Marcia
Rozenthal
Talvez
seja pretensioso iniciar um texto citando alguém como Albert Einstein. Mas, o
motivo de tal referência é manifestar, humildemente, de onde olho o tema sobre
o qual escrevo. Não cito as palavras, mas uma ideia.
Perguntado
sobre por que foi ele quem concebeu a teoria da relatividade, Einstein teria
atribuído ao fato de ser uma criança no corpo de um adulto. Uma criança não tem
vícios ou freios para fazer perguntas e por isso, no seu caso, foi original. Eu
olho para todas as questões jurídicas que estão vindo sistematicamente à tona
como leiga. Em função disso, me atrevo a dizer exatamente o que entendo e a
manifestar livremente as minhas apreensões.
Assisti,
mesmerizada, a toda a reunião ocorrida na sede da OAB, quando deliberavam sobre
a abertura do processo de impeachment contra a presidente(a) Dilma. Já volto a
esse assunto.
Hoje
li na imprensa que o Ministro da Justiça, Eugênio Aragão, fez ameaças ao juiz
Sérgio Moro, à força tarefa da Lava Jato e à Polícia Federal. Li também, em
alguns editoriais de grandes jornais do Rio e São Paulo, críticas à essa
Operação, quando na realidade deveriam gritar bem alto que “se faça justiça,
finalmente”.
A
minha biruta sugere que está havendo uma mudança na direção dos ventos.
Me explico. Na reunião da OAB, embora tenha
sido quase unânime a decisão de que a presidente(a) precisa ser investigada,
ouvi ferrenhas e pesadas ponderações sobre a atuação do juiz Sérgio Moro na
condução da Operação Lava Jato. Pareciam, na minha opinião, discutir e
deliberar sobre conceitos desprovidos de corporeidade, ignorando a realidade
dos fatos, que é dura, crua e feia. Nesta mesma linha, na imprensa houve quem
opinasse que as delações premiadas ocorressem após “torturas psicológicas”, já
que os réus estavam presos.
Se pudesse acrescentar algo neste momento,
colocaria aquele emoticon da carinha com os
olhos arregalados. Mas, não sei fazê-lo.
A
corrupção é uma das principais causas de pobreza no mundo. É um crime grave. Se
fôssemos colocar na conta dos denunciados o número de assassinatos de pessoas e
de cérebros que cometeram, direta ou indiretamente, por falta de policiamento,
saúde, educação, a pena de suas vidas na cadeia não bastaria.
Como
pode alguém se preocupar, nesse momento, com a “tortura psicológica” causada
pelo confinamento, que leva criminosos a revelar as entranhas de um esquema
dessa magnitude?? (emoticon com olho arregalado de novo).
Alguém
foi preso nessa operação sem uma acusação devidamente embasada?
Acham realmente que alguém resolveria,
junto aos seus experientes advogados, ir espontaneamente à sede da Polícia
Federal, pedir por favor um horário marcado e comparecer para narrar as histórias
de terrorprotagonizadas por si?
Desculpem;
julgo que corruptos deste calibre deveriam ser julgados e investigados tal qual
o são os terroristas. Não por espalharem
o medo, pois preferem a surdina e o anonimato, mas pelo número de mortes,
mutilações e danos que causam por agirem em “organizações” estruturadas e complexas
que precisam ser destrinchadas e aniquiladas.
A nação está indignada, combalida por
tantas reviravoltas, entretanto, como eu disse em um
artigo anterior, se descobrindo.
O
brasileiro, que sempre foi tido como “malandro”ou “corrupto”, talvez assim se
portasse por só ter como modelos esses tipos de personagens. Esses eram os que
chegavam ao topo da pirâmide dos poderes no Brasil. Sempre houve impunidade
aqui.
O
brasileiro se acostumou a pagar por serviços porcos, sujos e degradados, a
comprar facilidades por só encontrar dificuldades e incompetência a sua frente.
Se adaptou à situação de vulnerabilidade, por nunca ter com quem reclamar.
O
brasileiro aprendeu de forma equivocada as regras de boas maneiras e de
civilidade.
