terça-feira, 22 de março de 2016

A operação Lava-a-Jato é do Brasil verde e amarelo


Marcia Rozenthal

Talvez seja pretensioso iniciar um texto citando alguém como Albert Einstein. Mas, o motivo de tal referência é manifestar, humildemente, de onde olho o tema sobre o qual escrevo. Não cito as palavras, mas uma ideia.

Perguntado sobre por que foi ele quem concebeu a teoria da relatividade, Einstein teria atribuído ao fato de ser uma criança no corpo de um adulto. Uma criança não tem vícios ou freios para fazer perguntas e por isso, no seu caso, foi original. Eu olho para todas as questões jurídicas que estão vindo sistematicamente à tona como leiga. Em função disso, me atrevo a dizer exatamente o que entendo e a manifestar livremente as minhas apreensões.

Assisti, mesmerizada, a toda a reunião ocorrida na sede da OAB, quando deliberavam sobre a abertura do processo de impeachment contra a presidente(a) Dilma. Já volto a esse assunto.

Hoje li na imprensa que o Ministro da Justiça, Eugênio Aragão, fez ameaças ao juiz Sérgio Moro, à força tarefa da Lava Jato e à Polícia Federal. Li também, em alguns editoriais de grandes jornais do Rio e São Paulo, críticas à essa Operação, quando na realidade deveriam gritar bem alto que “se faça justiça, finalmente”.

A minha biruta sugere que está havendo uma mudança na direção dos ventos.
Me explico. Na reunião da OAB, embora tenha sido quase unânime a decisão de que a presidente(a) precisa ser investigada, ouvi ferrenhas e pesadas ponderações sobre a atuação do juiz Sérgio Moro na condução da Operação Lava Jato. Pareciam, na minha opinião, discutir e deliberar sobre conceitos desprovidos de corporeidade, ignorando a realidade dos fatos, que é dura, crua e feia. Nesta mesma linha, na imprensa houve quem opinasse que as delações premiadas ocorressem após “torturas psicológicas”, já que os réus estavam presos.
Se pudesse acrescentar algo neste momento, colocaria aquele emoticon da carinha com os olhos arregalados.  Mas, não sei fazê-lo.

A corrupção é uma das principais causas de pobreza no mundo. É um crime grave. Se fôssemos colocar na conta dos denunciados o número de assassinatos de pessoas e de cérebros que cometeram, direta ou indiretamente, por falta de policiamento, saúde, educação, a pena de suas vidas na cadeia não bastaria.

Como pode alguém se preocupar, nesse momento, com a “tortura psicológica” causada pelo confinamento, que leva criminosos a revelar as entranhas de um esquema dessa magnitude?? (emoticon com olho arregalado de novo).

Alguém foi preso nessa operação sem uma acusação devidamente embasada?
Acham realmente que alguém resolveria, junto aos seus experientes advogados, ir espontaneamente à sede da Polícia Federal, pedir por favor um horário marcado e comparecer para narrar as histórias de terrorprotagonizadas por si?

Desculpem; julgo que corruptos deste calibre deveriam ser julgados e investigados tal qual o são os terroristas. Não por espalharem o medo, pois preferem a surdina e o anonimato, mas pelo número de mortes, mutilações e danos que causam por agirem em “organizações” estruturadas e complexas que precisam ser destrinchadas e aniquiladas.
A nação está indignada, combalida por tantas reviravoltas, entretanto, como eu disse em um artigo anterior, se descobrindo.

O brasileiro, que sempre foi tido como “malandro”ou “corrupto”, talvez assim se portasse por só ter como modelos esses tipos de personagens. Esses eram os que chegavam ao topo da pirâmide dos poderes no Brasil. Sempre houve impunidade aqui.

O brasileiro se acostumou a pagar por serviços porcos, sujos e degradados, a comprar facilidades por só encontrar dificuldades e incompetência a sua frente. Se adaptou à situação de vulnerabilidade, por nunca ter com quem reclamar.

