduzem o capital dos bancos.
E sem capital próprio, eles não podem sobreviver", acrescentou o
professor. Trata-se de um círculo vicioso, pois é justamente em tempos de
conjuntura fraca que as empresas precisam de bancos fortes.
No
início de 2016, o governo italiano entrou em acordo com a UE sobre a
possibilidade de repassar "créditos podres" para chamados "bad
banks", ou seja, bancos que possam concentrar ativos tóxicos. Em abril,
foi criado o fundo de resgate Atlante, que recebeu quase 4 bilhões de euros dos
bancos italianos.
Pouco
depois de sua criação, o Atlante teve muito que fazer: dois bancos regionais
tiveram de ser ajudados, primeiramente o Banca Popolare di Vicenza, e depois o
Veneto Banca. Isso consumiu metade do volume do Atlante, e desde então há uma
controvérsia sobre quem vai preenchê-lo novamente. "Muitos bancos não
dispõem de capital para aumentar esse fundo de resgate", disse Faust.
Nova ajuda governamental?
Durante
uma cúpula da União Europeia no fim de junho, o primeiro-ministro italiano,
Matteo Renzi, apresentou o plano de utilizar novamente o dinheiro dos
contribuintes para ajudar os bancos. Renzi pretende abastecer as instituições
financeiras com até 40 bilhões de euros de capital novo, para que possam voltar
a respirar. A justificativa do primeiro-ministro: a votação do Brexit criou uma
situação excepcional em que tais auxílios são permitidos.
Uma
desculpa, afirma Thomas Hartmann-Wendels, professor de Economia da Universidade
de Colônia. "Não existe nenhuma correlação entre o Brexit e os atuais
problemas dos bancos italianos."
Embora o
professor defenda que os institutos financeiros italianos precisam ser
saneados, ele afirma que isso deve acontecer segundo as novas regras:
primeiramente, a conta deve ser paga pelos acionistas e credores, depois pelo
Estado. "Após a crise financeira, prometeu-se que os contribuintes nunca
mais assumissem a responsabilidade por negócios arriscados", diz Hartmann-Wendels.
"Agora tudo isso é colocado em questão."
Segundo
o professor, Renzi está sofrendo pressão política e as garantias estatais só
incorrem em custos quando surge uma emergência. "Esta é a solução mais
fácil, mas, no longo prazo, não leva a uma saída do impasse."
A próxima prova
O drama
interminável mostra claramente os pontos de ruptura da união monetária. A
economia da Itália não consegue avançar, porque faltam reformas fundamentais e,
para as condições do país, o euro é demasiadamente caro. E quanto mais longa for
a crise, mais problemas virão.
"As
crises que temos na zona do euro ainda estão longe de estarem resolvidas",
aponta Faust. "Nos últimos anos, os problemas estruturais só foram
adiados, mas não resolvidos."
Dado o
grande volume de "créditos podres" na Itália, Hartmann-Wemdels espera
que, mais cedo ou mais tarde, o contribuinte europeu sirva de avalista dos
bancos. "Isso será necessário. O Estado italiano não conseguirá arcar
sozinho com o problema, já que está profundamente endividado."
Para
recapitalizar seus bancos, a Espanha recebeu, entre 2012 e 2014, por volta de
40 bilhões de euros do fundo europeu de resgate financeiro. As negociações com
vista a um programa semelhante para a Itália poderiam ser uma prova de fogo
para as relações já tensas dentro da união monetária.
DW
(*)Comentário do blog: não
por acaso o país mais corrupto da Europa Ocidental, comandado por muitos anos
pelo Lulla italiano, Berlusconi.
É sempre
bom para nós brasileiros lembrar, que lá eles enterraram a Operação Mãos
Limpas, onde os dois principais partidos deixaram de existir, mas permitiram o surgimento
de outros, e que continuaram a corrupção em alta escala.
Que nos
sirva como alerta.(MBF).
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