quarta-feira, 30 de março de 2016

Nosso presidencialismo e seus candidatos de bolso de colete

Martim Berto Fuchs

Nos EUA, pelo menos eles tem prévias, que, bem ou mal, permitem aos filiados interferir na escolha do candidato de cada partido. Digo bem ou mal, pois o que acaba interferindo como peso maior é o dinheiro que o candidato a candidato dispõe para bancar as primárias.  Lá, para um candidato ganhar a vaga sem dinheiro, ele terá que ser um fenômeno, e já vimos que mesmo assim eles não gostam muito de fenômenos contrários, pois se o candidato não dançar de acordo com a música de quem toca, ele morre. Já assassinaram dois presidentes e três candidatos com chances de ganhar.

Eles tem também, pela legislação, candidatos independentes. Nenhum independente ganhou até hoje e se ganhar, não governa. Os dois únicos partidos que contam não apoiarão um independente, se eleito. Mesmo assim, para a eleição deste ano, os EUA já tem 1.528 pessoas inscritas, sem partido, para disputa da Presidência.

Aqui, nos EUB (já começamos aí em segundo), Estados Unidos do Brasil, a coisa é bem pior. Os candidatos são escolhidos nos porões dos Palácios, em conchavos de elite. Primeiro medem a probabilidade de um deles vencer, qualquer um, sendo um dos principais requisitos a capacidade de iludir os eleitores otários, ou, falar bem sem nada dizer, falar de forma a emocionar os incautos, sem comprometer-se, pois já sabem de antemão que nada do que estará prometendo poderá ser cumprido.

Concorrem desde já ao ambicionado cargo de candidato à Presidente da res pública dos EUB, os velhos conhecidos, alguns já velhos. José Serra, Geraldo Alkmin, Álvaro Dias, Aécio Neves, Luiz Inácio da Silva, Marina Silva, e mais alguns que aproveitam a oportunidade para aparecer na foto, como Ciro Gomes.

José Serra e Geraldo Alkmin, ainda estão na disputa porque a justiça de 1º grau em SP está dormindo, para dizer o mínimo.
Aécio Neves à cada dia que passa é menos candidato. A operação Lava Jato está apertando o cerco e ele está caindo fora assim como quem não está nem aí.
Luiz Inácio será candidato se não estiver preso, ou, se depender dos ministros indicados pelo PT para o STF (8 dos 11), ele concorre até preso e se eleito, governa da cadeia. Afinal, Fernandinho Beira-Mar também governa da cadeia e se dá muito bem.
Desse time, restam Marina Silva e Álvaro Dias, aparentemente sem contas à acertar com a justiça e Ciro Gomes, com passagem por todos partidos e agora fazendo hora no PDT, antes que esse partideco de aluguel desapareça.

Qualquer um dos três, se eleito, com seus partidos nanicos, não governa sem base aliada, que prefiro nominar como base enlameada. E aí começa a podridão. Quer dizer, já começa com o método de escolha, conchavos, e segue com a escolha de aliados. É nesta parte da nossa história pouco republicana, que finalmente aparece a utilidade das estatais.

Como os eleitos precisam pagar promessas de campanha para seus apoiadores mais substanciais, além de honrar o compromisso assumido com os donos do partido, eles dividem entre os “credores”, o usufruto do caixa das empresas estatais, além de acomodar para as próximas eleições, toda sua grande família (cabos eleitorais, parentes, amantes e amigos).

Em artigo assinado por Eiiti Sato, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (veja aqui), ele questiona o por que de nossas lideranças em todas as áreas não se integrarem à disputa por cargos eletivos. Com todo respeito professor, esse questionamento só pode partir de quem está alheio de como funciona a escolha de candidatos à cargos eletivos no Brasil.

Os partidos políticos tem por lei essa prerrogativa e só permitem que pessoas bem intencionadas se candidatem para disputar a vereança.  Esses bem intencionados, de ficha limpa na cidade, servem para branquear a lista suja que emerge dos partidos e com isso atrair simpatia dos incautos. Se eleitos, das duas uma: ou se dobram às exigências do partido, dono do passe, ou vão para a geladeira. Terão por adversários os próprios membros do partido. Acima de vereador, para qualquer cargo eletivo, só terá acesso se já rezar pelo “programa” não publicado de cada partido e que não varia muito de partido para partido, pois os donos só tem um objetivo: poder e dinheiro à qualquer preço.

Candidatos independentes. Mantendo este nosso sistema político, será mais uma ilusão e servirá apenas para iludir e desencorajar ainda mais os eleitores, boa parte ignorante em política, e grande parte ignorante em tudo.

A democracia, como entendo que deva ser exercitada, deve começar por anular essa falsa premissa de que não pode existir sem a intermediação de partidos políticos.

A democracia não só pode existir sem os partidos políticos, como para existir, deve prescindir dos mesmos. Ideologias, dogmas e mantras só fazem mal à ela. Aqui ou em qualquer país. As divergências podem e devem ser resolvidas na mesa de negociação, em torno do que seja melhor para o todo, e para que isto aconteça, as pessoas não precisam estar fardadas com uniformes de partidos e uma claque contratada agitando bandeirolas.


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