sexta-feira, 18 de março de 2016

Patronais se movimentam da sua conveniente letargia

Martim Berto Fuchs

Já estava passando da hora, e ainda assim, quem se rebelou foi o pessoal do escritório das multinacionais no Brasil, a FIESP. Resolveram mostrar sua inconformidade com a Corte[1], da qual fazem parte, pendurando uma faixa no seu prédio na avenida Paulista, com os dizeres: “Renúncia Já”. E também, desde quarta à noite, o prédio está colorido com as cores da nossa bandeira, fazendo fundo à “Renuncia Já”.

A industrialização no Brasil perdeu sua oportunidade quando D.Pedro II e os ex-escravagistas, então rentistas, desbancaram o industrial Irineu Evangelista de Souza, e impuseram o modelo de economia que passaria a vigorar até hoje: subserviência ao capital e ao emprego sem trabalho, em detrimento à geração de emprego através do trabalho e da produção. 

Temos milhares de Associações Comerciais Industriais. Pelo menos uma centena de Federações e mais um tanto de Confederações patronais. Precisou os governantes que eles apoiaram até ontem perder completamente a sensatez, para que os “nossos patronais” tomassem um decisão, decisão ainda assim, até o momento que escrevo, pífia, medrosa e insuficiente.

Nossos governos de direita já deixavam muito à desejar. Nossos governos de esquerda, então, cada vez que assumem a chave do cofre, desmancham com os pés o pouco que os outros fizeram com a cabeça.

Em tudo isso, o centro da atenção deveria ser o trabalhador, aquele que trabalha, e que à cada nova crise fabricada pelos que detém o poder, é o primeiro a ser sacrificado. Agora mesmo, são dispensados aos milhões, porque nossos “governantes” do momento, incomPeTentes de carteirinha, mas até ontem apoiados pelos patronais, se recusam à tomar medidas mínimas para consertar o desequilíbrio das suas contas. Isto para simplificar a questão, pois o problema vai muito além de apenas cuidar de ajuste fiscal.

Desde que o ditador Getúlio Vargas, conhecedor da elite que tínhamos e temos, implantou a legislação trabalhista no Brasil optando pelo modelo do seu co-irmão italiano, ditador Mussolini, em vez da legislação alemã, foi adotado o regime paternalista, com o Estado “tomando conta” dos trabalhadores, “cuidando” deles através dos sindicatos pelegos.

Já tínhamos um funcionalismo público, faça chuva ou faça sol, com emprego garantido - lei imperial para proteger os parceiros de exílio -, e passamos à ter também a proteção do emprego independente de trabalho, com a legislação imposta pelo novo imperador, agora chamado de presidente, valendo também para a iniciativa privada.

Os milhares de empresários alheios à Corte não merecem a elite que temos. São tão vítimas quanto os trabalhadores, mas tem parcela de culpa, por não se insurgirem contra àqueles colegas empresários que acabam tomando conta das Associações, das Federações e das Confederações patronais.

São estes empresários que precisam compreender de uma vez por todas, que o inimigo não é o trabalhador manobrado pelos sindicatos pelegos. Os inimigos à serem combatidos incansavelmente, são aqueles que chegam ao poder, controlam, usam e abusam do Estado em seu proveito.

Os empresários fora da Corte, que são a maioria em número de empresas e de empregados, embora não sejam em faturamento, precisam se aliar aos trabalhadores e criar uma nova estrutura, de parceria, sem antagonismo, e cuidar do interesse de ambos.

Está provado e comprovado, que a estrutura existente no Brasil, que vem desde o império, só beneficia os membros da Corte, uma minoria, e os empregados no setor público, também uma minoria, pois até os trabalhadores das empresas beneficiadas e sócias do erário público, em cada crise, perdem seus empregos pela falta de trabalho.

Com a taxa de juro paga para manter os rentistas satisfeitos, conseqüência direta dos gastos do governo, eternamente maiores que as receitas, não há empresa, se não houver vendas, que possa bancar a folha de pagamento, e ainda ter que entregar para os coletores de um governo mercenário, impositivamente, sob pena de prisão, 40% sobre o que consegue faturar.

Empresa, no Brasil, que entrar em banco, assina seu atestado de óbito. A diferença é que os empresários membros da Corte, quando suas empresas vão à falência, ficam mais ricos. Os que não participam das benesses, empobrecem.

Portanto, unam-se aos seus trabalhadores e passem à exigir mudanças radicais, independente da faixa luminosa no prédio das multinacionais na avenida Paulista. Esses, quando for trocada a guarda do Palácio do Planalto, retiram a faixa e continuam pelo mesmo caminho que vem trilhando há décadas. Se o inquilino do palácio não os prejudica diretamente com as asneiras esquerdistas e suas teorias discutidas entre um trago e outro, para eles está bom.

Privilégios não combinam com liberdade e democracia. Perdem os trabalhadores não protegidos com o guarda-chuva do Estado, e todas suas empresas, que são a maioria. Uns com a perda do emprego. Outros, com a perda da empresa. Ambos, vítimas da irresponsabilidade e insensibilidade do que chamamos de elite.

[1]Corte: composta pelos descendentes da antiga “nobreza”, todos encastelados como “funcionários públicos” com garantia de emprego sem trabalho; pela burguesia rentista, e industrial formada com capital dos cofres públicos – privatização do lucro e socialização do prejuízo; e pelos novos parasitas, os sindicalistas pelegos, defensores do capitalismo de estado mantido com empréstimo externo e se não conseguir, com impressão de papel-moeda, e para completar, defensores incondicionais do emprego sem trabalho. Todos unidos na Corte pelo “bem” do Brasil.


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