Carlos I. S. Azambuja
O comunismo contemporâneo é produto
de uma série de causas históricas, econômicas, políticas, ideológicas,
nacionais e internacionais. Uma teoria categórica sobre sua essência não pode
ser inteiramente exata.
A essência do comunismo contemporâneo
não poderia ser observada enquanto, no curso de sua evolução, ela não se
revelasse até as entranhas. Esse momento chegou, e não poderia deixar de chegar
porque o comunismo entrou numa fase particular de desenvolvimento: a maturidade.
Tornou-se possível, então, revelar a
natureza do seu poder, de suas formas de propriedade e ideologia. Enquanto o
comunismo ainda evoluía e nele predominava a ideologia, era quase impossível
devassá-lo completamente.
Ele se revelou gradualmente, na medida em que se desenvolvia, e ainda não se pode considerá-lo como consolidado, por não ter completado sua evolução.
A maioria das teorias sobre o comunismo, entretanto, encerram
alguma verdade. Mostram alguns aspectos dele ou de sua essência.
Há, sobre esse assunto, duas teses básicas. A primeira classifica
o comunismo contemporâneo como uma forma de religião nova. Mas ele não é
religião e nem Igreja, embora contenha elementos de ambas.
A segunda tese apresenta o comunismo como um socialismo
revolucionário, isto é, algo que nasceu da indústria moderna, ou do
capitalismo, e do proletariado e suas necessidades. Na verdade, o comunismo
contemporâneo começou em países bem adiantados como uma ideologia socialista e
uma reação contra o sofrimento das massas trabalhadoras, na revolução industrial.
Depois, porém, quando atingiu o Poder em regiões subdesenvolvidas,
transformou-se em algo inteiramente diferente: um sistema de exploração que se
opõe aos interesses do próprio proletariado.
Já se formulou também a tese de que o comunismo contemporâneo seja
apenas uma forma de despotismo, posta em prática tão logo certos homens chegam
ao Poder. A natureza da economia moderna, que demanda em todos os casos a
administração centralizada, possibilitou a esse despotismo tornar-se absoluto.
O comunismo como uma forma moderna de despotismo, não pode deixar de aspirar ao
totalitarismo.
Ele se revelou gradualmente, na medida em que se desenvolvia, e ainda não se pode considerá-lo como consolidado, por não ter completado sua evolução.
O comunismo – e conseqüentemente a
sua essência – está constantemente mudando de uma forma para outra. Sem essa
mutação, ele não poderia sequer existir.
A teoria de que o comunismo atual é
uma forma de totalitarismo moderno é a mais difundida e a mais exata. O
comunismo contemporâneo é uma forma de totalitarismo que consiste em três
fatores básicos para o controle do povo: o primeiro é o Poder, o segundo é a
Propriedade, e o terceiro, a Ideologia. São monopolizados por um único partido
político. Uma Nova Classe. Nenhum sistema totalitário na História conseguiu
reunir, ao mesmo tempo, todos esses fatores para exercer sobre o povo tal grau
de domínio. A única exceção é o comunismo.
Quando se examinam e se pesam esses
três fatores, verifica-se que o Poder é o que desempenha o papel mais
importante no desenvolvimento do comunismo. Pode ser dito que o Poder, seja
material, intelectual ou econômico é parte de toda luta e de toda ação social
humana. Todavia, o comunismo contemporâneo não é apenas o Poder. É algo mais,
pois une em si o controle das idéias, da autoridade e da propriedade.
Mas o Poder é o mais importante: na
revolução ele é necessário para tomar o governo; na construção do socialismo,
para criar um novo sistema; e hoje o Poder preserva esse sistema. Entretanto,
devido ao fato de estar se extinguindo como ideologia, o comunismo busca manter
o Poder como meio de controle do povo. Além disso, o Poder é tanto um meio como
um objetivo para os comunistas, a fim de que possam manter seus privilégios e
seu “direito” de propriedade, pois é somente por meio do Poder que a
propriedade pode ser exercida.
O Poder é o alfa e ômega do comunismo contemporâneo. Idéias,
princípios filosóficos, considerações morais, a Nação e o povo, sua história,
em parte até mesmo a propriedade, podem ser sacrificados e alterados, mas não o
Poder, pois isso significaria a renúncia do comunismo à sua própria essência. O
Pode é tanto a fonte como a garantia dos privilégios, e por meio dele
exercem-se os privilégios materiais e o direitode propriedade da classe
dominante sobre os bens nacionais. Em suma, o Poder determina o valor das
idéias e suprime ou permite a expressão delas.
Dessa forma, o Poder do comunismo contemporâneo difere de todos os
outros tipos de Poder, e o comunismo difere de todos os demais sistemas
conhecidos, pois tem que ser totalitário, exclusivista e isolado, precisamente
porque o Poder, como já foi explicitado, é o seu elemento essencial.
Finalmente, afirmar que o comunismo
contemporâneo representa a transição para alguma outra coisa que ainda não se
conhece, não explica nada e não leva a nenhum resultado, pois todas as coisas
estão em transição para algo diferente.
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O texto acima é mais um resumo de um
dos capítulos do livro “A Nova Classe”, de autoria de Milovan Djilas, um dos
dissidentes e contestadores dos regimes comunistas. Foi Ministro,
Vice-Presidente e principal teórico do Marechal Tito, na Iugoslávia. Desiludido
com as propostas do Stalinisno e mesmo com a linha política adotada por seu
país, foi afastado de suas funções no governo e expulso do Comitê Central da
Liga dos Comunistas da Iugoslávia. Esteve preso por um período de 3 anos,
quando escreveu “A Nova Classe”, numa época em que, segundo ele,“acreditava
ainda poder ser um comunista, permanecendo, ao mesmo tempo, um homem livre”
Carlos I. S.
Azambuja
Historiador.
Alerta Total – www.alertatotal.net
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