Ney Lopes
Ninguém
pode negar ter sido surpreendente a amplitude das manifestações deste domingo,
13, em todos os estados do país.
A
exemplo dos protestos que eclodiram no mundo árabe, a partir do final de 2010,
o povo brasileiro foi às ruas e clamou por mudanças profundas, numa espécie de
“primavera latina”.
O
rescaldo político é de que as chamas alcançaram não apenas o governo federal,
mas toda a classe política, principalmente o Congresso Nacional.
Essa
a conclusão notória, que certamente a classe política não admitirá, porém é
verdadeira à luz do meio dia.
Para
comprovar a rejeição generalizada ao governo e aos legisladores bastaria
mostrar as vaias e apupos dirigidos a políticos, independente de partidos, que
ousaram ir às ruas.
Fato
emblemático foi à presença percebida no meio da multidão de uma das cidades, de
um cidadão, parado numa esquina, com cartaz, no qual se lia a seguinte
mensagem:
Não acompanho
vocês porque
não quero Michel Temer como presidente;
Não quero
Eduardo Cunha como vice;
Não há
nenhuma proposta além dessa troca;
Quem está
pedindo o fim da corrupção também é corrupto.
Eu
acompanharia vocês se a
demanda fosse a renuncia coletiva da presidência, do Congresso e do Senado;
A proposta
fosse uma reforma política radical;
A
reivindicação fosse à mudança do sistema político;
O pedido
fosse o fim do voto de legenda.”
O
anônimo tem razão!
A
partir deste domingo ficou evidenciado que a presidente Dilma Rousseff perdeu
completamente as condições de governabilidade e o Congresso Nacional a
legitimidade do exercício dos mandatos dos seus membros.
Não
adianta insistir na busca do impossível, que seria um pacto nacional, por já
ter passado a hora.
Esse
era o caminho, a exemplo da Concertácion chilena e do Pacto
de Moncloa da Espanha.
Todavia,
para alcançar esse objetivo, o país necessitaria de estadistas, o que todos
sabem não existirem, no momento nacional.
E
agora? Depois do que se viu neste domingo, como será o dia seguinte?
Difícil
responder. Muitos fatores influem numa definição de alternativa, dentro da
legalidade, para salvar o país do abismo.
Fala-se
em parlamentarismo, semiparlamentarismo, governo repartido com as oposições e
tantas outras propostas.
Permita
o internauta arriscar um “palpite”.
O
Brasil clama um Grande Gesto!
A
luz no final do túnel poderia ser enxergada, a partir de uma decisão elevada e
digna da Presidente Dilma Rousseff.
Não
se trata de renuncia.
A
Presidente, ciente do que acontece e a certeza de que vem fazendo o que lhe é
possível, reconheceria perante o país, que chegou a hora
de reformas e mudanças profundas, definitivas e inadiáveis.
A
partir dessa convicção, a chefe do governo enviaria ao Congresso Nacional
proposta de convocação de uma Constituinte originária para reformular, o hoje
estraçalhado sistema jurídico brasileiro.
Sem
uma Constituinte, em curto prazo, o país será inviável, com as crises políticas
sendo realimentadas, periodicamente.
O
gesto de grandeza envolveria igualmente o Congresso, que deliberaria sobre a
convocação de eleições gerais de Presidente, vice, deputados e senadores, o que
poderia até ser conciliado, em termos de datas, com as eleições municipais.
Com
esse gesto, em nome da estabilidade nacional, presidente e congressistas
reconheceriam que o país necessita ser passado a limpo, para a tranquilidade de
todos.
Apenas,
um sonho?
Talvez
seja!
Porém,
é bom lembrar o Papa Francisco já recomendou: “Tenha coragem. Não tenha medo
de sonhar coisas grandes!”.
Ney Lopes
Jornalista, ex-deputado federal; procurador federal; ex-presidente do Parlamento
Latino-Americano, e professor de Direito Constitucional da UFRN – nl@neylopes.com.br –www.blogdoneylopes.com.br
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