O brasileiro aprendeu de forma equivocada as regras de boas maneiras e de civilidade.
Mas, por baixo desta couraça dura que precisou criar, o brasileiro se descobriu como pessoa digna, que sabe torcer pelo bem, que é grata quando respeitada e bem atendida. E que deseja a liberdade para se expressar sem medo.

O brasileiro descobriu o verde e amarelo fora dos campos de futebol!
O brasileiro derrama, em silêncio, lágrimas de emoção, e se comove ao ver, pela TV, a justiça lutando por ele. Isso deveria ser normal, mas não era.

Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Carlos Fernando e toda a força tarefa da Lava Jato sempre se apresentam como pessoas sérias, sem afetações e compromissados com seus trabalhos. As equipes incansáveis da polícia federal cumprem com firmeza as suas missões. Escutamos, pela primeira vez, pessoas públicas que respondem às perguntas que lhes são dirigidas diretamente, sem evasivas.

Que diferença para as respostas que dão Dilma e Lula, cada vez gritando mais alto para serem ouvidos. Mas, nada dizem de inteligível ou de útil para o povo. Nitidamente falam para si próprios enquanto ferem nossos tímpanos e agridem nossas instituições.

Penso que quem manifesta medo de um “país policializado” (não sei se essa palavra existe, mas ouvi) e de um juiz “arbitrário”, mas não se preocupa com o poder de destruição de uma cruenta quadrilha de bolivarianos que atua impunemente dentro de nosso território, e que quer se perpetuar a todo o custo (“fazendo o diabo”), não está olhando para o povo com sensibilidade. Entendo que Sérgio Moro é duro, mas é peculiar o caso que ele está cuidando. A lida é com o mal absoluto.
É notório o envolvimento de criminosos poderosos na Operação Lava Jato. Por consequência, há muitos interessados em desmantelar esta operação, como ocorreu na Itália com a Operação Mãos Limpas. Minha biruta, como disse anteriormente, aponta nessa direção.

Rogo que o povo brasileiro fique atento a esse perigo e não relaxe a vigilância.
E, se pudesse, dirigiria um pedido especial à OAB, porque respeito essa entidade. Esse mesmo governo que vocês estão querendo investigar é o maior interessado no fim desta Operação. Ele está começando a tentar desmantelar esse grupo no nosso imaginário com acusações, e ameaças de um futuro negro. Depois, temo que o farão na realidade.

Entendo que vocês foram treinados e atuam lutando pelos direitos de seus clientes. Os promotores olham para os deveres. Os juízes fazem o julgamento. Não os ataquem, pois eles estão fazendo neste momento o que nossa sociedade mais precisa. Acabar com o privilégio dos direitos sobre os deveres, do crime sobre a impunidade, equação que vem triturando a moral desta nação. Bato nesta tecla sistematicamente porque também faço parte dessa sociedade, e tenho sensibilidade para entender que ela clama por justiça e respeito. Parem e pensem como brasileiros que sei que são. Porque vocês e seus descendentes também viverão num país melhor.

Peço de coração que tenham a grandeza e a sensibilidade de aceitar que Sérgio Moro representa a única esperança que surgiu em tantos anos neste país. Ele conseguiu tirar o Brasil de um estado letárgico e unir o povo, que voltou a acreditar na justiça, no bem. Seja como for, é a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa.

Nosso país carece de figuras públicas com essa verve, fibra e coragem. Esse grupo da Lava jato é exemplo de brasileiros que queremos mostrar aos nossos filhos.

Trabalham com afinco e honram o salário que sabem receber de nós. Como faria um médico que trata de adultos, eles expõem, com transparência, as entranhas deste país, para sanar a principal doença que o corrói. Estamos conscientes de nossa moléstia pela primeira vez na história, e dispostos a enfrenta-la, mesmo com dor.

O mínimo que podemos dar a eles, para que sigam em frente, é um voto de confiança e a segurança de nosso apoio. Por nossos filhos e netos.

Marcia Rozenthal
Neuropsiquiatra e professora da Escola de Medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Instituto Liberal



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