sábado, 19 de março de 2016

Empresários veem país à deriva e pedem solução

Paulo Silva Pinto

Lideranças querem ação rápida das instituições para evitar colapso da economia. Ausência de representantes do setor na posse de Lula chama a atenção

Vai longe o tempo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era carregado nos braços dos empresários. Fosse em outra época, a posse dele como ministro-chefe da Casa Civil teria a presença do comando de companhias responsáveis por, pelo menos, metade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Ontem, não havia nenhum empresário de relevo no Planalto. Mais do que isso, vários dos líderes veem o país à deriva, e defendem abertamente o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, disse que não poderia ter ido à posse de Lula porque a cerimônia foi marcada na última hora. A agenda o obrigou a passar a manhã no Espírito Santo e a tarde em São Paulo. “Não sei se fui convidado. Mas, se fosse, também não sei se iria”, disse. “A presença acaba mostrando apoio. Neste momento, é preciso que o governo faça algo que nos tire da situação em que estamos para voltar a ter a aprovação dos empresários.”

A CNI publicou ontem nota com o título “Comunicado à Nação”, na qual destacou que “o país vem sendo duramente prejudicado pela paralisia decisória que o afastou do caminho do crescimento, provocando o aumento do desemprego, a elevação da inflação e o fechamento de empresas”. Sem falar em impeachment, a CNI diz esperar solução rápida por parte das instituições, “principalmente o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), com apoio e participação da sociedade”.

Andrade afirmou que a entidade não aponta o fim do mandato de Dilma como uma solução, mas admite que as mudanças necessárias ao país podem passar pela substituição da chefe de Estado. “Não nos cabe posicionamento a favor do impeachment. Mas não podemos ter um governo fraco, sem capacidade de implantar as medidas necessárias. Talvez tenha de trocar”, afirmou.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e a de São Paulo (Fiesp) optaram por uma posição mais contundente em favor do impedimento de Dilma. As duas entidades promoveram ontem uma reunião da qual participaram representantes das entidades do Paraná e do Espírito Santo. “Não somos ligados a partidos, mas temos uma posição. É impensável passarmos mais três anos na situação em que estamos hoje”, disse o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.

A Fiesp, presidida por Paulo Skaf, filiado ao PMDB, transformou a sede na Avenida Paulista, em São Paulo, em um dos principais pontos de concentração de manifestantes contra o governo. A fachada do prédio é forrada por lâmpadas que alternam as cores verde e amarela e a palavra impeachment em fundo negro. “Lula fez um primeiro mandato muito bom, com distribuição de renda. Mas depois descambou para o populismo”, afirmou Vieira. Ele disse que não aparece no Palácio do Planalto desde que Dilma é presidente. “Ela não é exatamente uma pessoa que goste de ouvir os empresários”, observou.

Gravações

Dilma começou a se afastar do empresariado em 2012, ao forçar a redução das tarifas de energia elétrica. Mesmo tendo inicialmente beneficiado as empresas industriais, a medida foi vista como intervencionista. Depois, veio a redução da taxa de retorno nos leilões de privatização de rodovias, que resultou em certames sem candidatos. O aumento dos gastos públicos em 2014, para garantir a reeleição, isolou-a de vez das lideranças empresariais.

Para Andrade, da CNI, a presença de Lula no governo dificilmente vai contribuir para salvar o mandato da presidente. “Poderia achar isso antes, mas, depois das gravações que vieram a público, fica muito difícil pensar assim”, disse. Além de empresários, outras ausências foram notadas no evento, como a do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que já confidenciou a intenção de deixar o governo se a política econômica mudar. A assessoria do BC explicou que ele não costuma ir a posses de ministros que não sejam da área econômica.

O embaixador aposentado Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty, foi à cerimônia e disse que a ausência de empresários não significa um distanciamento do ex-presidente. “É claro que eles não estão contentes com a redução de lucros, e os trabalhadores não estão satisfeitos com a queda na renda”, afirmou. Crime de responsabilidade fiscal.

Correio Braziliense



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