segunda-feira, 7 de março de 2016

O povo NÃO tem o governo que merece

Martim Berto Fuchs

Atribui-se ao filósofo, escritor e diplomata francês Joseph de Maistre, defensor da Contrarrevolução Francesa, a citação: “O povo tem o governo que merece”.

De pronto afirmo que o povo só terá o governo que merece no dia que ele puder escolher os candidatos que vão concorrer à gestão da res pública. Até lá, é inculpado dos crimes cometidos pela classe dirigente, que ele foi obrigado à referendar por falta de opção.

Tomemos alguns exemplos:

1.O PMDB do RJ há anos toma conta da chave do cofre por onde tem uma rápida passagem a arrecadação pública. Digo rápida, porque antes de pensarem o que fazer com ela, já sumiu. Para onde foi, ninguém sabe ninguém viu.
Sérgio Cabral Fº, Luiz Pesão, Eduardo Paes, Jorge Picciani, escolhem entre si e determinam o candidato que o povo terá que referendar. Depois, bem, se a coisa der errada, a culpa é do povo que não sabe votar.

2.Em SP, o PSDB dá as cartas há 20 anos. José Serra, Geraldo Alkmin, Kassab, se revesam com a chave do cofre, tanto do estado como da cidade. Há uma pequena interrupção na cidade, com o apoio que Maluf deu “gratuitamente” para Lula emplacar o “brimo Haddad”. Enquanto falta água se não chover regularmente, o dinheiro se escoa pelos metrôs. Agora que o Kassab não está intermediando a eterna disputa entre Serra e Alkmin, cada qual tenta impor seu candidato a prefeitura: Andrea Matarazzo e João Dória Jr.. Ao povo só resta referendar quem ganhar a disputa entre eles. Ou, algum outro nome imposto, apenas que por outra quadrilha.

3.No PR, esclarecedora reportagem da Gazeta do Povo em 02/03/16., pelo colunista Celso Nascimento, nos mostra como são escolhidos os candidatos:
“Pragmático operador político, o deputado federal Ricardo Barros (PP) sabe como poucos antever e montar cenários que favoreçam o clã familiar que lidera. Com a devida antecedência, vai amarrando as pontas da meada para, ao final, se tudo der certo, acontecer o que ele almeja. Seu horizonte mais longínquo está fixado na eleição da mulher, a vice-governadora Cida Borghetti, para suceder o governador Beto Richa na eleição de 2018, mas ele também se mexe desde já para derrubar potenciais adversários e conquistar prefeituras importantes.”
De povo, nem cheiro.

4.Em SC, depois da decadência do clã Bornhausen & Konder, que não obstante mantém seus feudos nas empresas públicas, surgiu o domínio da família Amin. Perdidos por soberba, deram lugar à uma nova turma liderada pelo agora falecido Luiz Henrique da Silveira, aquele que como prefeito vendeu os imóveis da prefeitura de Joinville para investidores amigos, alugou-os em seguida, e com a grana conseguida fez obras para o município e plainou a estrada rumo ao Palácio em Florianópolis. Ninguém se perguntou porque ele não fez as obras com a arrecadação própria do maior município de SC.
Hoje, com a maior folha de pagamento do estado dentre todos municípios, o atual prefeito de Joinville passa o tempo administrando as greves dos sindicalistas com suas bandeiras vermelhas, incrustados no “funcionalismo público”, sempre atrás de melhores salários e maiores vantagens. Fazer uma faxina no inchaço da folha, nem pensar.

5.Na Bahia, depois do desaparecimento do ACM, seus descendentes não conseguiram manter a guarda da chave do cofre, que foi conquistada pelo “compositor” Jacques Vagner, amigo de botequim do capo Lula. Críticas e mais críticas. Quem se importa ?

6. No Pará, o grileiro Jader Barbalho dá as cartas e joga de mão. Nada acontece na sua sesmaria sem seu visto.  

E aí, nós povo, eleitores, eternos otários pagadores da conta da farra com o dinheiro público, promovida pelos escolhidos nessa caricatura de eleições, temos que ler e escutar, diariamente, que não sabemos votar. E portanto, que a culpa é nossa.

Neste nosso apodrecido sistema político, dominado pelas quadrilhas que se escondem sob o manto de partidos, os candidatos são escolhidos e impostos pelo seu prontuário e não pelo seu currículo. Pois quanto maior a folha corrida do candidato, mais o eleito se submete aos interesses da quadrilha, sem falar da sua própria participação na divisão do butim.

Não adianta intervir no processo político se isto não mudar.



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