Mas, por baixo desta couraça dura que
precisou criar, o brasileiro se descobriu como pessoa digna, que sabe torcer
pelo bem, que é grata quando respeitada e bem atendida. E que deseja a
liberdade para se expressar sem medo.
O
brasileiro descobriu o verde e amarelo fora dos campos de futebol!
O brasileiro derrama, em silêncio, lágrimas
de emoção, e se comove ao ver, pela TV, a justiça lutando por ele. Isso deveria
ser normal, mas não era.
Sérgio
Moro, Deltan Dallagnol, Carlos Fernando e toda a força tarefa da Lava Jato
sempre se apresentam como pessoas sérias, sem afetações e compromissados com
seus trabalhos. As equipes incansáveis da polícia federal cumprem com firmeza
as suas missões. Escutamos, pela primeira vez, pessoas públicas que respondem
às perguntas que lhes são dirigidas diretamente, sem evasivas.
Que
diferença para as respostas que dão Dilma e Lula, cada vez gritando mais alto
para serem ouvidos. Mas, nada dizem de inteligível ou de útil para o povo.
Nitidamente falam para si próprios enquanto ferem nossos tímpanos e agridem
nossas instituições.
Penso
que quem manifesta medo de um “país policializado” (não sei se essa palavra
existe, mas ouvi) e de um juiz “arbitrário”, mas não se preocupa com o poder de
destruição de uma cruenta quadrilha de bolivarianos que atua impunemente dentro
de nosso território, e que quer se perpetuar a todo o custo (“fazendo o
diabo”), não está olhando para o povo com sensibilidade. Entendo que Sérgio
Moro é duro, mas é peculiar o caso que ele está cuidando. A lida é com o mal
absoluto.
É notório o envolvimento de criminosos
poderosos na Operação Lava Jato. Por consequência, há muitos interessados em
desmantelar esta operação, como ocorreu na Itália com a Operação Mãos Limpas.
Minha biruta, como disse anteriormente, aponta nessa direção.
Rogo que
o povo brasileiro fique atento a esse perigo e não relaxe a vigilância.
E, se pudesse, dirigiria um pedido especial
à OAB, porque respeito essa entidade. Esse mesmo governo que vocês estão
querendo investigar é o maior interessado no fim desta Operação. Ele está
começando a tentar desmantelar esse grupo no nosso imaginário com acusações, e
ameaças de um futuro negro. Depois, temo que o farão na realidade.
Entendo
que vocês foram treinados e atuam lutando pelos direitos de seus clientes. Os
promotores olham para os deveres. Os juízes fazem o julgamento. Não os ataquem,
pois eles estão fazendo neste momento o que nossa sociedade mais precisa.
Acabar com o privilégio dos direitos sobre os deveres, do crime sobre a
impunidade, equação que vem triturando a moral desta nação. Bato nesta tecla
sistematicamente porque também faço parte dessa sociedade, e tenho
sensibilidade para entender que ela clama por justiça e respeito. Parem e pensem
como brasileiros que sei que são. Porque vocês e seus descendentes também
viverão num país melhor.
Peço
de coração que tenham a grandeza e a sensibilidade de aceitar que Sérgio Moro
representa a única esperança que surgiu em tantos anos neste país. Ele
conseguiu tirar o Brasil de um estado letárgico e unir o povo, que voltou a
acreditar na justiça, no bem. Seja como for, é a pessoa certa, no lugar certo,
na hora certa.
Nosso
país carece de figuras públicas com essa verve, fibra e coragem. Esse grupo da
Lava jato é exemplo de brasileiros que queremos mostrar aos nossos filhos.
Trabalham
com afinco e honram o salário que sabem receber de nós. Como faria um médico
que trata de adultos, eles expõem, com transparência, as entranhas deste país,
para sanar a principal doença que o corrói. Estamos conscientes de nossa
moléstia pela primeira vez na história, e dispostos a enfrenta-la, mesmo com
dor.
O
mínimo que podemos dar a eles, para que sigam em frente, é um voto de confiança
e a segurança de nosso apoio. Por nossos filhos e netos.
Marcia
Rozenthal
Neuropsiquiatra
e professora da Escola de Medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro
Instituto
Liberal
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